Prologue

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Louis estava curioso. Sim, curioso. Tinha ouvido uma fofoca no hospital sobre um alfa lúpus que seria transferido para lá em breve. Ele nunca havia visto um pessoalmente. Sabia que eles eram mais fortes, maiores e que tinham uma personalidade mais rústica que os alfas comuns.

Sua mãe sempre ensinou-lhe a ser gentil com o próximo, "nunca se sabe o fardo que o outro carrega", ela vive dizendo. Louis já sentiu na pele como é ser rejeitado pelos outros, ou melhor, pelo próprio pai.

Como ômega, ele sempre foi tratado com desprezo pelo mais velho. Sempre recebeu olhares tortos de pessoas que nem mesmo o conheciam, simplesmente por ser menino e não ter nascido alfa.

Por isso, sentia pena do lúpus... sabia que o mesmo seria menosprezado e temido dentro da clínica. Sabia como era viver em uma sociedade que já tinha uma imagem formada da "sua raça". E para essa mesma sociedade, não é surpresa nenhuma que um desses tenha reagido de forma agressiva a uma situação. São assassinos inatos.

×

O sangue de Harry fervia a cada vez que ele tentava respirar. Sentia o coração batendo forte contra o peito, as veias dilatadas e um suor frio que corria por todo seu corpo.

- Doutor, nenhum remédio consegue fazê-lo dormir.

- Não se preocupe, Sr. Payne, pedi dosagens mais altas. Cobrei urgência do laboratório.

- Ele pode reagir mal ao tratamento, Doutor. Não tem medo do que isso pode significar para os outros pacientes?

- Escute bem, Liam, eu sou médico desde antes de você nascer. Sei o que estou fazendo e posso lidar com um lúpus no meu hospital. Agora, vamos. Quero aproveitar que esse selvagem está mais tranquilo.

💫

Louis chegou atrasado no hospital, só para variar. Felizmente -ou não-, o Diretor estava muito ocupado com o novo paciente para lhe dar uma bronca. Poucos membros da equipe tinham autorização para visitar o tal alfa no quarto andar. Sim, reservaram um andar só para ele, e sim, Louis não era um desses membros. Pelo o que Niall lhe contou, a diretoria resolveu que Harry era muito perigoso para estar somente a poucos metros dos demais.

- Será que vocês dois não cansam de fofocar? - Perguntou o Dr. Payne em um tom bem humorado. Liam é uma ótima pessoa e um profissional mais que capacitado. Seu único erro é ser leal ao Diretor Wilson, tão leal que seria capaz de ir contra seus próprios princípios para impressioná-lo.

- Por favor, Payne, tome conta da sua vida.- O loiro respondeu da mesma forma.

Louis conheceu Niall no fim do oitavo ano. Sua mãe havia se separado de seu pai há três meses e a situação não era das melhores. Louis, que sempre teve o coração maior que todos os mares juntos, dividiu seu lanche entre as duas irmãs e ficou sem nada. O beta, vendo o menino de olhos azuis sozinho, resolveu dividir seu sanduíche de patê e alface com o menor. Desde então, os dois se tornaram inseparáveis.

Niall teve que se despedir dos amigos para ver Ana Malilk, uma paciente muito especial para o mesmo. A menina desenvolveu uma esquizofrenia paranóide depois de ver o irmão morrer na sua frente. O beta era muito amável com todos ali, mas ninguém nunca entendeu aquele carinho individual com a ômega.

💫

Liam e Louis discutiam sobre um artigo a respeito da doença de alzheimer publicado na Science quando notaram uma movimentação incomum no hospital.

- Payne, rápido! O paciente do andar 4 entrou em surto. - O Dr. Devine passou falando, sem parar um momento de andar. Seus passos eram firmes, mas trêmulos, como de quem quer transmitir segurança, mesmo sentindo medo. Liam arregalou os olhos e se levantou rapidamente.

- Tomlinson, quero que pegue o máximo de tranquilizantes e ansiolíticos que puder. Devemos estar preparados para qualquer coisa.- Louis sentiu-se gelar e engoliu seco.

- Liam, e-eu...

- Louis, estamos tendo uma emergência. Você é um enfermeiro e deve estar preparado para tudo. Não vai precisar chegar perto dele.- O alfa não aguardou uma resposta do menor e saiu andando a caminho do elevador.

×

O ômega caminhava a passos ligeiros, mas desajeitados, até o quarto 43. Nesse momento, ele se odiava mentalmente por ter escolhido aquela profissão e ainda mais por ter aceitado fazer sua residência em um hospício. Onde ele estava com a cabeça, afinal? Se queria ajudar pessoas deveria ter tentado a carreira de bombeiro ou ter feito serviço social.

×

Harry abriu os olhos tão rápido quanto um leão ao sentir o cheiro da presa. Sentiu seus músculos tensionarem e viu que estava preso por faixas grossas de couro, como se fossem vários cintos enfileirados.

O alfa de 1,92m deu um urro brutesco por ver que estava aprisionado, e com uma força anormal para qualquer outra pessoa naquele local, começou a romper as tiras dos seus membros.

Os dois seguranças, que resguardavam o rapaz de olhos verdes do lado de fora do quarto, ouviram ruídos de coisas se quebrando. O mais alto deles, Richard, apertou o botão de emergência do outro lado do corredor. Sabia que apenas dois alfas de porte comum não conseguiriam conter o homem insensato que estava há apenas uma parede de distância.

Em poucos segundos, vários médicos, inclusive o Doutor Wilson, se encaminhavam para o quarto, marchando como se estivessem indo para a guerra. Ao abrirem a porta, encontraram um cômodo completamente destruído. O colchão estava rasgado, o pequeno armário de aço, com marcas de socos e destroçado. A cama estava do outro lado do quarto.

Harry residia no centro do aposento. Seus olhos, que eram do verde mais brilhante que pode existir, agora estavam negros como a noite. Sua postura ereta dava a impressão que o mesmo era ainda mais alto. Uma psiquiatra que estava acompanhando o grupo tentou se achegar no cacheado, que soltou um rugido com a aproximação não permitida. Cinco alfas correram para segurá-lo, para que pelo menos um enfermeiro conseguisse espetar o paciente com qualquer agulha que fosse.

Em meio ao pandemônio que acontecia no quarto, Harry parou de se debater. Seus músculos paralisaram e seus sentidos se aguçaram, a raiva se esvaindo de seu corpo. Suas narinas, tão eficientes quanto as de um lobo, captaram o melhor cheiro que ele já sentiu na vida. Aquela essência era uma mistura de flores na primavera, chocolate quente no inverno e maresia no verão. Foi como se tudo ao redor houvesse desaparecido e o alfa só conseguisse focar na sensação daquela presença, como se a mais doce das criaturas estivesse vindo ao seu encontro.

Os médicos, surpresos com a mudança repentina do lúpus, ficaram aliviados por pensarem que as injeções estavam causando algum efeito naquele homem inteiramente fora de si. Harry pareceu despertar de um estado sonâmbulo quando o enfermeiro Louis apareceu na porta com seu jeito afobado e a franja caída na testa.

Harry se perdeu no corpo pequeno e delicado do ômega à sua frente. O de olhos azuis largou a bandeja com injeções no chão e se encolheu contra à porta, abaixando a cabeça em um sinal de submissão involuntário.

- Meu.

••

Espero que vocês gostem de Guilty, foi uma história que me estalou durante uma aula qualquer tem um tempinho. Não é a primeira fic que eu faço, mas é a primeira que eu posto. Juro que vai ser uma narrativa cheia de surpresas.

Obrigada a todos que leram 💞

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Guilty • l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora