Capítulo 16

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— Onde ela está? – Dulce perguntou, assim que Maite abriu a porta, enquanto esticava o pescoço pra tentar ver dentro da casa.

— Dulce... acho que esse não é o melhor momento. – Maite respondeu, segurando a porta, barrando a passagem da prima. — Poncho não está... se ele souber que você veio aqui enquanto ele estava fora, vai sobrar pra mim, então por favor, não insista.

Dulce balançou a cabeça. Desde quando Maite ajudava Alfonso a trazer mulheres para a Costa? Era inacreditável como até mesmo sua prima parecia fazer de tudo para provocá-la. Sempre foi assim, desde que eram mais novos; quando Alfonso estava na ilha a atenção dele era toda de Maite, eram os melhores amigos do mundo, ele mal olhava pra ela. Foi apenas muito tempo depois, quando já eram jovens que Dulce teve uma chance com ele. Tudo aconteceu durante o Festival de Assunta, por coincidência aquele era o dia do festival, que se dava em Agosto, quando os habitantes de Positano comemoravam a chegada da imagem de Nossa Senhora da Assunção às praias do vilarejo. A celebração durava dias, contando com missas na Igreja que lavava o mesmo nome da santa, procissões e com shows musicais e queima de fogos de artifícios, que podiam ser vistos das sacadas das casas e hotéis, das praias ou até mesmo em alto mar.

Alfonso estava na ilha junto com Bianchini e aceitou o convite de Maite e alguns amigos para ver os fogos nas areias da Praia da Fornilla. Dulce os acompanhou. Ela tinha 15 anos então, mas sabia exatamente o que queria. Ela queria ele. Ela queria Alfonso. Conforme a noite avançava, garrafas e mais garrafas de vinho se empilhavam ao lado do grupo de amigos. Alfonso era de longe o que mais tinha bebido, quase nunca sua taça estava vazia. Dulce o observara a noite toda, estudando sua fisionomia, calculando suas ações. Ele estava ali, mas ao mesmo tempo era como se não estivesse, o olhar distante que fitava o mar o denunciava.

O que a garota não sabia é que Alfonso se encontrava fragilizado, comprimido sob o peso de uma revelação aterradora sob seu passado, que só havia descoberto naquela mesma noite mais cedo, quando adentrara o escritório do pai adotivo e escutara o que não devia. O garoto de origens mexicanas de apenas 17 anos na ocasião desejava nunca ter aprendido italiano, porque assim não teria podido entender o que Bianchini e seu camarada falavam. Seria melhor assim. Muito melhor.

Se aproveitando do estado ébrio de Alfonso, Dulce o convidou para um passeio pela orla. Ela conhecia uma gruta ali perto que era muito bonita e queria mostrar a ele. Maite não gostou da ideia, insistindo com Alfonso pra que voltasse para casa com ela e com o seu então namorado, mas ele não deu ouvidos, precisava tirar a cabeça do que vira, do que ouvira. Embora não fosse muito íntimo de Dulce, decidiu acompanhá-la.

Naquela noite tudo se resumia aos dois sob o luar, a música do festival tocando ao longe e uma garrafa de vinho por companhia. Foi a primeira vez de Dulce e a segunda de Alfonso. Antes daquela noite, Bianchini o forçara a dormir com uma prostituta no seu aniversário de 15 anos. A única palavra que vinha a cabeça de Alfonso para descrever aquela primeira experiência sexual era: Horrível. Ele não estava preparado, não naquele momento. Na verdade, sempre imaginara que sua primeira vez seria com alguém a quem amasse. Todos o julgavam um tolo por isso, mas ele sonhava em um dia se apaixonar e formar uma família para chamar de sua.

Alfonso se desculpou mais vezes do que podia contar com Dulce pelo que tinha acontecido, se sentiu péssimo quando ela lhe contou que aquela tinha sido sua primeira vez, mas ela lhe assegurou que tinha sido especial mesmo assim; o que não tirou o sentimento de culpa dos ombros de Alfonso... principalmente quando Dulce apareceu um mês depois dizendo que estava esperando um filho dele. A primeira numa lista enorme de mentiras contadas por ela ao longo dos anos.

Alfonso gostaria de dizer que aquela foi a única vez que caiu na conversa de Dulce, mas estaria faltando com a verdade. Não, eles haviam transado algumas vezes no correr dos anos, dessa vez com o cuidado de estarem protegidos. Ele não queria ser enredado por ela em mais uma de suas teias de mentiras. Dulce gostava dele e estava sempre disponível, o que tornava as coisas fáceis para Alfonso; mas houve um momento em que ele deixou de ser interessar por ela. Já fazia dois anos ou mais desde a última vez que haviam dormido juntos e Alfonso não tinha a menor intenção de mudar aquilo.
Dulce, porém, insistia em criar uma versão dos fatos na sua cabeça onde ele devia satisfações de sua vida a ela. E sempre que estava em Positano era a mesma coisa.

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