O início

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Lucy

- Qual é o seu lugar favorito na terra? - ela perguntou, numa voz doce e calma que fez daquela grama molhada e infestada de inseto o lugar mais aconchegante do mundo, e toda aquela sensação de paz me fez perceber, mais uma vez, que eu estava certa. Era daquela maneira que as coisas deveriam ser - que a minha vida deveria ser, e era aquela sensação que eu deveria buscar. A garota era, no início daquela noite, uma total desconhecida para mim. Tudo o que eu sabia sobre ela era que tinha um blog e trabalhava meio período em um jornal - coisas estúpidas pra se saber sobre uma pessoa, e ironicamente, me dei conta de que era tudo o que sabiam sobre mim também. Apenas coisas estúpidas e triviais - apenas a casca, o que geralmente fazia eu me sentir estúpida e trivial, mas naquela noite eu só me sentia estupidamente feliz, e era daquela maneira que eu deveria ir embora - carregando, além de minha mochila e aquele ursinho velho, toda a paz que me rodeava.
Cami era uma desconhecida pra mim - até aquela noite. Nós não havíamos trocado muitas palavras; na verdade, mais da metade do tempo foi passado com nós duas deitadas na grama daquele parque, mas de alguma maneira esquisita eu sentia que a conhecia, e gostava do que ela havia me deixado ver.
Então, quando ela me perguntou qual era meu lugar favorito no mundo todo, eu quis responder "aqui", porque aquilo seria romântico, e Deus sabe a grande paqueradora que costumo ser, mas aquela resposta não seria verdade, e eu queria começar as coisas corretamente. No dia seguinte tudo mudaria, mas eu havia prometido a mim mesma que dali em diante seria verdadeira comigo mesma - com tudo.
- Eu ainda não descobri - eu disse, e ela assentiu, como se minha resposta fizesse todo o sentido - E o seu?
Aqui, ela respondeu, olhando fixamente para o céu estrelado, e eu soube, antes mesmo de ver seu rosto, que aquela era a mais pura verdade. Cami não estava dizendo aquilo para flertar ou causar alguma espécie de impressão. Na verdade, ela não parecia ser do tipo que se importava com a impressão que causava, o que eu achava bem legal e de certa forma até invejava.
- Gosto de vir aqui quando as coisas estão ruins. Quer dizer, olhe pra isso - ela continuou, fechando os olhos por apenas alguns instantes, em que pareceu ser invadida por alguma sensação que eu não podia explicar, como uma luz que se espalhava por todo o seu corpo, atingindo o ápice em seus olhos escuros; então eu olhei, primeiro para o céu azul-escuro, e depois para seu rosto - eu realmente olhei para ela, como queria que as pessoas me vissem, e ela estava linda. Ela estava linda de morrer, e me perguntei se a garota sabia disso.
- É como se as estrelas fossem meu teto - ela disse, baixinho, como se estivesse com medo de aquela ser a maior besteira do mundo, então virei meu rosto para o lado, encostando meus lábios nos seus, e por alguns segundos nós ficamos daquela maneira. Sem nos mover um centímetro. Sem nos beijar. Apenas nossas bocas, encostadas, de alguma maneira que não parecia nem um pouco estranha, de alguma maneira que parecia...certa.
Então ela abriu os olhos, dando um sorriso que me fez perceber que eu havia feito a escolha certa, que aquele era o melhor lugar para aquela noite, e nós nos beijamos, apenas por alguns segundos, de uma maneira tão doce que eu não poderia descrever, e só fomos abrir os olhos horas depois, quando o céu já exibia o tom alaranjado do amanhecer - a hora exata de partir.

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