UM

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Antes de tudo, gostaria de deixar um aviso que também está na sinopse desse conto:

Esse é um conto que faz parte do universo de A Disforme (disponível aqui no Wattpad). NÃO recomendo que leiam A Disforme antes de ler esse conto (acredito que seja legal ler os três primeiros capítulos do conto, depois os três primeiros de A Disforme, terminar o conto e então continuar a ler A Disforme. Isso é só uma sugestão da autora), mas se já leu o livro agora terá um pouco da história através dos olhos de Mila.

Já deixo aqui também um breve glossário para não ficarem tão perdidos:

Apolíneos e disformes: o mundo passou por uma longa guerra e por fim a sociedade foi dividida entre apolíneos e disformes. Belos e feios. Basicamente a divisão social é baseada num padrão de beleza estabelecido por meio dos testes harmônicos. Apolíneos são os governantes e a classe mais abastada, disformes são os desprezados  e os que sofrem as custas dos apolíneos. Existem algumas categorias de apolíneos: classe um(nascidos belos e de família apolínea); classe dois (de família apolínea, nascidos com imperfeições que futuramente serão corrigidas por meio de procedimentos estéticos e/ou cirurgias); classe três (nascidos disformes de família disforme que conseguiram juntar dinheiro para pagar pelos procedimentos e cirurgias e então alcançar o título de apolíneo - nenhum disforme conseguiu)

Guarda de Apolo: exército oficial do rei.

Decorem Electi per Rex (D.E.R.): em latim significa "Beleza escolhida pelo rei" e é um concurso para escolher a próxima família real do reino da Nova Eurásia. Apenas apolíneos de classe um podem participar da disputa pelo trono.

Agora podemos ir para o conto. Boa leitura!

***

Acordei. De novo.

Estava escuro lá fora e as crianças birrentas do orfanato ainda estavam dormindo. Aproveitei para usar o banheiro antes que fizessem fila na porta. O pequeno banheiro fedia como sempre, mas eu já estava acostumada. Quando saí, vi algumas das pirralhas levantando e bocejando. As novatas desejaram bom dia, mas eu não retribuí. Nenhum dia era bom.

Cruzei com a monitora Judy no corredor. Gostava dela porque não falava muito, assim não enchia o saco. Toda vez que ela passava pelo corredor dava para saber que estava vindo devido ao ranger das tábuas velhas. Ouvi os gritinhos das crianças quando ela foi acordá-las com seu apito. Algumas já estavam se acostumando, outras nunca se acostumariam. Judy apitou incessantemente até que todas as crianças estivessem de pé como sempre fazia.

- Não quero ninguém reclamando! Ei, você, levante ou vai ajoelhar no milho! Vamos! – gritava ela. Isso era tudo o que ela diria, com algumas alterações pelo resto do dia.

Desci as escadas e fui até a cozinha, onde dona Betty e governanta Cosmina esperavam pelo café da manhã. Dona Betty era a cozinheira. Não falava muito também, mas fazia boa comida e isso era o que realmente me importava. Sentei numa das mesas, peguei as torradas com geleia e um pouco de café.

- Bom dia, Mila. – disse Cosmina com sua voz velha e frágil.

- É. – respondi. Ela poderia insistir o quanto quisesse, eu não seria como os outros trouxas daqui. Essa velha tentava me fazer acreditar que as coisas seriam boas, mas eu sabia muito bem que ela estava errada. As coisas nunca foram boas. Não para mim.

MILA - Um Conto de A DisformeOnde histórias criam vida. Descubra agora