O Beijo

6.1K 460 112
                                    

Duas semanas passam voando, pode acreditar. Em duas semanas muitas coisas podem acontecer: nascimentos, casamentos, mortes, acidentes, formaturas, empregos... todos os tipos de coisas que você pode imaginar.

Mas, para mim, duas semanas se passaram tão rápidas e totalmente inúteis que me sinto deslocada.

Minerva não conseguiu arrumar o vira-tempo ainda, mas não a culpo, porque era Dumbledore que tinha contatos em todos os lugares. Ela está perdida, de fato.

Passei essas duas semanas na Ala Hospitalar. Aparentemente a ferida não foi apenas superficial. Todos os dias, sem falta, os Marotos vinham me visitar. Nos três primeiros dias eu os mandei embora, mas depois mudei de ideia. A vida é muito curta para ficar se lamentando.

Agora eu estou guardando as minhas roupas, já que fui liberada. Eu já consigo falar, mas tenho que ficar tomando uma poção toda a noite, durante 1 mês. Estou colocando as roupas na bolsa, quando alguém aparece ao meu lado e eu levo o maior susto. Ergo o meu braço, já me preparando para o tapa na pessoa, mas a mesma segura a minha mão no ar.

ㅡ O que você está fazendo aqui? ㅡ pergunto, olhando para ele.

ㅡ Estou te acompanhando, meninas bonitas como você não podem andar sozinha em Hogwarts ㅡ reviro os olhos. Patético.

ㅡ Eu sei me cuidar, Sirius. ㅡ respondo.

ㅡ Sei... Você sabe tanto se cuidar que eu tive que te salvar do lobo, não é? ㅡ ele rebate. Desgraçado, ele tem razão.

ㅡ Olha, se você veio aqui para ficar esfregando na minha cara que você me salvou, que eu teria morrido se não fosse por você, pode ir embora ㅡ digo, parando de fazer a mala. Cruzo os braços quando olho para ele.

Sirius me encara. Seu olhar está perdido, como se estivesse pensando em outra coisa. Ou como se ele não estivesse aqui de verdade.

ㅡ Sabia que você fica linda assim brava? ㅡ ele sussurra, ainda com os olhos opacos.

Me lembro então do "sonho", quando estava no dormitório. O olhar de Sirius era o mesmo de Christian. Perdido. Vazio. Triste.

ㅡ Sai, Sirius! Eu não preciso da sua companhia. ㅡ digo, dando um passo para trás quando ele chega mais perto. Não por medo, mas por precaução.

ㅡ Não mesmo? ㅡ seu olhar opaco se esvai, dando lugar a um sedutor. De repente a cena de nós nos beijando se torna agradável e confortável. Porém, seria o meu primeiro beijo. Eu gostaria de desperdiçar assim? Ou gostaria que fosse especial?

Mas talvez assim fosse especial.

ㅡ Não ㅡ sussurro. Meus olhos me traem e meu olhar repousa em seus lábios. De repente não sinto mais dúvida, é isso o que eu quero. Me lembro do livro vazio e de como o homem amava a sua esposa. Será que ele já havia beijado outra mulher? Ou outro homem? Ou ele sempre soube o que sentia por ela?

Mas eu tenho catorze anos, ainda não preciso pensar nisso.

Sirius se aproximou mais e senti o perfume dele. Não sei qual é o cheiro, mas é bom. Ele passa a mão pelo meu rosto e eu sinto um arrepio passar pelo meu corpo. Não por nervosismo, mas porque nunca imaginei isso. Ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha. Me lembro então dos livros de romance que já li, em que o mocinho sempre fazia isso com a donzela. Mas ler e viver são coisas totalmente diferentes. Então finalmente sinto a pressão de seus lábios contra os meus. O meu coração dispara e a minha mente se torna um borrão. Não consigo me concentrar em nada além da boca dele na minha. O que devo fazer? O que se faz em um beijo? Eu não sei. Eu realmente não sei.

Nos livros, as personagens sempre sabem o que fazer, ou então falam que só seguem o seu parceiro. Eu não sei seguir nada. Eu estou congelada.

Sinto Sirius sorrir e se afastar levemente.

ㅡ Você precisa relaxar.

Pelo amor de Merlin, que vergonha. Sinto vontade de abrir a janela da Ala Hospitalar e me jogar.

ㅡ Desculpa.

Ele me olha com ternura e diversão. Que vergonha que vergonha que vergonha.

ㅡ Você não precisa se desculpar, Marina. Está tudo bem.

Abro um sorriso com isso. Achei que precisava agradá-lo, mas a verdade é que isso não importa. O que importa é como eu me sinto. Me sinto mais relaxada e mais calma agora, tendo em mente que se isso não der certo, está tudo bem.

ㅡ Quero tentar de novo. ㅡ digo com convicção. Ele me olha com espanto, mas depois sorri.

ㅡ Você não precisa fazer isso se...

Não espero ele terminar de falar e o beijo. Ele passa as mãos pela minha cintura e me aproxima, eu passo os meus braços pelo se pescoço. Me sinto mais calma com isso, então agora sim o acompanho. Faço tudo o que ele faz, mesmo a minha mente ainda sendo um borrão.

Eu sinto as minhas costas batendo na parede e não me importo com isso. Ele parece não se importar também. Passo as minhas mãos pelo seu cabelo e fico admirada sobre o quão macio é.

Me afasto quando acho que já está bom, ou então quando a minha mente finalmente volta a funcionar. Ele me olha com hesitação, talvez esteja esperando-me gritar ou algo do tipo.

ㅡ Qual o seu shampoo? ㅡ pergunto, ofegante.

ㅡ O quê?

ㅡ O seu shampoo, qual é?

Ele começa a tremer e fico preocupada. Então ele dá um passo para trás e começa a gargalhar alto. Ele põe a mão na barriga e se curva levemente para trás. Abro um sorriso com isso, mas eu realmente gostaria de saber a resposta.

Percebo que o clima ficou mais leve, com ele fazendo algumas piadas sobre o cabelo. Reviro os olhos em todas e em algumas até dou risada. Ele me ajuda a arrumar a mala e arrumar a cama. Saímos da Ala Hospitalar rindo, tudo parecia tão tranquilo. Então, quando chegamos na porta de entrada da Sala Comunal, ele me diz que precisa ir aos jardins para ajudar os garotos. Então eu o chamo.

ㅡ Sirius, eu não quero ser apenas mais uma.

Ele me olha confuso, mas eu dou as costas eatravesso o quadro da entrada.

A MarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora