azul

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Toda vez que mamãe me forçava, sentia-me como vestida em uma fantasia de coelhinho no meio de um baile formal.

Eu era o peixinho azul na imensidão de dourados.

E, pela primeira vez, não gostava mais de azul.

Peguei todas as caixinhas de fósforos que escondia debaixo da cama e as joguei dentro do aquário. O peixe beta nadava de um lado para o outro, ondulando a calda em movimentos graciosos. Encarava-me com aquele olhar curioso. Sentia que me perguntava como era a vida fora dos vidros. Respondi mentalmente que não era tão fácil quanto parecia. Pelo menos quando você se sentia como uma coelhinha.

Vi que nadou para o outro lado, como se tivesse entendido minha explicação telepática. As caixinhas flutuavam ao seu redor e algumas lágrimas escorriam de meus olhos. Mas tudo bem: mamãe me gradou comprando uma caixa cheia de blocos de montar. Eu a perdoei.

Ainda não consigo reformular os pesadelos em sonhos oscilantes.

E não gosto mais de azul.

ㅡ coelhinha. loona | jinsoulOnde histórias criam vida. Descubra agora