3. Ares chilenos

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Cadu

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Cadu. Carlos Eduardo. Carlos, nome de pai; Eduardo, nome de avô. O segundo nos apresentou em uma feira cultural. "Você vai gostar do meu neto, vem cá", ele disse depois que puxou um assunto sobre o cartaz exposto ao meu lado, meu nome em letras pequenas e minha vergonha em letras garrafais na testa. Era a mostra de publicidade da empresa que eu trabalhava. Cadu perambulava os arredores em busca de cerveja e Seu Eduardo me arrastava com um sorriso de quem já tinha encontrado bebidas bem antes. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas sua proposta de sair de perto do cartaz pareceu a melhor que eu receberia naquela noite. Quando encontramos Cadu, concordei com o avô. Gostei de seu neto. Ele tinha dois copos de 700ml de cerveja em mãos e me ofereceu um deles antes mesmo de se apresentar — embora nem precisasse. Seu Eduardo pegou o outro e saiu, deixando uma piada no ar para nós dois. No meio do riso encontramos um pouco do que buscávamos por ali: distração. Nossa noite se findou dividindo cervejas, sentados afastados, conversando sobre as peripécias de nossos avôs e reclamações sobre nossos empregos. Semanas depois largaríamos nossos cargos para começar nosso próprio projeto. Anos depois Cadu largaria tudo para concluir seu mestrado. Meses depois Cadu largaria tudo mais uma vez, porque ele era um fio solto desse mundo, para voltar para mim ou para o que quer que seja que tenha deixado aqui.

— Calma, Ayla. — Seu rosto mudado, com ares estrangeiros, um pouco desconfortáveis. — Eu não decidi muita coisa ainda. Eu vim, mas não tranquei minha matrícula, não avisei ninguém. Nem sei por que tô aqui. Acho que queria chegar de surpresa, mas...

— O Rodrigo estragou tudo — interrompi.

— Eu estraguei tudo bem antes, não foi?

Não teve resposta. Conhecíamos uma mágoa que tinha ficado sem permissão, quieta e crescente. Meu celular tocou novamente, nos desvencilhamos para que eu lesse na tela: Gustavo. Era uma hora inapropriada para eu dizer que Udac estava em minha casa.

— Você quer deitar e descansar um pouco? — perguntei mais aos olhos cansados que não me enganavam que ao homem ressentido que mentiria qualquer coisa para fugir dali. Eu o entendia, certamente fugiria quando a situação apertasse também.

Seu corpo apenas se esgueirou até a cama, tirou os tênis, a calça, as meias. Percebi sua tentativa de dizer algo enquanto eu atendia a segunda ligação.

— Amiga, tô indo aí. É ur-gen-te — Gustavo afirmou afoito do outro lado, ignorou respostas.

— Eu senti saudade de você, Ayla — disse de olhos fechados.

Sentei-me ao lado dele e afaguei seus cabelos.

— Eu também, Cadu.

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Deixa eu dormir na sua casaOnde histórias criam vida. Descubra agora