7 copos de algo que eu bebi

23 1 0
                                    

Estou sentado na cadeira, sou o terceiro da fileira no canto da porta de entrada para a sala de aula e sim, estou na escola. Melhor é saber que estou sentado aqui pela última vez, hoje o tão sonhado último dia de aula do ensino médio chegou e eu me sinto tão empolgado. Por mais que eu seja sentimentaloide não sentirei tanta falta das pessoas. POR FAVOR, tire da sua cabeça essa concepção de que sofro bullying, que apanho no colégio e que não sou popular. A minha história é diferente, foge dos dramões adolescentes então desfaça qualquer conceito sobre o que você pensa de histórias clichês com finais previsíveis de adolescentes e embarque na minha história. Eu me chamo Lorenzo, como meu pai sempre insiste em dizer "nomes fortes a gente não simplifica ou apelida" porém gostaria de ser chamado apenas de Enzo.
  Estou encarando tão fortemente esse relógio e finalmente a professora Clara, de uns 45 anos que nunca disse sua idade ao certo; baixinha e rechonchuda, com aquelas roupas sociais naquele tremendo calor de pré tarde; disse por fim sua última frase " Sejam adultos honráveis, se formem e levem o que aprenderam até aqui pro resto de suas vidas. Boas férias!" Sabe quando você escuta mais não se importa com o que é dito? A pressa, a vontade nostálgica de ficar livre daquilo logo me fez ignorar completamente o que ela disse, mal sabia eu que o que ela disse um dia faria tanto sentido, e falta pra mim.
Sai pelos corredores alvoraçado, todos se despedindo e desejando felicidades e sucesso. Parecia que estávamos todos nos casando ou alguém dali morreria em breve. Não dei muita atenção ao que foi dito e sai despercebido.
- Lorenzo! - escutei uma voz ecoar do outro lado da rua enquanto caminhava desesperadamente rumo a parada de ônibus. Decidi olhar pra trás. AH SE EU SOUBESSE COMO ME ARREPENDERIA DISSO.
Era Rebeca, sentada no banco da praça que fica na rua em frente aos portões do colégio. Fui até lá, já havia me desempolgado de ir embora mesmo. Enquanto atravessava a rua percebi que ela estava sentada no colo de João. E ah, eles eram meus melhores amigos do colégio, desde a infância, porém de turmas diferentes por isso já haviam saído e já estavam sentado na praça.
- Oi gente - disse, enquanto me ajeitava em uma borda do banco de madeira da praça.
- Nossa que pressa menino quase que não me escuta - Rebeca indagou enquanto me batia com a seu estojo de lápis.
- Ta gente, o que foi? Tenho que ir embora!
- eita, ir embora pra que? Orar? Só faz isso? Vai virar pastor é Lorenzo? - ironizou João como de costume.
- Para gato, não fala assim com nosso obreiro - Rebeca deu continuidade a ironia de João. 
Vou contar de forma resumida como esses dois pombinhos tortos se apaixonaram. Sempre fui muito ligado com a Rebeca e quando ela me disse na 6 série que estava apaixonada pelo João, minha reação não foi outra a não ser virar cupido desses dois. Me arrependi meses depois porque fui meio que deixado de lado, mas me orgulho. Os dois se completam e por mais que a Rebeca tenha um estilo lésbico de levar a vida ela o ama e os dois fazem bem um ao outro. Estão juntos desde então e prometeram semana passada no recreio que fugiriam um mês após eles se formarem na faculdade. Tá vendo, uma história curta é engraçada, rezemos para que realmente vire algo no futuro e não seja mais um daqueles lindos romances do colegial.
- Você vai numa festa com a gente hoje! - Rebeca exclamou enquanto jogava o estojo dela no meio da rua, ela queria literalmente se livrar dos estudos , por aí já imaginamos como ela seria na faculdade.
- Não gente, nem inventa -lamentei e levantei.
- Poxa de uns tempos pra cá você anda tão fechado - João começou com a sua facilidade de convencimento - a gente terminou o ensino médio, todos vão se reunir lá em casa, para se despedirem.
- Não nos magoe, a gente quer este momento contigo garoto, nem inventa moda e vamos logo. Temos que ter esse momento juntos. - finalizou Rebeca se levantando e colocando a mochila nas costas, João também se levantou. Os dois ficaram calados, me encarando e esperando minha resposta.
- Tá bom eu vou, mais volto antes das 22. - concordei, eles sabiam que eu não iria, porém aprendi a fazer isso pra sair dos milhares convites de festas que esses dois me faziam.
Depois disso nos despedimos e cada um foi para o seu canto, eu fui pra casa.
  Cheguei em casa e meus pais estavam agitados, arrumando malas no carro. Eu simplesmente havia me esquecido que eles iriam pro retiro da igreja hoje, sim meus pais são pastores de uma igreja que sempre faz esses retiros ao monte antes de qualquer férias. Eu sempre era obrigado a ir, mais nesse dia parecia que já estava programado pra dar tudo errado. Meu pai disse que entendia eu estar cansado e que se eu quisesse ficar que, naquela única vez eu poderia porque eles estavam orgulhosos por eu terminar a primeira parte dos estudos, por mais que pra mim significasse grande parte dos estudos. Eu não cogitei em momento algum. Não demorou para que o senhor pastor Roberto e a senhora pastora Ana fossem para o tal retiro.
  Jantei, tomei banho, e deitei. Nem me arrisquei abrir o celular porque sabia que Rebeca já havia mandado milhões de mensagens. Quando eu deitei, parece que uma força maior fazia com que eu tivesse curiosidade de saber como era essas festas afinal, eu já tinha 17 anos e nunca havia saído antes para festas adolescentes. Aproveitei que estava limpo, vesti uma calça jeans preta, uma camisa vermelha e minha jaqueta preferida, a de couro preta que ganhei do meu pai quando ele disse que eu já estava pronto para ser homem. Nunca tinha usado essa roupa antes, fui para a frente do espelho e me senti estranho, porém bonito e atraente. Meu cabelo liso castanho mel pareciam combinar perfeitamente com a minha pele parda e meus olhos verdes, eu amava o sinal do início da minha barba, que ainda estava a crescer. Me senti pronto, peguei um táxi e fui para a casa do João.
- Não acredito que você veio! - João disse espantado quando abrir a porta da mansão, seus pais haviam viajado e estava cheio de adolescentes bêbados, música alta e do lado de fora do quintal do outro lado da piscina um grupo de jovens fumando. Ele me entregou um copo , disse que era pra eu me soltar, e eu coloquei na boca, quando senti um gosto estranho cuspi fora. Disse que iria pegar um pouco de ar.
Me desesperei, como eu vim parar aqui? Por que eu vim se não consigo me enturmar. Pelo vidro da porta eu via Rebeca e João se divertindo, felizes e prevalecente bêbados em meio aos outros alunos do colégio. Eles acenaram pra mim, me chamando e eu disse que já iria. Depois de alguns minutos, eu já estava ali mesmo, o que de pior poderia acontecer? Decidi beber um copo.
- O que estão bebendo? Eu quero um copo - gritei perto dos dois, a música estava muito alta.
- É Vodka! - Rebeca respondeu e me entregou um copo já preparado, eu encarei por alguns segundos esse copo na minha mão e decidi o que fazer.

1 Copo - Quando virei aquele primeiro copo senti minha garganta queimar, parecia estar bebendo algo velho e ácido.
2 Copo- Percebi então que quanto mais eu bebesse e me entrosasse, mais ficaria legal e sociável então como João mesmo disse quando se espantou já me ver com outro copo cheio "Cachaça pra nós".
3 e 4 Copo- Eu já estava dançando, me entrosando no meio de pessoas que diziam sempre desconfiar que eu adoraria tomar um porre, ignorei o fato é continuei, eu realmente estava adorando essa nova experiência.
No quinto e sexto copo eu já estava bêbado, assim por dizer. Em meio à confusão de sentimentos que se tornou minha cabeça eu me perguntava como alguém se tornava 100 vezes mais legal e popular do que já era só porque bebia igual um funil sem limites.
Umas duas horas após o primeiro copo, eu não sabia ao certo quanto tempo já havia se passado eu cheguei ao tão esperado 7 copo. Se eu pudesse voltar no tempo, parar no sexto copo e ir embora, eu faria. Mais era meu destino, aquilo estava pronto para acontecer.
Sétimo copo de algo que eu bebi -
Eu já estava ficando enjoado, com o copo ainda a mão, por meio cheio decidi pegar um ar. Fui parar área externa da enorme mansão de João e sentei-me meio escondido logo atrás da piscina, confesso que o medo de me animarem a beber o oitavo copo fez com que eu meio que me escondesse perto a muralha que cercava a casa.
Sentei e fiquei pensando, acho que isso é coisa de bêbado mesmo.
- Você está bem? - escutei uma voz ecoar saindo de baixo da árvore em que os fumantes agora estavam, aposto que não era só cigarro que rolava ali.
- eu to! Respondi e virei-me, curioso ao saber quem seria tão entrosado ao ponto de perguntar a uma pessoa prestes a vomitar se ela estaria bem.
Era Lucas, um aluno do 2 ano que eu via sempre de relance nos intervalos. Como sempre estava de preto, a novidade desta vez, era uma jaqueta de couro marrom que torneava todo seu corpo.
Não me julgue. Não diga que eu poderia evitar. É meio esquisito contar a minha própria história sem lembrar ao certo de alguns momentos mais o que eu me lembro é que a gente conversou um pouco, ele sentou, me ofereceu um cigarro eu neguei dizendo não fumar e ele colocou o maço novamente no bolso da jaqueta. Lembro de sentir a respiração dele próxima a minha. Seus olhos extremamente pretos me encararem e sua mão tocar meu maxilar. Ele me beijou, ou eu beijei ele não saberei ao certo lhes dar essa resposta. Lembro que seu beijo era molhado e que não havia durado mais de 5 segundos, porque eu havia revidado no impulso. Mas na hora em que nossos lábios se tocaram a única coisa de que me lembro, era o barulho de um flash.
Sim! Alguém havia fotografado aquilo, eu bêbado e sem jeito até pra levantar sai desengonçado, sem me despedir da Rebeca e do João, peguei um táxi que passava ali naquele exato momento, parecia ser tão previsível o que iria acontecer que até um táxi estava a me esperar. Lembro de entrar naquele táxi, explicar onde era minha casa e ele percorrer Jataí inteira as 4 da manhã procurando minha casa, fazendo perguntas e eu custando responder porque a única coisa que eu poderia pensar era; por que eu fui naquela festa?
Eu não sabia, porém o que aconteceu foi uma tragédia. Foi um divisor de águas que encaminharia pra tudo que viria depois. E quando cheguei em casa, joguei-me na cama e dormi. Eu mal imaginária o que aconteceria depois e de como minha vida se tornaria um inferno.

Tormento|Saga Camaleão|Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora