"A Fenômena" chegou!

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6 anos antes... 

Alice dormia no voo com os fones de ouvido quando de repente se assustou com o despertador do celular; olhou pela janela e viu o pouso do avião, já estava acostumada, mas aquele momento sempre lhe dava enjoo.

Já no aeroporto, pediu um taxi. Era jornalista e estava escrevendo um artigo sobre relacionamentos amorosos para uma matéria especial destinada a adolescentes, a pedido da revista "A Garota". Chegou até a Redação onde se encontrou com o diretor, Sr. Benjamin.

- Alice?

- Sim, sou eu.

- Estava ansioso para te conhecer pessoalmente! – dizia ele todo sorridente, conduzindo-a ao seu escritório - Adorei suas últimas postagens no Blog "A Fenômena",– continuava a elogiando - tenho te acompanhado, seus vídeos no Yooutube estão com muitos acessos! Parabéns!

- Agradeço, mas ainda tenho muito o que melhorar!

- Tenho certeza de que sua matéria em nossa Revista será sensacional! E quer saber mais? Pretendo ficar com você por aqui... Se aceitar, é claro!

- Que surpresa boa! Espero responder as expectativas.

- Seja muito bem vinda, Alice!

Quando Alice começou a "bombar" na internet, imediatamente foi convidada para aquele trabalho, era um teste para ser a colunista oficial da revista.

Alice aconselhava adolescentes sobre relacionamentos amorosos e ficou rapidamente conhecida. Ela era extremamente feminista e idealista, chamava muito a atenção das menininhas por seu tom jovial e muito bem articulada. Não era do tipo "A Gostosona", mas sim do tipo "A Resolvidona", sabia a hora exata de falar e como dizer, aparentava ser super equilibrada e ensinava como ser feliz em uma proposta que seduzia a todos. Aos 22 anos de idade nunca havia namorado, era recém-formada e e sentia realizada! Aprendeu a valorizar-se com sua mãe, professora de história aposentada.

Não tinha como ser diferente, apesar de tão pouca idade, já ganhava o suficiente para levar uma vida muito confortável; envolver-se com alguém não estava em seus planos. Por isso, aconselhava as garotas a serem independentes profissionalmente, para não dependerem emocionalmente de ninguém, seja homem ou família. Apesar de ser considerada muito nova para alguns, ela transmitia bastante confiança.

Ficaria hospedada durante o desenvolvimento da matéria em um hotel ali próximo; ela entrevistaria adolescentes em diversos pontos da cidade, para então formular seus textos. Aansiosa, seria uma experiência impar! E assim fez, começando por um grupo de meninas entre 14 e 16 anos de uma academia de dança próxima. Encerrada a entrevista, foi convidada pela fotógrafa que a acompanhava, a tomar um chá.

- Gosta de Chá? Perguntava Carolina, a fotógrafa.

- Prefiro Café... Cappuccino!- respondia Alice. 

Requisitaram ao garçom - Um Chá e um Cappuccino! Gostaria também de dois pães de mel com recheio de chocolate!

Voltando-se a Alice dizia: - Você vai adorar esse pão de mel, eu não vivo sem ele! E aí, Alice, o que achou das garotas da academia?

- Quer a verdade? Papo reto, são melancólicas! – respondia com tom de deboche - Sabe Carol... Não entendo porque para apaixonar-se é preciso sofrer tanto! Isso é coisa do século XVIII... Hoje tudo é bem simples: você escolhe o cara e ele te aceita, ou vice versa, se beijam, namoram... Experimentam! Se o cara não gostar de você, existem milhares de outros que podem gostar, além de toda facilidade dos aplicativos de encontro. Essas garotas dificultam demais as coisas!

- Alice, diga a verdade, você realmente acredita em tudo isso que diz?

- É claro que sim! Essa é a verdade mais verdadeira! É quase tão exata quanto a matemática. 

- Você nunca gostou de alguém a ponto de ficar boba!?

- Carol, quantos anos você tem?

- 18.

- Meu Deus! Você é muito nova para ser fotógrafa dessa edição!

- Não sou não! Eu estudo pra isso.

Alice riu:

- Não questionei seu profissionalismo, mas achei que já tivesse minha idade! Sabe Carol... Com a sua idade a gente pensa que se apaixona perdidamente! Mas você é capaz de controlar sua mente, ou seja, seus sentimentos, se assim quiser, e isso não sou eu que estou dizendo, existem estudos que comprovam.

- Você nunca se apaixonou perdidamente!?

- Já gostei de um garoto ou outro, mas sei muito bem controlar minha mente humana! – Respondia ela, ironicamente – E você, já?

- Sim, quase morri! Mas já está passando...

_ Poxa! Está vivendo isso!? Lamento... Mas você precisa sair dessa.

_ Hurhum... Fácil assim, né!?

- Carol, você é linda, tem apenas 18, já é fotógrafa de uma revista famosa! Você é loira!!! – dizia Alice dando ênfase em sua colocação – Magra!!! Olhe-se no espelho! Você se encaixa nos padrões de beleza! Como pode sofrer por qualquer babaca? Só um babaca pra não te querer.

- Talvez ele não me veja dessa maneira.

- Não têm como te ver de outra maneira. Existem padrões e você se encaixa em todos eles, pode crer!

O pedido chegou e elas deram uma pausa. Depois de saciar parcialmente a fome, Caroline continuou a conversa, intrigada:

- Mas... Nem quando você era mais nova? Nunca gostou de alguém que não gostava de você?

Alice tomava seu Cappuccino e respondia calmamente, ora olhando para o celular, ora olhando para o Café, como se nem se importasse tanto com a pergunta:

- Sempre quando percebo que alguém não me corresponde eu já caio fora...

 - Que bom ser assim. Alice! Para de olhar o celular e presta atenção em mim! Estou precisando da sua ajuda!

- Desculpe-me! Pode falar... – dizia ela colocando o celular na bolsa.

- Acho perfeito tudo o que diz, mas eu não acredito em você! E acho que as meninas entrevistadas têm vergonha de dizer toda a verdade, então acabam concordando com o que você fala, mas é muito difícil esquecer alguém por quem a gente se apaixona. 

- Carolzinha, preste atenção: segundo o psicólogo Albert Wakin, esse estado patológico da paixão chama-se limerância, ou seja, é quando alguém fica preso na paixão. É um estado quase psicótico, que debilita a razão, aliena.

- Hurum... Faz sentido.

- Sim! E esse sentimento provoca sintomas físicos semelhantes aos da síndrome do pânico e da depressão.

- Nossa! Isso faz muito sentido! – concordava Caroline, devorando seu pão de mel.

- Como não há estudos específicos que definam essa alteração neurológica isso é visto por alguns como um sintoma da nossa "insistência incansável em um sentimento de felicidade que não existe". Em vez de ficar presa a alguém, a pessoa fica presa à sensação de bem-estar que aquele estado provoca, vive um completo deslumbramento pelo outro e não quer perdê-lo, é mais ou menos isso... Ou seja: tudo psicológico.

- Puxa! Você é psicóloga!?

- Não, jornalista! - respondia Alice chamando a garçonete e pagando a conta, enquanto Caroline estava praticamente imóvel, digerindo a informação.

Não pare no tempo! Ponto final.Where stories live. Discover now