Cartas para o meu amor

Onde tudo começou

- Analu minha filha, onde você está? - Gritava Camille por todo canto daquela fazenda, sem obter qualquer resposta. - André, não acho Analu em nenhum lugar, estou começando a ficar preocupada. Dizia Camille, enquanto limpava suas mãos em seu avental.

- Ela deve estar embaixo de alguma árvore rabiscando aquele caderno que ela cisma que sabe escrever, deixe a menina querida. - Falava André sem dar muita importância ao que sua esposa dizia, depositando um beijo em sua testa enquanto saia.

Analu, vamos logo já estamos atrasadas, nossas mães já devem ter notado nossa ausência. Luana gritava, enquanto saia me arrastando da pequena salinha do professor Edgar.
Luana era minha melhor amiga, melhor dizendo minha única amiga, mas havia horas que ela me irritava ao extremo.

Sim, estávamos tendo aulas particulares, já sabíamos ler, escrever, fazer contas. Em fim podemos dizer que já estávamos prontas para a faculdade se possível fosse, o que não era, pois em nossa pequena cidade rural não havia se quer uma escola em que pudéssemos nos formar, por sorte o professor Edgar escolheu nossa pacata cidade para vir. Tenxfor era uma cidade pequena e isolada das demais cidades de Porto Velho, onde nem educação havia chegado ainda, mais ainda bem que o Edinho (apelido carinhoso para o melhor professor do mundo)  veio para mudar isso, ele tinha a intenção de abrir uma escola, porém o coronel que comanda nossa cidade não gostou nadinha dessa história, e não quis investir verba alguma para isso, até porque o saber levaria a ruína dele. Mais o coronel sabia que não poderia proibir, então ele disse ao Edgar que conseguisse seu próprio dinheiro para que fizesse sua escola o que seria quase uma proibição já que Edgar não tinha dinheiro algum e para construir uma escola ele precisaria de muito dinheiro. Então por hora ele se contentava em dar aulas particulares sem cobrar muito é claro, se não eu e Luana não teríamos dinheiro para arcar com os estudos. Mais eu tinha pena do professor, o sonho dele parecia ser mais distante do que o meu, já que ele só tinha quatro alunas que iam em suas aulas escondidas, assim como eu e a Luana. - Calma Lu, para que essa pressa toda? Sai dos meus devaneios com Luana falando igual uma tagarela.

- Lua, mamãe e papai vai me matar, assim como a tia e o tio (eram assim que ela chamava meus pais) eles já estão começando a desconfiar e estranhar os nossos sumiços. -Era assim que ela me chamava todas as vezes que queria algo de mim, desde criança. Luana era apenas um ano mais velha que eu e por isso se achava responsável por mim, embora ela fosse bem mais desmiolada!

Não disse nada, apenas a segui fazendo assim o caminho de nossas casas, já que era quase uma do lado da outra. Fomos andando depressa pois já se passavam das sete horas, realmente papai e mamãe deveriam estar furiosos atrás de mim, assim como os pais da Luana. - Boa noite Lu, e boa sorte. Depositei um beijo em sua bochecha e rimos baixinho.
- Para você também Lua minha, e se não ficarmos de castigo hoje, tentaremos ir mais cedo amanhã para não chegarmos tão tarde, como hoje. Apenas concordei com a cabeça, acenando para ela e assim nos despedimos, havíamos combinado de dizer aos nossos pais que estávamos trabalhando em uma lanchonete nova que abriu no centro, pois queríamos pagar o professor Edgar para nos ensinar a ler e escrever, nós sabíamos que nossos pais surtariam, pois eles querem que sigamos seus passos nas fazendas, mas ambos sabem que nossos sonhos são outros, eu quero ser uma escritora famosa e Luana uma jornalista da cidade grande e claro, eles jamais aceitariam isso, pelo menos mamãe com certeza não.

   Quando cheguei em casa, mamãe e papai estavam a mesa de jantar junto aos meus irmãos, apenas me esperando. Eu já previa uma bronca daquelas que só mamãe sabia dar, mas para meu espanto, mamãe apenas me chamou para jantar, meu prato já estava posto a mesa.

Venha jantar querida, estávamos apenas esperando você para começarmos a comer. - Estranhei, porém nada disse, apenas assenti com a cabeça e me sentei, rezamos como de costume e começamos a comer, todos em silêncio total o que era bem perturbador.