Antes do Sol nascer

O L H O S D E C H O C O L A T E.

Gaia era um misto de intensidade e segredo, mas aquilo me atraia de uma forma inexplicável, acredito que sempre irá me puxar para ela como um imã, o que ela carrega dentro de si guardado no fundo de sua alma e que ninguém viu ... apenas eu .

O grande clichê de todo escritor, o amor de verão, mas seriam todos os amores de verão apenas isso, apenas um amor para uma estação? Como apenas um copo de água para alguém que tem uma muita sede, apenas um grito de uma alma angustiada?

Se eu disser que meu amor por Gaia passou de amor de estação, me chamariam de louco, mas aqui estou eu , o louco, um poeta louco e apaixonado pela mesma mulher a exatos dez anos.

Próxima parada : A certeza de que eu a amava.

Desde nosso encontro na torre, onde fitamos o sol nascer e aquela ruiva me contou que momentos como aqueles a faziam acreditar em coisas que   morram em seu peito a muito tempo.

Sorri fitando o perfil de Gaia, seu nariz empinado, suas sardas que pipocavam todo o seu rosto e ainda sim a deixavam belíssima, os lábios finos e levemente rosados , os cílios delicadamente caídos e seus olhos cor de chocolate derretido.

" O que a trouxe a França?"

A questionei ainda imerso em sua beleza, meus olhos acompanhavam os movimentos que seus lábios faziam ao sorrir .

" Estava na lista "

Depois de algum tempo ela me contou, que resolverá trancar sua faculdade e fazer um mochilão pelo mundo, Gaia conversava sobre coisas sérias com uma naturalidade encantadora, por mais suspeito que eu fosse em dizer isso, Gaia era diferente .

[...]

Durante oito dias nos encontramos periodicamente, escolhiamos um ponto de Paris e simplesmente passávamos o dia a descobrir tudo sobre aquele lugar . A cada dia meu coração perdia-se dentro dos olhos de Gaia, e a forma como havia tanto dela se impregnando em mim. Muitos dizem e sou obrigado a concordar, o amor verdadeiro vem de maneira surpreendente, e arremata todos os fios soltos de nosso coração.

Me recordo exatamente da tarde em que Gaia resolvera que devíamos apenas tomar um bom café.

" Nada de passeios turbulentos e corridas de bicicleta"

Ela disse colocando seus dois dedos sobre sua franja que escorria pela pele alva da testa em um juramento fervoroso que me arrancou sorrisos largos e satisfeitos.

E assim foi, assumo que naquele dia ela estava vestida diferente, nada de jeans gastos e camisetas personalizadas, ela usava um vestido azul e por sobre o ombro um leve casaco branco. Meu coração já saltava ao vê-la, porém ali ele dançou rápido e forte contra o meu peito.

Posso lhes garantir que não é impossível se apaixonar por alguém em menos de um mês, e ali estava eu vibrando e entregue a Gaia, mesmo ciente de que ela não me deixaria ultrapassar as linhas .

Um dia ela me disse de modo sutil e firme .

" Não podemos ultrapassar a linha de nossa amizade, você sabe que dificilmente nos veríamos novamente "

Assumo que aquilo me cutucava vez ou outra para me obrigar a segurar meu coração, mas naquela tarde perdi as estribeiras, esqueci linhas, regras... tudo o que eu pensava era que precisava daquela bela italiana em meus braços.

Naquele café de aparência aconchegante e levemente retrô, eu fitava os olhos de Gaia enquanto ela contava sobre o livro que havia terminado na noite anterior, a forma como ela falava seu dedos se movendo rápidos para tentar me fazer compreender que as linhas daquele romance a havia dominado.

" Ragazzo, juro, nunca li um livro tão envolvente quanto esse, Cassandra Clare com certeza estará no tópico de meus escritores favoritos. "

Assumo que eu apenas sorria e concordava com a cabeça desconhecia qualquer movimento, apenas estava imerso na intensidade que emanava de Gaia, um suspiro me escapou e ela riu.

" Leo?" Os olhos dela buscavam os meus " Você está me ouvindo? Por que está me olhando desse jeito ?"

Sua voz era lenta e suave, Gaia não era boba sabia exatamente o porquê de meus olhos estarem perdidos nela, meu coração batia forte fazendo minha graganta fechar, minha respiração estava mais rápida.

" Bom... Vamos... é... Vamos a ponte? Não é tão longe"

Em seu olhar uma dúvida surgiu, mas eu apenas me levantei e tomei sua mão entrelaçando nossos dedos, meu peito ardia com a próximidade e ali enquanto saiamos do café minha cabeça apenas gritava para que eu a beijasse, mesmo que levasse um tapa, mesmo que ela nunca mais olhasse, aquilo parecia certo, mas eu permanecia hesitante.

Estavamos prontos para atravessar a rua, quando os pés dela tocaram o asfalto, um carro a toda velocidade vinha em sua direção, a puxei com agilidade a trazendo para a calçada suas mãos puxavam minha camiseta e seu rosto se enterrava em meu peito.

E pela primeira vez eu senti como se cada pedaço de mim que um dia havia ruído se uniu,me senti inteiro e aquele vazio que carreguei por tanto tempo me pareceu inexistente. Aquela mulher roubou meu coração e todo o amor que habitava em mim e que eu guardava para alguém... alguem do qual eu aguardei por muito tempo, e que naquele momento havia encontrado.

Enquanto descrevo esse momento, posso sentir os dedos de Gaia subindo por meu peito e parando em meu maxilar, posso ver seus olhos castanhos balançar e um sorriso diferente surgir em seus lábios, um sorriso do qual eu não conhecia até aquele dia.

Preso em seus olhos, meu coração parecia querer atravessar meu peito em uma batida intensa e descontrolada, não pensei, não questionei se haveria dor no final, apenas ao puxei para mim e tomei seus lábios.

O beijo de Gaia era quente e doce, seus lábios tinha gosto de hortelã e o gosto do café que em havia saboreado minutos antes estava ali. Nossas bocas se moviam em sincronia como uma melodia única, ali em uma calçada qualquer eu descobri que jamais me esqueceria daquela mulher.

Descrevo aquele beijo com a certeza de que descobri que a amava mais do que poderia sugerir meu coração adolescente.

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