Serena

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São 02:07 da manhã, Serena está fazendo o maior esforço do mundo para a madeira de seu piso não ranger, e a denunciar espionando sua mãe no meio da madrugada. Ela está tentando ouvir a sua conversa no telefone, ela falava tão baixo que até parecia que sabia que estava sendo espionada.

Depois de uma longa conversa, que aos ouvidos de Serena eram palavras borradas, tudo que Serena ouviu foi: "O corpo irá ser examinado amanhã" e sua mãe murmurou um "Boa noite" e desligou. Serena deu um pulo nos degrais do apartamento, correu silenciosamente para seu quarto fechando a porta. Pegou o seu celular e digitou rapidamente para as suas amigas, hesitou para clicar em enviar. Preciso contar pessoalmente, pensou.

Serena

Um dia antes

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-Se vocês beberem mais um pouquinho vão ficar mais altas do que esses prédios. -disse Lola, jogando seus cabelos pretos para o lado contrário do costume. Lola sempre foi a mais responsável, por ter os pais tão preocupados, mas eu sei que por debaixo daquela máscara tem uma garota má dentro, no sentido bom é claro. O resto de nós rimos com o seu comentário.

Estávamos em uma rua larga e vazia, a iluminação dos postes nos guiavam para nenhum lugar junto ao silêncio da rua, os únicos pequenos sons que nós escutávamos eram nossos passos e bem de longe a parte movimentada da cidade, no centro, com barulho de sirenes de ambulância, policia, buzinas e o trânsito.

Depois de fazer compras no shopping, gostamos de passear por aqui, é um clima bom. Cada uma tinha uma smirnoff na mão, com exceção de Lola, que segurava uma heineken, e já estava satisfeita com só duas em quanto ao resto já estava na quarta. Andávamos de braços cruzados uma do lado da outra, isso desde o primário. Soltei o braço de Scarlett, a menina de cabelo californiana que eu conheço desde que eu nasci, antes de eu conhecer as outras. Puxei meu Marlboro do bolso e acendi, só fumava eles quando era extremamente necessário ou quando eu estava afim, mas ainda não era um vício.

-Pra que o trago? -perguntou Scarlett, ela gostava de saber o motivo das coisas, especificamente por que as pessoas faziam certas coisas. Traguei e soltei.

-Você deveria ter visto a nota que o britânico me deu naquele resumo de quatro páginas! Me matei fazendo aquilo e ele me deu um C! -falei colocando a mão na minha cabeça puxando meu cabelo para trás da orelha. E já eu, me preocupo demais com as coisas e tudo pra mim tem um certo impacto. Todas nós somos inteligentes, mas somos diferentes em relações a notas. Eu fico injustiçada e frustrada quando não ganho o que merecia, já Lola fica triste e no final fala que mereceu, Scarlett não liga para notas ela se preocupa em aprender do que tirar uma boa nota, e Hayley se for acima de B está tudo bem.

-Não seja tão dura com ele! -disse Scarlett, eu parei de andar e franzi a testa olhando pra ela. Hayley e Lola também pararam, eu traguei o cigarro novamente.

-O que? -Hayley e Lola gritaram na rua. Eu soltei a fumaça pra fora e joguei o cigarro no chão.

-É a terceira vez que você defende ele essa semana! -eu a denunciei -Eu sei que ele é bonito mas...

Olhei bem nos olhos dela, cor castanhos, ela mordia seu lábio rosado e carnudo.

-Meu Deus! Você está dormindo com o nosso professor! - eu abri outra garrafa.

-Agora está tudo explicado! Você sempre foi a favorita dele! -disse Hayley

-Não é nada tão sério assim. -Scarlett disse

-Você está louca? Ele pode ir para cadeia por isso. -Lola era a única que estava realmente preocupada.

-Porque sempre são os professores de literatura? -eu falei

-Como você descobriu isso? -perguntou Scarlett olhando pra mim.

-Você não é boa em esconder segredos.

-Você que é muito boa em descobri-los! -rebateu Scarlett.

-Então...- disse Hayley jogando seu cabelo ruivo sobre a cara e fazendo uma voz que era para ser sexy. -O professor sabe dar aula mesmo?

Todas rimos.

-Melhor do que qualquer calouro por ai.

-Você é muito safada, Scarlett Viena- eu disse. Sentamos no meio fio na frente de um prédio e ficamos em silêncio. Até Lola quebra-lo.

-Dá para acreditar que estamos no último ano de colegial?

-Parece que foi ontem que matávamos aula para ir tomar café em frente da tifanny's

-Ou que brincávamos de esconde-esconde na rua

-Deus, tudo é tão rápido.

O que é verdade. Relacionamentos , felicidade, infância, nossa vida.

Terminamos as bebidas, deixamos a metade das garrafas na rua, eu sempre guardava pelo menos uma, era um questão de memórias que guardava no meu guarda-roupa e eu deixava uma incógnita na rua, com a intenção de alguém sentar de madrugada no meio fio e se perguntar quem teria bebido, ou porque, menina ou menino, tinha companhia ou era sozinho, estava feliz ou machucado, provavelmente amando.

Prosseguimos andando, dessa vez o destino era a minha casa. Já era 00:30 de sábado, ainda iriamos fazer uma maratona de How to get away with murder e comer batata frita. Iria ser um sábado legal e normal se a Hayley não tivesse gritado, seu grito ecoou na rua inteira. Meu coração apertou. Ela estava na frente de nós e fomos correndo até ela, dois quarteirões antes do meu prédio tem um terreno abandonado, cheio de mato. Ela estava parada no meio fio olhando fixamente para algo no chão. É um corpo.

Sem vida. Um olhar fitando o vazio. Provavelmente um senhor de meia idade, sua cara estava esfolada e ensanguentada, nem se eu o conhecesse antes eu não o reconheceria. Fiquei imóvel. Todas nós ficamos em estado de choque, até que alguma de nós surtasse primeiro.

-Quem quer que tenha feito isso, esta por ai! Pode estar aqui com a gente! - gritou histérica, Hayley.

-Ele esta mesmo morto? -Scarlett abaixou para encostar em seu pulso.

-NÃO ENCOSTA! -gritei mas já era tarde demais.

-Nós temos que chamar a polícia! -disse Lola

-Minha mãe é da policia! Ela vai investigar isso. -gritei de novo, apavorada, andei de uma lado pro outro. -Vamos ligar para emergência e reportar anonimamente.

Os olhares delas estavam no chão, perdidas em seus próprios pensamentos. Peguei o meu celular e digitei 911.

-Você não pode ligar, sua mãe vai reconhecer sua voz na ligação. Eu ligo. - Lola tinha razão, não seria nada legal a filha da detetive denunciar um corpo no meio da noite e a filha que se intromete em quase todos os casos de sua mãe. Lola pegou meu telefone discou, tocou 3 vezes até atenderem. Ela fez uma coisa que nem eu tinha pensado.

-Ola! Eu moro na rua Lincon, estava passeando com a minha cadela e ela encontrou um corpo, um corrpo morto. -ela falava rápido e com sotaque mexicano que herdou de sua avó, puxava o r e falava gírias que não conhecia. Ela desligou.

-Temos que sair daqui. Eles estão vindo. -Colocamos as garrafas dentro da bolsa e corremos até a minha casa.

O último anoOnde histórias criam vida. Descubra agora