4. XEQUE-MATE

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— Isso não está certo. — Diana meneou a cabeça, de braços cruzados, olhando pela janela da sala da Sra. Borges.

— Está com remorso?! — questionou a Sra. Borges, ao lado. — Mesmo sabendo que é errado, você o fez!

A garganta de Diana inchou — Marta descia as escadas da varanda cabisbaixa e algemada, acompanhada por três homens de preto.

— Enquanto apertava meu pescoço contra a parede me deixando sem ar — continuou a dona da casa — obrigou Marta a pegar a arma, para que deixasse as digitais e, em seguida, segurando as mãos dela, atirou em alguma direção para fingir que ela havia tentado disparar contra você sem sucesso; tudo isso sob ameaças de morte e-

— Eu sei! — cortou Diana. Marta agora entrava num carro escuro com uma sirene vermelha quadrada em cima, o rosto machado de lágrimas. — Sei exatamente o que fiz, mas isso não quer dizer que estou orgulhosa. Ambas sabemos o real motivo de estarem levando-a.

Fez-se silêncio por um segundo.

Mesmo sem verificar, Diana sabia que as sobrancelhas da Sra. Borges tinham se alojado.

Ela apertou os lábios.

— Ela é negra — esclareceu, puxado a cortina quando o veículo partiu. E ainda encarando o grosso tecido cinza, continuou: — Do contrário, teria noventa por cento de chances de se safar, ter a pena reduzida, ou qualquer outra falcatrua, mas... — Ela se virou calmamente para a Sra. Borges. — Infelizmente as leis brasileiras só protegem os negros na teoria.

A Sra. Borges torceu os lábios.

Infelizmente?

Diana arfou, batendo as mãos ao lado do corpo.

— Essa foi a razão para crerem que ela era a mulher que estava com uma arma, Sra. Borges, e eu a que havia feito a ligação. Por isso acreditaram quando você abriu a porta e disse que eu era uma amiga distante sua, que veio fazer uma visita pela manhã, te acordando cedo demais por estar com muitas saudades, e que, ela, por alguma razão louca, tentou atirar em... mim — um soluço entrecortou-a a voz. Suas pálpebras tremeram. — Porque Marta é negra, Sra. Borges. Esse é o real motivo de ter sido presa.

A Sra. Borges piscou.

— Está arrependida?

Diana demorou a responder.

Ela abaixou a cabeça, passou as mãos no cabelo, como se refletisse a respeito da questão, e soltou um suspiro denso, que transparecia a ponderação conturbada de seus pensamentos. Seus ombros subiram e desceram.

— Darwin dizia que os mais fortes sobrevivem — disse, por fim, baixinho. — Era ela ou eu, não tive escolha. Neste momento não posso cair. Não vou cair. — Elevou o queixo, olhando a Sra. Borges por sobre o nariz; seu semblante consternado dissolvido. — Então, vamos derrubar nosso marido?

 — Então, vamos derrubar nosso marido?

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