Você tem o melhor de mim

Capítulo 1

Merda! Já conseguia ouvir os gritos da minha mãe assim que eu contasse que havia perdido o emprego...De novo.

Nada daquilo era novidade, já faziam alguns meses que eu havia me mudado do Brasil para Seul na Coréia do sul afim de mudar de vida. Queria na verdade estar passeando pela Europa, conhecendo todo o tipo de cultura. Mas a realidade era que minha família e eu não tínhamos condições para realizar tal fantasia.

Mas porque a Coréia? Simples. Tinha o melhor custo benefício. Uma das melhores condições de vida custando pouco. Educação, segurança e transporte de qualidade. Além, é claro, da facilidade no visto e na proximidade com a Europa.

Por isso quando recebi a proposta do meu pai para vir morar aqui para decidir sobre o meu futuro, eu aceitei sem pensar duas vezes. Sabia falar fluentemente além da minha língua natal, o inglês, espanhol e aprendi o coreano por mini curso online. Claro que não foi grande coisa mas me deu o certificado que eu precisava para viajar.

Nada contra a cultura do país mas...EU SOU BRASILEIRA MERDA! E por esse motivo havia sido demitida pela terceira vez desde quando me mudei. Simplesmente não conseguia aprender certos "detalhes" da cultura local. Então pra eles é okay vestir mini saia mas um decote não?! As mulheres são constantemente oprimidas nesse país e o pior é que aceitam!

Estava naquela tarde caminhando pela calçada de Seul vestida com uma fantasia ridícula de empregada sexy. SIM ISSO MESMO QUE VOCÊ LEU! Esses asiáticos acham normal fantasiarem seus empregados para atender em uma cafeteria. Minha mini saia de babados fazia questão de revelar mais do que eu gostaria das minhas pernas e quando um pervertido "sem querer" bateu na minha bunda não podia deixar quieto. Joguei uma jarra de água na cabeça dele e por isso fui demitida. DÁ PRA ENTENDER MINHA SITUAÇÃO AGORA?!

Era primavera em Seul e havia várias flores de cerejeiras espalhadas pelo chão. A paisagem era linda por onde eu passava.

Ao analisar o horizonte vejo de longe o ponto de ônibus e me ponho a andar mais rápido para pegar o coletivo que já virava a esquina. CORRE NEGADAAA!

Por alguns momentos senti um tontura, depois uma dor forte em meu nariz e ví apenas uma cabeleira preta na minha frente. Tinha esbarrado em um idiota que não tirou o olho na merda do celular quando foi atravessar a calçada.

Caí de bunda no chão e logo em seguida segurei meu nariz que tinha batido no ombro dele. Olhei pro idiota e o mesmo me encarava com uma cara impassível. Ele era muito bonito. Tinha olhos pequenos, pele muito branca que contrastava com o cabelo preto bagunçado cortado no estilo tigelinha. A boca era rosa e bem desenhada. Por alguns segundos fiquei vidrada em sua boca. Até que uma voz rouca me desperta.

- Olhe por onde anda da próxima vez! - Disse o garoto de modo rude.

Ia retrucar mas vi o ônibus passando do meu lado e me levantei correndo para pega-lo. Foda-se se eu tinha que me desculpar (coisa essa que eu não faria), tava na cara que ele que foi o errado.

Alcancei o ônibus e antes de entrar levantei meu dedo do meio para ele que ainda me encarava no meio da calçada. O ônibus se pôs a andar novamente, usei meu passe em uma máquina para pagar pela viagem e antes de me sentar em uma das últimas poltronas recebi o olhar feio de algumas senhoras que viram o ocorrido. Não ia brigar com as vovós, estava cansada demais pra isso. Analisei se havia saído sangue do nariz e graças a Deus não tinha. Droga doía muito! Se eu tivesse quebrado o nariz esse viado ia me pagar! Tive a idéia de usar a tela do celular como espelho para ver a situação. Fui pegar meu celular no bolso da mini saia e notei um grande vazio.

Um arrepio correu pelo meu corpo. Músicas...Fotos...Músicas...Contatos...Músicas...Vida social.

Uma brisa gelada soprou a minha nuca e eu comecei a suar frio. Olhei pra trás pelo vidro do ônibus e vi o idiota que esbarrou em mim se abaixando pra pegar meu celular do chão. Pensei ter visto um pequeno sorriso em no rosto mas estava a uma distância considerável para afirmar qualquer coisa.