CAPÍTULO PRIMEIRO A MORTE DE UM REI

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Ouvi trote de cavalos se aproximando comecei a correr tão depressa que me coração parecia saltar de meu peito, o clarão do portão principal cegou meus olhos, tropecei e sai meio cambaleando pela ponte em direção a entrada, escutei de longe os guardas atrás de mim pedindo para que eu parasse mas meu corpo não queria obedecer.

O trote ficou cada vez mais alto, a frente estava montado em um cavalo majestoso meu tutor e conselheiro real Goris, que ao me ver parou imediatamente e junto com ele toda a tropa de soldados, eles desmontaram e como num ato solene se ajoelharam.

Eu queria sair correndo e abraçar meu tutor, já se faziam mais de um mês que eles estavam fora, foi quando Goris se levantou e da cela de seu cavalo trouxe em suas mãos a Coroa.

Foi como se o mundo tivesse parado, como fui tolo, a cidade estava calada, as bandeiras a meio mastro, os homens e mulheres de cabeça baixa, meu Rei meu Pai e único amigo estava morto, ao dar conta de meus atos estava chorando nos braços de Goris.

-Calma meu pequeno príncipe logo tudo ficará bem - Goris me abraçava e acalmava meu corpo que já não queria mais me obedecer.

Logo não enxerguei mais nada. Acordei já estava escuro do lado de fora, queria que tudo não passasse de um pesadelo, meu corpo estava dolorido não sabia ao certo quanto tempo tinha ficado desmaiado, em meu quarto estavam dois guardas ao perceberem que eu tinha acordado os dois fizeram uma reverência e se retiraram, logo Goris entrou no quarto.

Eu ainda estava deitado, queria ser forte mas sem que eu mandasse as lágrimas escorriam pelo meu rosto, e molhavam meu travesseiro.

-Meu príncipe, quero dizer meu Rei, terá que ser forte agora, o corpo de seu pai será cremado logo, antes de sair o cortejo, poderá ter o tempo que quiser para se despedir.

Fiz um esforço e me levantei minha roupa fúnebre já estava na mesa, dois empregados entraram para me vestir e uma escolta me acompanhou.

Antes de entrar na capela ao lado do corpo de meu pai estava um homem ajoelhado, sua armadura era de general, mas não pertencia a nossas tropas, ele era alto com os cabelos escuros sua postura era perfeita, tinha em sua bainha uma espada toda dourada.

Eu esperei que terminasse suas preces, ao sair e me ver, ele se ajoelhou e colocou em meu pescoço uma corrente com um anel em meu pescoço, reconheci o símbolo meu pai havia me mostrado a anos atras era como o Brasão, que pertencia a um dos Reinos que ficavam perto das montanhas.

-Meu futuro Rei, o Reino do Norte te servirá hoje e sempre! - Ele se levantou, fez uma reverência e saiu.

Eu não consegui falar nada para ele, apenas me dirigi até onde estava o corpo de meu pai, alguns guardas estavam na entrada da porta.

-Pai...- Ao ver o rosto de meu pai não consegui me segurar e comecei a chorar, se eu pudesse... Não eu é que devia ter morrido...

-O que eu vou fazer, eu sou apenas uma criança, o que seria de todo o reino que meu pai criou, com tanto trabalho e dedicação.

- Príncipe!

Enxuguei as lágrimas, sabia que tinha passado muito tempo e que eu precisava dizer adeus.

Não estava com coragem para perguntar a Goris como meu pai tinha morrido, nem quem era o general que me deu o anel, os guardas me acompanharam pelo corredor do castelo.

Saímos em marcha lenta pela cidade, ela estava silenciosa, as construções agora a noite pareciam que iam me engolir, eu marchava junto a Goris, e outras pessoas do conselho, vários Reis e nobres chegaram para a celebração, muitos deles me faziam uma reverência e falavam o quanto amavam o Rei e o quanto ele era importante.

Quando chegamos na costa do mar Goris me orientou:

-Henrique, sei que isso será difícil, mas logo seu pai, será lançado ao mar e se juntará com sua mãe, preciso que acenda a flecha.

-Sim tutor - Eu ainda não tinha a habilidade de lançar uma flecha então fiz o que Goris me pediu, as chamas da tocha pareciam dançar silenciosas, demorei mais que o previsto, em acender tentando prolongar o máximo o inventável.

Logo meu pai, amigo e rei, foi colocado ao mar e as flechas cortavam a escuridão, acertaram seu corpo.

Goris me levou de volta ao castelo, e assim que o último rei foi acomodado fui levado para meu quarto.

-Meu príncipe vamos estar vigiando, os guardas vão ficar na porta precisamos zelar sua segurança. - Disse Goris.

-Obrigado Goris, por tudo que você fez por mim hoje.

-Hoje foi um dia longo, precisa descansar.- Goris se retirou e logo a escuridão preencheu meu quarto.

Ao me deitar senti como se estivesse todo machucado, mais o cansaço me venceu e cai em um sono profundo, sonhei que estava em um labirinto e não conseguia achar a saída, acordei com um estrondo do lado de fora dos muros do castelo, Goris entrou no meu quarto com mais guardas.

-Meu príncipe estamos sendo atacados, venha comigo. - Goris me pegou no colo e abriu uma das passagens secretas do meu quarto, ele conversava com alguns guardas que abriam caminho na frente.

-Precisamos ser rápidos, eles vem atrás do futuro Rei!

-O que vamos fazer com o portão principal?

Percebi que estavam todos nervosos, não tinha ideia de quem estava invadindo mais pela cara dos soldados não parecia ser coisa boa, então lembrei de um dia enquanto caminhava com meu pai pela entrada da cidade.

-Por que não usam os pingos?- Eu disse ao guarda

-Eles estão trancados vossa alteza! Respondeu o guarda.

-É uma excelente ideia, peça para Manaus destranca-los! Como você lembrou? -Perguntou Goris!

- Papai e eu brincávamos lá, ele disse que iria nos proteger.

Os pingos eram buracos feitos no muro do castelo, onde os arqueiros poderiam soltar suas flechas, sem se expor, ou bolas com fogo, a essa altura da noite a pessoa atingida nem saberia de onde teria vindo a flecha.

- Vai estar em segurança aqui, deixarei alguns guardas. - Goris me colocou em uma cama e alguns guardas ficaram perto da porta.

Eu estava cansado então meus olhos se fecharam quando acordei Goris estava sentado na cadeira ao meu lado, ele estava todo sujo, e com alguns arranhões no rosto.

- Meu tutor você está bem?

-Sim! Com sua ideia de usar os pingos, conseguimos afastar os inimigos.

-Por que eles fizeram isso?

- Meu futuro Rei! Preciso que confie em mim, até que sua coroação aconteça, eles vão querer matá-lo.

Relatos de um PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora