O fone emitia os tons graves e ao mesmo tempo suaves de Lana Del Rey. Vídeo Games. Lavínia olhava para as luzes embaçadas da cidade à noite pelo vidro do carro. Aquilo era uma das poucas coisas que ela gostava de fazer em sua vida monótona: olhar as luzes da cidade enquanto andava de carro. Se naquele dia não estivesse chovendo, ela provavelmente teria aberto o vidro e colocado a cabeça para fora para sentir a brisa da primavera. Mas a chuva era boa. Fazia tudo parecer bem, embora não estivesse. Com o volume da música no máximo ela só conseguia ouvir o que parecia ser sussurros dos pais. De vez em quando ela abaixava para ver se encontrava alguma solução na conversa, mas só conseguia ensurdecer com os gritos. Estava óbvio que o casamento deles estava indo por água abaixo. O divórcio, por mais assustador que fosse, seria a luz do bem estar daquela família. Sem perceber, Lav deixou escapar uma lágrima. Limpou-a rapidamente antes que alguém percebesse e voltou a olhar para as luzes.
-Tá tudo bem, Lav? -Tomas, melhor amigo de Lavínia perguntou.
-O quê? -Ela, distraída, rebateu.
-Você está estranha... triste??? O que aconteceu com você? -Ele perguntou.
-Meus pais... -Ela não precisou terminar, nem queria. Tomas já havia entendido.
-Hum... -Mordeu o canto interior da boca, pensativo. -E você não quer conversar sobre isso, certo?
-Acertou. Não quero. -Ela disse, escondendo o rosto nos joelhos. A grama estava molhada, mas eles não ligavam.
-Sabe que se precisar conversar eu estou aqui, não é? -Ele disse, cutucando os joelhos da garota.
-Eu sei. -Suspirou, derrotada. -É só que eu já te contei o que está acontecendo. O que me deixa assim é querer fazer algo para ajudá-los e não poder. Eu não queria que uma história tão legal de amor acabasse assim. -Disse enquanto arrancava a grama com uma das mãos.
-Nem tudo na vida é perfeito. Olhe para mim e verá. Eu sou um lixo. -Tomas disse.
Lavínia olhou para aqueles olhos verdes meio azulados e só conseguiu dizer:
-Ah cala a boca! -E jogou a grama no melhor amigo.
-Mas é verdade! Olha para os garotos populares! -Apontou para os meninos que estavam jogando basquete na quadra. Lavínia olhou.
-É, eles são bem gostosos. -Admitiu, rindo. -Mas você, diferente deles, tem uma massa cinzenta na cabeça. Eles só têm testosterona e pornô.
Tomas riu daquilo e concordou. Eles eram apenas idiotas machistas loucos por atenção.
-Você vai embora comigo hoje? -Tomas perguntou, olhando para Lavínia.
-Claro, a menos que você queira voltar chorando sozinho. -Ela o zombou, lembrando da vez que, na sexta série, ela decidiu ir embora sozinha e o amigo, que na época era baixinho, chorou o caminho inteiro de volta para casa. Lavínia apareceu lá cinco minutos depois perguntando se ele queria andar de skate. Estava suada porque foi correndo para o alcançar.
-Aquilo não foi legal. Eu era muito emotivo, você sabe disso. -Ele a reprendeu.
-Puts, foi na sua fase emo, né? Saudades 2012.
-Foi. Obrigado 2014. -Disse ele.
-Obrigada Arctic Monkeys! -Lav gritou.
-Mas eu já ouvia Arctic Monkeys antes mesmo de ser emo. -Tomas disse.
-Ah, verdade. Obrigada Evanescence. -Disse, erguendo as mãos para o céu.
-Uéééé, por quê????? -Tomas perguntou confuso.
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Please, don't.
ChickLitEla sempre quis ser notada. Sempre quis ser aceita, inclusa. Lavínia sempre quis que os outros a reconhecessem. Ela jamais admitiria isso em voz alta. Ela está acomodada demais em sua bolha social e mergulhada nos seus ideais para correr atrás disso...