Haverá perdão?

4 0 0
                                    


 Conversamos um pouco sobre coisas banais, e fomos ler. Passamos algumas horas, sentados no sofá, perdidos em meio a uma imensidão de palavras. Paramos quando sentimos necessidade de comer novamente. Fomos até a cozinha, e comemos alguns salgados. Mesmo com poucas palavras sendo ditas, ele consegue me trazer um bem estar, e acredito que isso seja raro. Acostumei-me a conviver com pessoas que incomodam até mesmo sem falar uma só palavra, e ele é totalmente diferente. Devo ter encontrado muitas pessoas assim pelo meu caminho, mas alguns pensamentos nos cegam. É necessário muito mais do que ver, precisamos também enxergar.

Fui para o meu quarto desenhar um pouco. Nunca mais desenhei, mas uma vontade incontrolável me dominou, e lá vou eu, pegar o lápis, a borracha e o papel.

Fiquei alguns minutos sem saber o que desenhar. Nada aparecia. Tentei desenhar diversas coisas, mas nada fluía. Foi então que me lembrei daqueles olhos intensos, e boca vermelha. Passei então para o papel. O lápis deslizava livremente e construía aos poucos o rosto do homem que estava lendo na sala. É uma arte, não só o desenho, mas o seu rosto em si. Ele era uma verdadeira obra de arte, e eu tenho curiosidade para saber mais sobre ela.

Guardei o desenho na gaveta, e fui dormir um pouco. Criei o hábito de dormir durante a tarde, mas ás vezes isso me atrapalha, principalmente em dias de semana, mas hoje é domingo. Deito bastante aliviado, e fecho os meus olhos.

Quando eu acordo, já havia escurecido. Vou até a sala, e não o encontro. Ele também não está na cozinha, nem no banheiro. Será que ele saiu?

Vou até a varanda, e lá está ele. Seus olhos estão inchados, vermelhos, e cheios de lágrimas. Ele olha para o lado contrário ao meu, como se isso fosse esconder seu sofrimento. Fico parado, sem saber o que fazer. Vê-lo novamente nesse estado faz uma lágrima cair pelos meus olhos. Eu me aproximo dele, e toco a sua mão. Ele me olha da mesma forma que me olhou na tarde de ontem. Como posso ajudá-lo dessa vez?

-Você quer falar sobre?

-Não é nada demais- Ele diz, e limpa com a mão as lágrimas em seu rosto.

-Claro que é, você está chorando.

-Minha mãe me ligou.

-E isso é muito ruim?

-Não o fato de ela ter me ligado, mas por ela ter precisado me ligar.

-Aconteceu algo com ela?

-Ela está bem, quero dizer, não tão bem assim. Ela não queria que eu saísse de casa, mas infelizmente, na minha casa o meu pai manda. Nós vivíamos cabisbaixos, não tínhamos o que fazer. Queria muito que ela se separasse dele, mas eu não tinha para onde ir, imagine ela. Ele foi horrível com nós dois, ele não nunca vai ter o meu perdão.

-Nossa, eu realmente não sei o que dizer- Eu digo, e ele se vira para mim e olha nos meus olhos.

-Não precisa dizer nada.

-Eu não queria te ver assim, queria te ajudar mais, mas não sei como.

-Você já me ajudou muito, Douglas. Muito obrigado por tudo, eu realmente não sei o que teria acontecido comigo se eu não te encontrasse- Ele segura a minha mão – Eu espero que eu consiga um dia te recompensar um pouco por tudo o que você fez por mim.

O meu coração bate cada vez mais forte. Sem nem mesmo eu querer, eu começo a sorrir e uma lágrima escapa dos meus olhos. O que ele está fazendo comigo? Sua boca se aproxima cada vez mais da minha, e suavemente seus lábios tocam os meus. Um misto de sensações vieram à tona. Algo forte tomou conta de mim, e isso era exatamente ele. E sem nem perceber eu estava entregue. Totalmente entregue. E depois desse momento, me entreguei a ele cada vez mais. Era recíproco. 

********************

O próximo capítulo é o último. Espero que estejam gostando, e muito obrigada por estarem lendo <3

O Homem Quase InvisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora