Não Esqueci

"Filho × Arthur"

Após anotar três pedidos, retorno à cozinha e os entrego ao Enzo, que fez careta. Ele é o cozinheiro, ou o melhor, padeiro.

____Por que não os expulsou daqui? Já é oito horas, meu horário já deu! ____reclamou, suspirando.

____Acostume-se, caro amigo. Amanhã tem muito mais. ____eu ri do seu drama. ____Você viu a Jess?

____Deve estar flertando com um dos garotos da mesa sete, quer conferir?

Olhei em volta da padaria, encontrando-a com uma caneta nas mãos. Ela parecia anotar algo na mão de um garoto loiro da mesa sete, enquanto os outros dois admiravam seu bumbum. Arregalei meus olhos.

____Uau! ____me virei de volta para Enzo, que olhou aquilo como se não fosse novidade. ____Ela tem um bumbum enorme!

____Oh, se tem. ____riu.

Definitivamente, Jéssica é a garota mais bonita que conheci em minha vida. Loira original, dentes brancos e um corpo de dar inveja a qualquer um. Me pergunto o porquê dela não estar na faculdade, afinal, me disse uma vez que seus pais são ricos. Ela disse que quer fazer parte de uma banda de rock e virar tatuadora, e saiu de casa porque os pais não gostaram disso.

Enfim, o dinheiro não compra tudo.

____Ah, você viu aquele cara?! Ele não é lindo?! ____ela se aproximou de mim após se despedir do homem e apoiou os cotovelos no balcão de um modo que fizesse seu bumbum ficar maior ainda. ____E eu vi você de olho na minha bunda, Enzo.

Ele tirou uma fornada de roscas do forno e a olhou assustado.

____Eu... Eu não... ____gaguejou nervoso. Seu rosto começa a ficar vermelho.

____Estou brincando, bobinho! ____Jess dá um tapa em seu braço, rindo. ____Eu deixo você olhar o quanto quiser para mim, sabe que te amo!

Jess sempre foi assim, divertida e distraída. Gosto dela, é inteligente e esperta, além de ser muito boa amiga.

____E o seu baby, como está? ____ela me pergunta.

____Custoso. ____sorri. ____Mas está ótimo. Daqui um tempo está maior que eu.

____Ah, que lindo! ____ela fez um biquinho fofo. ____Quantos anos ele tem, mesmo?

Eu sorri ainda mais. Me lembro de quando Artur nasceu... Me senti a pessoa mais feliz do mundo. E se estou aqui, nessa padaria, todos os dias e trabalhando por um salário mínimo, é para poder dar o meu melhor à ele, com certeza. Ou eu faria isso, ou íamos acabar de baixo da ponte. Meus pais morreram há três anos, então ficamos só nós três. Eu, Arthur e meu irmão mais novo, Igor, que mora com nossos tios na Espanha.

Eu o queria longe disso tudo, sabe? Aqui em New York não tinha futuro para ele, que é apenas um adolescente inconformado com a morte dos pais. Ouvi falar que a Espanha é cheia de pessoas legais, incluindo da idade dele, e quando a tia Ofélia nos fez a proposta, nem pensei duas vezes.

Arthur é uma criança linda. Tem só seis anos, mas é quase um adulto mentalmente. Ele passa o dia todo na creche perto do nosso apartamento por conta do meu emprego que suga todo meu tempo livre. Tento fazer o possível para ficar perto dele, é uma pena que nem sempre consigo.

Trabalho na padaria desde os seus dois anos e nunca me arrisquei a sair daqui por medo de não conseguir outro emprego. Me formei no colegial, mas não prossegui na faculdade. Sentia falta dos estudos, mas me conformei de que não havia outra escolha.

Apesar de tudo, nunca me arrependi do meu filho. Se eu o tive, preciso criá-lo. Não recomendo ser mãe tão jovem como eu, porque querendo ou não, todos os meus planos antigos foram para o ralo. Acontece que também nunca pensei em aborto, eu não teria coragem de fazer isso com alguém que não pediu para nascer. Sou extremamente sonhadora, não nasci com os pés no chão. Minha mãe me disse uma vez que puxei meu pai, ele também era assim.