chuva

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   Junmyeon tinha um medo descumunal por chuva, ele sentia um medo tremendo dela, até mesmo quando começava a garoar, ele já se enrolava nas cobertas e tentava não sentir medo. Era inevitável, alguém o chamaria de estranho por causa disso, mas ele não tinha culpa nenhuma de sentir aquele medo todo.
   O pequeno evitava ao máximo sair de casa, até mesmo nos dias de sol, já que nunca se sabe quando vai chover. E como Junmyeon era escritor, ele não se preocupava muito em sair, somente quando precisava comprar alguma coisa ou quando marcava de sair com seus amigos. Mas até que ele gostava dessa vida de ficar só em casa, mesmo sendo solitário.
   Houve um dia que Junmyeon acreditou que não iria chover, já que estava um calor de rachar, então ele poderia sair sem se preocupar com chuva alguma. Bom, foi o que ele pensou até sentir a primeira gota de água cair em cima de si. O coitado já ficou desesperado, principalmente depois de alguns segundos, quando começou a chover de verdade. Mesmo com todo o medo e frio que sentiu naquele dia, particularmente, Junmyeon gostou daquele dia, pois foi o dia em que conheceu Oh Sehun.
   Junmyeon acabou esbarrando em um homem enquanto corria desesperado para se livrar da chuva, e esse homem era Oh Sehun. Kim acabou caindo no chão quando esbarrou com ele, já que estava bem distraído e não prestava atenção por onde corria, obviamente Sehun se preocupou com o pequeno. Ambos os homens conversaram depois que o maior ajudou o escritor, até ficaram se encarando igual a um casal de filme de romance, quando tudo em volta para e só sobram eles no cenário. Ao menos na cabeça de Junmyeon foi assim, na de Sehun ele não sabe até hoje. Mas todo aquele momento foi quebrado quando Sehun finalmente se pronunciou, se apresentando.
   Sehun, depois de ver o estado em que o menor se encontrava – com frio e sem guarda-chuva –, ofereceu uma carona para o mesmo. Obviamente Junmyeon não aceitou de primeira, mesmo que estivesse louco para chegar em seu apartamento, mas Oh conseguiu convencer ele. E Deus, Junmyeon não se arrependeu nem um pouco depois que o aquecedor do carro foi ligado.
   Eles foram conversando sobre coisas aleatórias pelo caminho todo, também conhecendo mais um pouco um do outro. Sehun realmente havia gostado daquele pequeno e frágil homem, então, antes que Junmyeon saísse do carro Oh pediu seu número.
   Junmyeon achou que Sehun iria demorar para enviar uma mensagem para si, sendo que haviam acabador de se ver e também de se conhecer, mas assim que entrou em seu apartamento recebeu uma mensagem de Sehun. Os dois passaram a noite inteira trocando mensagens, tanto que Junmyeon sequer percebeu a chuva que ainda caía.
   Kim e Oh viraram amigos em poucos dias, já conheciam um pouco de tudo de um do outro, até mesmo as coisas mais insignificantes. Sehun visitava Junmyeon sempre que tivesse um tempo livre no trabalho ou nos finais de semana, assim como o menor, ia na casa de Sehun sempre que a preguiça não dominava seu corpo. E também sempre que chovia, até mesmo se estivesse em horário de trabalho, Sehun ia as pressas para o apartamento onde Junmyeon morava para confortá-lo, desde o dia em que Oh descobriu o medo do menor, não parou de o mimar nesses dias – claro que não era somente nos dias chuvosos, Sehun realmente havia gostado de mimar Junmyeon, ele ficava todo fofo quando recebia carinho ou os doces que tanto gostava de Sehun.
   Os dois ficaram em uma bela amizade por algumas semanas até Sehun começar a se afastar de Junmyeon, este que estranhou a fato do amigo estar distante demais, sequer o cumprimentava com abraços como sempre fazia ou ia em sua casa nos fins de semana. Junmyeon sentia falta daquele Sehun todo grudento e tudo mais, só que agora era um Sehun bem diferente que o do começo, ele falava poucas palavras, não puxava assuntos, não lhe dava cafuné enquanto assistiam algum filme ou seriado, resumindo, eles faziam as mesmas coisas que como quem namorava fazia. Kim realmente gostava de pensar assim, já que ele gostava de Sehun romanticamente, só que claro que ele matinha isso em segredo pois não queria atrapalhar a bela amizade que tinham.
   E com tudo isso, o que se passava na cabeça do pequeno era que, de algum modo, Sehun havia se afastado porque descobriu os sentimentos do mesmo e para o poupar de uma rejeição, começou a se afastar. Mas também pensava que Sehun havia enjoado de si e para não falar diretamente, começou a ficar distante, para finalmente nunca mais o ver.
   Essas eram as únicas coisas que se passavam na cabeça de Kim Junmyeon como respostas para aquele afastamento de Sehun.
   Mas é claro que o pequeno Kim não ficaria com aquela duvida cruel, ele iria conversar devidamente com Oh Sehun. Já até havia planejado toda a conversa em sua cabeça, cada palavra e detalhe, nada poderia dar errado. Os dois iriam conversar e resolver isso como adultos e dependendo do resultado, iriam seguir a vida normalmente. E como felizmente Sehun iria dormir lá esse fim de semana essa conversa iria ser nesse mesmo dia.
   Junmyeon esperava Sehun na sala, enquanto tomava um chocolate quente e via alguma animação na tevê, confortável e enrolado em sua coberta quentinha que o protegia do frio que estava aquele noite. Kim estava quase dormindo quando ouviu a porta sendo aberta, indicando que Sehun finalmente havia chegado – eles tinham a chave da casa um do outro.
   O maior tirou o casaco que usava e foi até o sofá onde Junmyeon estava, se sentando meio distante do mesmo e resmungando um "olá" meio seco e desanimado. Junmyeon suspirou e colocou a caneca de chocolate quente em cima da mesinha do centro, tirando a coberta de em volta de si e encarando melhor o amigo.
   — Você demorou, de novo. — Junmyeon falou, calmo. Sehun apenas deu de ombros e pegou o celular, ignorando o menor — Sehun-ah, não me ignore.
   — Eu não estou ignorando, só não estou com vontade de falar.
   Foi apenas o que Oh falou, sem ao menos olhar para Junmyeon, este que suspirou pesado e se levantou, pegando a caneca que usou antes e indo para a cozinha em passos pesados. Colocou a caneca dentro da pia e apoiou as costas na mesma, colocando as mãos no rosto e o esfregando, frustrado.
   — Sehun, vem aqui por favor! — chamou alto o suficiente para que o amigo ouvisse. Sehun logo apareceu ali, se encostando na bancada e, finalmente, olhando para Junmyeon — O que tem de errado com você? — foi direto no assunto.
   — Não tem nada de errado comigo, Junmyeon. — disse simples, revirando os olhos sem motivo.
   O menor respirou fundo e se aproximou de Sehun, mordendo o lábio inferior com força. Ele só fazia isso quando estava nervoso. E Junmyeon estava muito nervoso, claro, já que ele iria mudar totalmente o rumo da conversa que havia planejado em sua mente. Kim ficou na frente de Sehun e apertou os lábios, antes de começar a falar.
   — Sehun, eu te amo. — confessou, vendo o maior arregalar os olhos — Eu te amo muito mesmo, tanto que reparo em cada detalhe seu, sem contar que te conheço melhor do que sua própria mãe. — deu uma pausa curta, antes que Sehun resolvesse falar alguma coisa — E sei que tem algo errado, você está diferente, Hunnie. Você está distante, frio, me ignorando demais e mais coisas... E o fato, Sehun, é que você não é assim com ninguém.
   — Junmeyon, para de falar! — pediu antes que o menor voltasse a falar novamente — Primeiramente, me desculpa por ter sido assim, tem um motivo e espero que você entenda, huh?
   Junmyeon balançou a cabeça, confirmando. Sehun sorriu – depois de dias de ficar sem sorrir para o menor – e segurou os ombros alheios, dando um carinho singelo ali.
   — Você pode me achar infantil, mas para mim não é. Você sabe que eu já me apaixonei antes, pelo o meu melhor amigo, eu te contei isso, lembra? — Kim assentiu, prestando atenção no que Sehun contava — E eu não evitei de esconder o sentimento e me confessei de uma forma bem exagerada e tudo mais, só que no final fui totalmente rejeitado e isso acabou com a amizade que eu tinha com ele.  — Deu de ombros, coçando a nuca — E é por isso que me afastei, porque te amo e eu não queria acabar com a nossa amizade. — disse por fim.
   Deslizou as mãos – que ainda estavam nos ombros do menor – até as mãos do menor, as segurando e entrelaçando os dedos. Junmyeon sorria, assim como o amigo.
   Era só por isso, então?, Junmyeon pensava. Ele não via motivos para Sehun ter sido grosso. Vai ver era o jeito para ele conseguir "esquecer" aqueles sentimentos ou sei lá, era, também, uma das coisas que Junmyeon achava.
   — Tudo bem, eu te desculpo, Sehun-ah. — sorriu, falando num tom de voz doce — Mas você quase acabou com a nossa amizade, odeio ser tratado do jeito que me tratou, fiquei magoado.
   — Eu sei, eu sei. Desculpa. — beijou a testa do menor e sorriu, segurando o rosto do mesmo de dando um carinho nas bochechas gordinhas — Junnie, posso te beijar? — perguntou, já quase roçando seus lábios nos de Kim.
Junmyeon apenas confirmou balançando a cabeça e logo Sehun selou a boca com a do outro. Era um beijo calmo e apaixonado, e haveriam muitos destes nessa noite e a vida que eles teriam juntos, felizes.
   E eles foram felizes, namoraram por quatro anos, até finalmente Junmyeon o pedir em casamento – ele mesmo tomou essa atitude, já que Sehun não tinha coragem o suficiente, mesmo sabendo que o baixinho aceitaria –, ficaram noivos por pouco tempo, somente três meses. O casamento foi simples, até; foi na praia – aquele era um dos sonhos do Kim, se casar na praia. Era clichê, mas ele gostava –, com a presença dos amigos e parentes de ambos, com certeza foi um dos dias mais felizes da vida do casal.
Viveram a vida de casados por sete anos. Até o dia em que eles iriam comemorar o sétimo ano de casados que aconteceu o que eles nunca imaginariam, o que Junmyeon sempre temeu.
   Junmyeon esperava o marido no costumeiro restaurante que eles comemoravam os anos em que estavam juntos, e Sehun estava voltado para a cidade – teve que viajar para uma cidade perto para ver a mãe que estava doente, mas prometeu ao pequeno que voltaria na hora –, estava bem chuvosa aquela noite e ele não enxergava bem a estrada e por isso, não viu quando um caminhão veio correndo em sua direção – e mesmo que visse, não daria para desviar, a pista estava escorregadia por conta da chuva, e provavelmente a situação seria pior –, batendo fortemente contra seu carro.
Ele foi socorrido em meia hora, os médicos fizeram de todo para salvar a vida de Sehun, mas infelizmente ele não sobreviveu.
   Quando Junmyeon recebeu a notícia sobre a morte de Sehun, ele, de primeira, não quis acreditar. Ele chorava e gritava, falando que estavam mentindo e que seu Hunnie chegaria a qualquer momento. Ele chorou até desmaiar.
   No dia do enterro de Sehun, Junmyeon não fez o que todos achavam que iria fazer – se jogar em cima do caixão e ficar gritando para que Sehun voltasse –, ele apenas ficou quieto e sereno, observando o corpo pálido, gelado e sem vida do amado.
   Baekhyun, melhor amigo de Junmyeon, ficou com o viúvo por algumas semanas – mesmo este dizendo que não era necessário, já que ele já era um adulto e sabia se virar bem. Mas é claro que Baekhyun não deu ouvidos.
Junmyeon chorava todas as noites abraçado com o travesseiro que antes era do falecido marido. Ele odiava chorar, só que era impossível evitar tal coisa.
   Sehun era a única pessoa que Junmyeon tinha. E agora ele se foi.
Tudo bem que antes de Sehun aparecer em sua vida Junmyeon era um homem independente. Só que tudo mudou depois de Oh. Junmyeon já não aguentava mais aquela sua vida sem cor. Tudo era sem graça sem Oh Sehun.
Quando fez três meses que Sehun morrera, Junmyeon tomou uma decisão.
   Ele já havia pensando naquilo antes, bem depois do enterro, mas como Baekhyun havia ficado em sua casa não foi possível.
   Então ele achava que seria a hora certa e que seria a decisão certa para acabar com toda sua dor. Já estava sendo insuportável viver daquele jeito. E também achava que iria para um lugar melhor, onde Sehun estaria também. 
   E foi pensando no falecido marido que Junmyeon pegou aquele frasco de remédios e colocou todos as cápsulas em sua mão, as observando bem e sorrindo, com o rosto repleto de lágrimas grossas. O pequeno colocou todas na boca e pegou a garrafa de vinho na geladeira, tomando o conteúdo da mesma rapidamente junto com os remédios.
   Junmyeon se sentia feliz, pois finalmente iria encontrar seu amado novamente.

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