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Eu não penso que sou a melhor. Embora eu quisesse, e Helena, minha cunhada, sempre me dissesse que eu era incrível, eu jamais acreditei; precisava melhorar!

-E porquê não aqui? -Retruco Hector, meu pai, que parecia incomodado com a ideia.

Eu havia esclarecido naquela noite que eu gostaria muito de fazer uma especialização mais aprofundada em fisioterapia, principalmente porque isso ajudaria no meu currículo, e quem sabe no doutorado, mas quando contei que o local que escolhi fora os Estados Unidos, papai simplesmente bateu o pé e fora contrário.

Papai, ao contrário de todos, era terminantemente contra a minha ida. Não havia como fazê-lo mudar de ideia. Ele parecia um burro que empacara e lá ficara.

-Papai, a Helena mesmo disse que lá é melhor. A especialização é bem mais intensiva e qualitativa. -Tento explicar.

Helena tentava me transmitir força, principalmente porque sabia o quanto era importante e, meu irmão, ao seu lado, saiu em minha ajuda:

-Papai, veja bem, se Helena disse, deve estar certa. Seria uma boa oportunidade para Cristina. E ela é adulta, não é? -Ele se vira para mim.

-Exato. -Falo. -E que mal tem? É só alguns meses. Eu voltarei. Principalmente pro batizado de Henri e Hebe.

Meus sobrinhos levantaram o olhar, mas não se demoraram. Afinal até eu estaria atacando o escondidinho de carne se não estivesse debatendo com meu pai.

-Eu não quero ficar aqui. Sinto que preciso ir pra lá. E, honestamente -Engulo o seco e reúno minha coragem. -Eu já havia me decidido.

Os talheres se soltam imediatamente.

Vovô Eliseu e vovó Aurora abriram a boca em um "o". Mamãe arregalou os olhos, assim como Henrique, mas Helena não esboçou muito, sabia que eu iria, na verdade me ajudou a tomar a decisão. E meus sobrinhos, bem, eles continuaram a comer...

-Como decidiu algo assim, -Papai pergunta. -Sem nem nos consultar?

Largo o talher e me levanto. Estava sem energia para continuar aquilo.

-Esperava que, de todos, você fosse o que ficaria feliz por eu não me limitar e ir correr atrás dos meus sonhos.

Papai continua a me encarar.

-Eu espero que não fique com raiva de mim a ponto de nunca ser capaz de me perdoar, mas eu aceito que fique com raiva agora.

Falo aquilo e me retiro, subindo as escadas e correndo direto pro quarto. Passei longos cinco anos estudando arduamente para me formar e ser a melhor no que faço e era isso que eu iria ser. Custe o que custar.

*

Quando já havia passado das onze, batidas na porta do quarto me fizeram ficar alerta e logo a maçaneta girou, e uma cabeça surgiu.

-Oi. -Era Helena, que parecia condescendente comigo. -Tudo bem?

Eu não estava deitada. Arrumava minhas malas, mas decidi largar tudo e me dirigi a cama:

-Não muito. -Confesso.

-Eu sei... -Ela confessa.

Helena se solidariza por mim. Ela era uma das melhores pessoas que já passara por ali e, a melhor cunhada. Henrique não poderia ficar mais contente com a escolha que fez. Embora a história deles tenha sido um pouco complicada, eu acredito que deu certo no fim. Mas com certeza não ia querer uma dessas histórias pra mim. Não depois de que Erick fez comigo.

-Não fique brava com seu pai, -Ela toca minha mao. -Em parte ele tem razão. Você é a filha caçula dele. Um filho ir embora atrás dos seus sonhos é apavorante, e falo isso porque sei que quando Hebe e Henri quiserem ir atrás dos seus, meu coração ficará apertado.

Sorrio e assinto.

-Eu sei, Helena. Mas prefiro que seja assim. Assim tenho mais forças pra ir. -Murmuro.

Ela sorri pra mim, de modo companheiro.

-Seu vôo sai às 3:00 da madrugada. Já está tudo pronto. O hospital que eu te indiquei foi o mesmo que eu trabalhei, não se preocupe. Agora, -Ela se levanta. -Termine de arrumar tudo. Eu vou ver se está tudo bem com as crianças. Não se esqueça que eu vou te levar ao aeroporto.

-Tudo bem. -Respondo e abro o sorriso. -Obrigada, Helena.

Ela assente, e sai. Helena havia se tornado uma das pessoas mais próximas que eu já tive. E, era quem me dava apoio total. Então, agora, parece que precisarei mesmo ir...

InevitavelmenteOnde histórias criam vida. Descubra agora