Ocean Eyes

hello, you beautiful thing

Alguns dias se passaram depois que eu conheci Sam, e por algum motivo ela não saía da minha cabeça. Não pude deixar de pensar se ela estudaria na mesma escola que eu, já que haviam poucas na cidade e as chances eram altas.

Durante minha última semana de férias, fiquei praticamente o tempo todo em casa, lendo e fazendo vídeo-chamadas com Abby. Ela me contou que Amber e Nic tinham viajado juntas, mas que ela não conseguiu permissão dos pais para ir e estava sozinha, assim como eu. Queria que ela viesse me visitar, mas era muito cedo para isso. De qualquer maneira, eu sentia falta dela.

Na noite anterior ao começo das aulas, eu estava extremamente ansiosa. Não parava de enrolar mechas do meu cabelo nos dedos, o que fez com que meu pai se irritasse profundamente. Ele não tinha muita paciência para minha ansiedade, sendo ele extremamente calmo e controlado.

— Rose, pare com isso. Você não tem nenhuma razão para ficar ansiosa desse jeito. — ele falou enquanto jantávamos. A longa mesa de mogno parecia muito estranha quando só havia três pessoas jantando.

— Malcolm, é normal. Está tudo bem, querida. — minha mãe sorriu para mim discretamente.

— Desculpe. — murmurei, evitando olhar para meu pai. Eu sabia que fazia várias coisas que ele não aceitava e tentava mudar, como meu gosto por música. Ele sempre quis que eu escutasse o que ele gostava, admirasse os artistas que ele achava incríveis. Para ser sincera, meu pai parecia estar sempre procurando maneiras de me tornar uma versão mais nova e feminina dele.

— Não faça novamente. — ele disse, e eu me calei pelo resto da refeição. Minha mãe comentou algumas coisas triviais. Meu pai apenas concordava ou comentava algo rapidamente. Nada muito diferente do que acontecia na maioria das vezes.

Quando terminei de comer, deixei os talheres e o prato na cozinha e subi para o meu quarto. Sempre parecia que tinha algo de errado comigo, que eu nunca seria boa o suficiente para minha família. As vezes eu me perguntava se isso era verdade ou drama da minha cabeça, mas acabava deixando para lá. Se existe algo que não acho que seja certo contestar, são os sentimentos. Eles existem, e tentar entendé-los não adianta muita coisa.

Me arrumei para dormir e deitei na cama, cheia de travesseiros e de camadas de cobertor. Não precisaria dar satisfações a meus pais, pelo menos não hoje. Amanhã eu cuidaria disso.

Desliguei a luz e fechei os olhos.

      •

No dia seguinte, acordei cedo. Não tinha conseguido dormir direito a noite inteira, então quando amanheceu decidi aceitar que estava ansiosa demais para descansar. Quando olhei no visor do celular, vi que eram seis e meia. Eu ainda tinha uma hora e meia para me arrumar e chegar na escola com tempo de sobra.

Tomei um banho frio, o que me ajudava a pensar e me acalmar. Eu sempre fui o tipo de pessoa que tem mil pensamentos ao mesmo tempo, no mesmo minuto. E tomar banho frio, ou de olhos fechados, me ajudava a organizar os pensamentos.

Depois de terminar de arrumar o cabelo, fui para a árdua tarefa de escolher uma roupa. Não era difícil me ver tirando todas as roupas do armário e depois acabar saindo com a primeira opção que tinha pensado. Pensei em ir de vestido, ou uma saia com uma blusa branca. Acabei optando pelo conjunto da blusa e da saia, que era cor de vinho e plissada.

Peguei minha mochila, que já estava arrumada, e desci as escadas rapidamente para tomar café da manhã. A cozinha estava silenciosa, o que significava que meus pais ainda não tinham acordado.

Resolvi fazer uma vitamina, bem prática e me deixaria sem fome até a hora do almoço. Quando terminei, organizei a bancada e deixei um recado no bloco de notas do comôdo, avisando que tinha decidido ir andando até a escola. Era meu primeiro ano do ensino médio, então concluí que não haveria problema se eu andasse cinco minutos sozinha. E eu gostava de caminhar.