Certa vez Amanda tinha perdido sua pulseira preferida. Grande, arredondada, cor de laranja. Ela não sabia procurar as coisas direito, sabe? Aliás, nunca achava nada, e ainda mais, esquecia tudo em qualquer lugar. Já ele não. Sabia onde estava tudo e se ela perdesse algo, rapidinho encontrava.
Quando ficavam longe um do outro, era ela quem o procurava. Nem falava nada, já dava aquele abraço e um monte de beijo nele. E ele achava incrível ouvir ao pé do ouvido:
- Eu te amo, sabia?
Como não fala, os brilhos em seus olhos eram a única, porém, a mais sincera resposta. Ela gostava. Juntos sentiam esse sentimento único chamado amor.
*
Quando era novo tinha tentado aprender a falar. Ele abria bem a boca, mexia a língua e até saíam uns barulhos. A mãe olhava para ele, mexia a cabeça e lhe dava afagos. Talvez ela soubesse, sentisse no fundo, que ele jamais falaria. Tempos depois ele desistiu, viu que não conseguia e se conformou em se comunicar do seu jeito.
Agora tudo que sentia era ausência total. O silêncio, maior que o convencional, cortava-lhe o coração assim como o vento gelado batia em suas orelhas. Olhou para o horizonte. Era um vazio grande. Ainda mais no meio do nada. Numa estrada quase deserta, uma ponte pouco movimentada na periferia da cidade. O tempo cinza parecia avisar que ficaria tudo ainda mais nebuloso. Logo, logo poderia chover, cair uma tempestade - talvez até neve.
Voltou a olhar para o rio. Seu reflexo na água se misturou com um peixe de cor amarelada. Na verdade laranja. Talvez dourada – não sabia ao certo. O peixe parecia feliz e satisfeito. Vivia num outro mundo. Um mundo melhor? Pensou em pular e aí partir para uma nova vida. Queria encontrar Amanda.
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Suas lágrimas caem pesadas sobre os meus ombros
Short Story"O peso de uma lágrima" "Suas lágrimas caem pesadas sobre os meus ombros" traz uma inspiração inovadora na leitura, mesmo diante de um tema que apresentaria um clichê: o amor. O "novo" na obra é que este tema, na atual sociedade tão abnegado e por v...