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— Rose! Por favor, me ajude com essas caixas, querida. — minha mãe chamou do andar de cima. Ela segurava uma grande caixa nos braços e parecia levemente irritada. Afinal de contas, ela foi contra a mudança até o fim.

É claro que meu pai não lhe deu ouvidos. Ele dizia que era melhor termos uma vida menos agitada no interior, e não era muito longe de Boston, caso fosse preciso ir a cidade para resolver algo da empresa. Então, encaixotamos tudo, compramos uma casa e fomos para Southbridge. E de nada adiantaram os meus protestos sobre não querer deixar minha escola e meus amigos.

Subi a escada que levava até o andar dos quartos, onde minha mãe estava. Segurei a caixa de um dos lados e a ajudei a levá-la até o quarto dos meus pais. Era bonito, em tons de azul claro e branco, como uma casa de praia. As cortinas acizentadas e estampadas com pequenas conchas me lembraram rapidamente da praia. Eu quase pude sentir o cheiro da maresia.

— Querida, por que não confere se há mais alguma caixa sua na sala de estar? Estarei arrumando as coisas por aqui e depois podemos ir comer alguma coisa. — ela sorriu e se virou para abrir as cortinas, que deixaram os últimos raios de sol do dia invadirem o cômodo.

— Sim, mãe. Se a senhora precisar de ajuda, pode me chamar. — falei, educadamente. Meu pai sempre dizia que a melhor coisa que se pode ter é a boa educação e sempre fez questão que eu fizesse aulas de etiqueta. Ele não queria que eu não soubesse me comportar nos diversos jantares que ele promovia para angariar acionistas na empresa.

Desci a escada rapidamente, tentando me lembrar de onde tinha deixado meu celular. Abby tinha pedido que eu mandasse uma mensagem avisando quando tivesse chegado, então foi o que decidir fazer.

Abby era minha amiga mais próxima e mais antiga de Boston, até onde eu podia me lembrar. Eu e minha família nos mudamos de Londres quando eu tinha quatro anos, quando meu pai decidiu recomeçar do zero nos Estados Unidos. Quando chegamos, eu chorei por vários dias, até conhecer Abby, que finalmente me fez companhia. E desde então, ficamos amigas. Era bem difícil imaginar minha vida longe dela, depois de 10 anos compartilhando segredos, roupas e livros, mas imaginei que me acostumaria com o tempo.

Finalmente, acabei achando meu celular em cima da mesinha de centro da sala. Conferi se havia mais alguma caixa minha no comôdo, como minha mãe tinha pedido, mas tudo já estava no meu quarto. O que faltava ser acomodado eram algumas coisas do meu pai, que iriam para o escritório, e utensílios de cozinha. No dia seguinte, tudo estaria no seu devido lugar.

Mandei um aúdio para Abby, dizendo que a viagem tinha sido boa e que estávamos arrumando as coisas, de modo que ligaria para ela mais tarde. Era final de Agosto, quase perto das aulas começarem. Enquanto ela começaria seu primeiro ano na Fenway High School, eu começaria na Southbridge High School, uma das poucas escolas da cidade. Não estava muito animada para isso, considerando que meu pai tentaria calcular todos os meus passos e minhas amizades, porque segundo ele, eu não podia me alinhar com as pessoas erradas.

Meu pai era sócio de uma das maiores empresas de energia de Boston, a Smith Energy Corporation. Então, para ele era bem óbvio me preparar para seguir seus passos em um futuro de sucesso com os negócios. E ele e minha mãe sempre procuraram me dar o melhor e em ensinar a comportar elegantemente. Não posso dizer que não era bom viver rodeada das melhores coisas, mas as vezes soava um pouco superficial.

Os móveis da sala de jantar começaram a chegar, então decidi subir para meu quarto e arrumar as coisas por lá. Minha mãe cantarolava enquanto organizava seu guarda-roupa, concentrada, então não me notou passar. Atravessei o pequeno corredor e entrei na única parte realmente minha naquela casa.

As paredes rosa-claras ficavam ainda mais bonitas no final da tarde, já que eram banhadas pelo brilho suave do sol, que já se escondia atrás das nuvens. Meu armário branco já se encontrava no lugar onde deveria estar, esperando que eu arrumasse minhas roupas. Havia uma escrivaninha no canto com caixas ao lado, cheias de livros, que mais tarde iriam preencher as prateleiras posicionadas estrategicamente perto da minha cama.

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