White

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  Podia-se dizer que era uma manhã comum, embora Yixing não pudesse diferenciar as manhãs clarinhas com o céu azulado da primavera, das manhãs frias e cinzentas do inverno, ou até mesmo do entardecer alaranjado do outono; seu mundo era cinza, em diferentes tons, do branco ao preto, mas ainda assim, cinza.

  Preso em sua eterna monocromia, o chinês sempre manteve guardado o desejo pelas cores, a curiosidade de saber o que eram aquelas coisas de que todos falavam, amarelo, azul, vermelho, eram só algumas palavras soltas em sua mente, sem um real significado.

  Como uma pessoa que procura por uma música sem ao menos saber o nome, o Zhang procurava pelas tais cores.

  E talvez por essa curiosidade tenha escolhido o curso de artes visuais na faculdade. Não teve nenhum problema com as atividades curriculares ou as matérias apesar de tudo, sua visão monocromática era encarada como uma perspectiva especial, uma nova visão artística era sempre bom.

  Isso até a professora maluca de linguagem fotográfica resolver pedir um monólogo sobre cores e sensações.

  Tudo bem que o chinês poderia resolver isso simplesmente procurando pelo tema na internet e mudando algumas palavras na hora de reescrever, mas a mulher insistiu que suas palavras deveriam ser sinceras e profundas, como se contasse suas próprias experiências. "Pense nisso como um desafio, hm? Artistas de verdade sempre procuram por desafios." E com dois tapinhas no ombro do moreno deixou que o mesmo se virasse com seus conflitos internos. Ótimo, seu último ano de bacharelado e teria que acrescentar mais dois meses por reprovar logo em linguagem da fotografia.

  O garoto de fios em um tom claro de castanho passou a maior parte do intervalo pensando no quão difícil seria escrever sobre algo tão abstrato para si. Estava tão concentrado nos próprios pensamentos que sequer percebeu que detrás das escadas era observado por uma cabeleira rosa e um par de óculos escuros.

  Kim Junmyeon continuou ali por alguns minutos, vendo o chinês encarar as próprias mãos enquanto pensava, com as bochechas levemente infladas e as sobrancelhas arqueadas, sua expressão levou o coreano a tentar imaginar o que se passava pela mente do moreno, o Kim vivia tentando imaginar o que os outros pensavam.

  Mas Yixing era tão indecifrável.

  E esse era um dos motivos que levavam o coreano a prestar tanta atenção no aluno quieto e centrado das aulas de arte.

- É por causa do trabalho com as cores, não é? – Acabou deixando que suas imaginações criassem voz sem ao menos perceber, recebendo um olhar assustado do mais novo que só agora se dera conta da presença do outro. – Quer dizer... Você está tão pensativo, eu achei que fosse isso.

  O Zhang conhecia Junmyeon a alguns anos, já que faziam praticamente as mesmas aulas, mesmo assim, nunca haviam se falado antes. Na verdade, o moreno não se lembrava de ter conversado com muitas pessoas dali.

- Eu realmente não sei como fazer isso! – O garoto desabafou com o colega de classe que mal conhecia. – Droga, sabia que deveria ter escolhido o curso de marketing. – Sussurrou dessa vez, estava falando mais consigo mesmo que com o garoto de cabelo rosa, tão cinza quanto qualquer outra coisa que Yixing pudesse ver.

  O moreno não gostava dos óculos escuros do mais velho, mas ele insistentemente vivia usando aquele mesmo par de óculos sem graça, ah, se o chinês pudesse enxergar as cores ele nunca usaria óculos escuros. Nunca se cansaria das cores. Mas talvez só pensasse isso porque não as conhecia, talvez existissem pessoas que preferiam um mundo cinza mesmo.

- Oh, não seja bobo, você não precisa conhecer algo para saber como ele é. – O de pele alva afirmava com a maior tranquilidade do mundo, o que só fez com que a cabeça do colega de classe ficasse ainda mais confusa. – Eu posso ajudar você com isso, se quiser.

ᴄᴏʟᴏʀғᴜʟ × ꜱᴜʟᴀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora