Can I hold your hand, please?

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Louis entrou no elevador e subiu até o quarto andar. Seu coração sentia que ver Harry era o certo a se fazer. O mesmo havia olhado para ele de forma tão amável, como se o ômega fosse a coisa mais preciosa do mundo. No entanto, sua cabeça mostrava uma porção de plaquinhas de trânsito com a palavra "pare", uma atrás da outra. Seu lado racional sabia que ir ver o alfa era uma completa loucura.

Em passos lentos, Louis caminhou até o quarto de Harry. O menor sentia como se seu estômago tivesse dado um nó. Suas mãos suavam e seu coração batia forte contra o peito. A última vez que ele havia se sentido assim foi na sua formatura, quando recebeu seu tão suado diploma de enfermagem.

Contudo, esse sentimento era diferente... tinha um toque de proibido, como se o de olhos azuis estivesse nadando contra as ondas. Não querer casar e ter filhos também é "nadar contra as ondas" se você for um ômega, Louis pensou, então acho que deu para notar que eu não sirvo como surfista.

Louis ficou surpreso ao ver que os dois brutamontes que guardavam o quarto não estavam mais lá. Ou era o destino agindo ou só a hora do lanche mesmo.

Tomlinson quase se bateu quando percebeu que a porta estava trancada. Ele espraguejava todas as coisas existentes quando se lembrou de um presente que havia recebido mais cedo. Não era segredo para ninguém que o enfermeiro era muito querido entre os pacientes, principalmente pelos mais velhos. E, graças ao bom Deus, hoje a Sra. Dawson disse que queria presenteá-lo de alguma forma. Louis falou que não precisava, é claro, mas quando viu a senhora já tirava do cabelo um grampo. Louis tirou correndo o objeto do bolso e meteu na fechadura. Ele ouviu um clique.

Tomlinson respirou fundo e com a mão trêmula abriu a porta.

×

Harry acordou zonzo. Seus olhos não conseguiam focar e seus músculos doíam, mais parecia que um caminhão tinha passado em cima dele. As coisas estavam confusas na cabeça do alfa, mas ele ainda tinha algumas certezas. Primeiro: ele vai morrer um dia. Todo mundo vai, não tem como escapar; dois: sua única família havia sido tirada dele; três: ele estava apaixonado.

Um sorriso, mesmo que triste, brotou nos lábios de Harry ao se lembrar do pequeno ômega com cheiro de "tudo o que há de melhor no planeta". Harry nunca acreditou em amor à primeira vista, é baboseira, segundo ele. Ou melhor: era. Tudo "é" uma certeza, até que acontece com você.

Depois de ver o azul dos olhos do rapaz, Harry criou um novo significado para "amor à primeira vista". Dizer amar uma pessoa que viu uma única vez não pode ser verdade, disso o encaracolado tinha certeza. Mas não se pode levar o termo ao pé da letra. "Amor à primeira vista" é um reconhecimento de almas, é simpatizar com o olhar de uma pessoa e se identificar com o que ele transmite. Você ainda não ama, mas sabe, sem sombra de dúvidas, que vai vir a amar.

Harry pensou no tal enfermeiro.

×

Louis entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. Quando ele se virou viu Harry deitado na cama, imóvel. O ômega se aproximou receoso do alfa, que abriu os olhos no instante que o azulado chegou perto o suficiente para eles conseguirem se olhar.

Que os lúpus eram maiores, mais fortes e a versão "ultimate" dos alfas Louis já sabia, só que ninguém nunca tinha lhe contado que eles também eram mais bonitos. Muito bonitos. Algo no interior do ômega dizia que Harry era especialmente mais lindo que os outros.

O cacheado tentou levantar, mas sentiu os pulsos pressionando-o contra a cama. Louis pegou a mão de Harry para desfivelar a faixa, não deixando de notar como a sua era menor em comparação.

- Pode me dizer como se chama? - Harry estava bobo. Seus músculos ainda tencionavam e sua cabeça latejava, mas isso não impedia que seu peito se enchesse de esperança com a visão do ômega.

- L-Louis. Meu n-nome é Louis.- o enfermeiro sentia o coração batendo além da conta. Ele não era cardiologista, mas desconfiava que não era humanamente saudável aquela velocidade toda.

- Não quero que fique com medo de mim, Louis, eu jamais machucaria você.- Harry não gostava do fato do ômega temê-lo. Ele quer que Louis se sinta confortável ao seu lado, seguro. Sabia que o pequeno já devia ter ouvido horrores a seu respeito.- Seu perfume é tão doce quanto você.

O rosto de Louis corou por completo e ele sentiu seu corpo esquentar. Ele não devia estar tão nervoso, e Harry só podia estar doido por causa dos tranquilizantes. Onde já se viu elogiar seu aroma... Tomlinson nunca conseguiu defini-lo sinceramente, só dizia que era "enjoativo" e "estranho". Quer dizer, os ômegas tinham fragrâncias comuns. Baunilha, jasmins, chocolate; mas a essência de Louis simplesmente não havia em nenhum outro lugar. Era única. Como ele. Um dia ele ainda vai descobrir isso.

- Será que posso segurar sua mão, por favor?

- Você pode.

Harry desviou por alguns segundos do olhar de Louis para pegar sua mão com toda gentileza que podia. Todo carinho direcionado ao ômega era pouco. O homem levou a mão de Louis até seus lábios e deixou um beijo gentil no local. Depois, fez o mesmo com a outra. Não é todo dia que se acha um alfa respeitoso por aí, certo? O ômega não pôde deixar de sentir seu coração aquecer com aquele ato tão singelo, mas ao mesmo tempo tão significativo. Por que uma pessoa tão distinta estaria em um lugar como aquele?

Louis não sabia dizer e nem como entrar no assunto. A única coisa que podia fazer por Harry no momento era retribuir com um beijo tão amável quanto. E ele fez isso.

••

Louis podia estar em qualquer outro lugar, mas ele sabia que não seria o seu lugar. Estranho, não? Qual é a explicação minimamente lógica de preferir um quarto de hospício, com nada mais além de uma cama, a um parque repleto de alegria e algodão doce? Pois é, não tem explicação além da de que o coração tem dessas coisas. Ama não sei por quê, e também sofre não sei de quê.

Guilty • l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora