"BASTA! POR FAVOR APENAS CALA-TE!" - gritou. O homem empalideceu de tal forma que se teve de se encostar à parede com a força de tal grito - "Iz...? Tu nunca levantaste o teu tom de voz a ninguém...". Ela tirou os olhos do chão e encarou a sua cara: "Então agora podes entender o quão hm... como eu estou neste preciso momento!".
Acordou a estremecer quando no seu sonho se lembrava desta conversa, daquela conversa que lhe vez mudar tudo na sua vida, a abandonar o seu ninho e "cidade natal" atrás de um sonho bem longe de casa. O pensamento e a memória daquela conversa ainda continuava presente em mente.
"Mas...?" "Não. Eu preciso de ir, não posso ficar aqui sem saber quem eu sou, as minhas origens nem seguir os meus sonhos". "Mas queres voltar para Portugal? Saíste de lá tão novinha, nem dez anos tinhas!" . "Desculpa, tenho de ir. Vivi lá metade da minha vida, acho que estou preparada para viver mais lá". "ENTÃO VAI! VAI! MAS NUNCA MAIS VOLTES A ESTA CASA!" - gritou-lhe o homem. "Mas...?!" - disse com os olhos em lágrimas, mas ele já lhe tinha aberto a porta e apontado para a rua. Não era nada disto que ela queria.
Já estava a chorar. Queria acalmar-se, então sentou-se na borda da sua cama e meteu alguma música para tentar afastar aquele pensamento dela e, ao fim de uns minutos, Íris lá teve forças para encarar o novo dia.
Como é que em tão pouco tempo a sua vida e atitudes escalaram assim tanto? Como é que em 4 dias, toda a sua vida mudou? Abandonando o Brasil e abandonada no mundo pelo seu pai, que não lhe perdoava por querer vir para a verdadeira terra-natal, para a terra que viu nascer ambos, Portugal. "Já passaram 3 meses depois desta conversa. Vá lá Iz, tu consegues" - pensou.
As suas pequenas janelas encontravam-se plenamente embaciadas devido à grande diferença de temperatura entre a casa e rua, mas para Íris isso apenas significaria um excelente dia pela frente. Enquanto com o seu pequeno dedo ia desenhado uns boneco nas janelas, observava o tempo na rua. Estava um dia bastante agradável a seu ver, um dia tal como ela mais gostava nesta sua nova cidade de Lisboa. Um daqueles dias que a faziam sentir mágica e que a apaixonavam eternamente.
O sol brilhava e nem uma única nuvem se via no céu, havia aquela pequena brisa gélida, mas não gélida o suficiente para estragar um dia. Pairava no ar um quente e doce cheiro a castanhas assadas. Estava, sem dúvida, um agradável e belo dia de Inverno, naquela cidade tão bela e mágica que apaixona qualquer um que por ali já tenha passado e visitado.
Acabada de se arranjar para ir sair, apenas lhe faltava tomar o pequeno-almoço antes de ir explorar mais um pouco daquela grandiosa cidade. Íris, dedilhava o seu livro de receitas procurando a receita para o seu pequeno-almoço e no fim, lá decidiu ir pela sua primeira escolha: umas belas panquecas americanas com um pequeno fio de xarope de Ácer. Para acompanhar as panquecas, resolveu fazer um chá quentinho e, entre as caixas de pertences e caixas de móveis por montar, colocou o seu pequeno-almoço à janela e de lá, deleitava-se com o pequeno almoço e com esplêndida vista sobre a cidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
mercury rose
RomanceVivemos numa sociedade sem rosto, onde todos os dias nos cruzamos com as mesmas pessoas, essas mesmas pessoas que sem alguma expressão no rosto, fazem todos os dias os mesmos percursos diários. Que todos os dias vivem e experimentam as mesmas coisas...