CAPÍTULO SEGUNDO ROTA DE FUGA

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Depois da morte de meu pai, me tornei um prisioneiro na minha própria casa, acordava, comia e dormia acompanhado de guardas. A maior parte do dia eu passava com meus mestres e tutores, aprendendo sobre o mundo e as regras de como governar. Eles me ensinavam que decisões erradas levam a ruína.

A única aula que gostava era sobre técnicas de luta, meu pai me ensinou desde pequeno a me defender com a espada, e era um meio que eu usava para escapar da realidade e descontar a raiva que estava em meu coração.

Já havia se passado seis anos da morte de meu pai, e eu seria coroado Rei aos 16, me faltava dois anos e eu não estava mais aguentando o confinamento, no começo pensei ser algo normal, pois o castelo havia sido invadido por minha causa, e toda vez que precisava sair Goris dizia a mesma coisa: -Os guardas são para sua segurança! - Eu já não estava mais aguentando precisava agir logo.

No meu tempo livre encontrei um lugar tranquilo para me distrair, posso dizer que era meu lugar favorito do Castelo, ele ficava na ala Oeste onde estavam as esculturas que ganhávamos a cada ano, de reis e pessoas importantes, nela meu pai pediu para construir um vitral onde costumava me sentar e olhar para fora, de la de cima eu conseguia enxergar as crianças da minha idade brincando, Certa manhã não consegui me segurar e fui falar com Goris:

- Goris o Rei deseja vê-lo! - disse um guarda.

-Pode pedir para ele entrar ele não precisa ser anunciado!

Ao entrar na sala, percebi que tinha atrapalhado uma reunião do conselho, todos estavam ajoelhados quando entrei.

- A vontade!

- Meu Rei, o que deseja?

- Eu gostaria de dar uma volta pelo reino!

- Como desejar, guarda chame Mambus para acompanhar o Rei!

Segui o guarda até a entrada, com a esperança de respirar um pouco de ar puro, mais quando cheguei à entrada da ala leste do castelo, Mambus tinha acabado de chegar com uma escolta de guardas e uma liteira.

Literalmente não acreditava no que estava vendo, eu estava sendo tratado como uma criança, creio que Mambus percebeu minha cara pois disse:

-Perdoe-me meu Rei, mas as ordens são que o senhor saía de liteira e por nada desça.

-É melhor que ficar nesse confinamento, vamos em frente Manbus!

Passamos pelos muros do castelo e meu coração estava acelerado, fazia anos que não saia do castelo. Eu conseguia escutar as pessoas falando sobre a carruagem, consegui espiar pela janela e ver várias pessoas conversavam com vendedores, outras davam vivas!

Mambus mal deixava eu olhar pela janela, aquilo estava me deixando louco. Ele era muito próximo de Goris, sua aparência era rude, sempre com a cara fechada, ouvi dizer pelos corredores do castelo, que ele já havia matado milhares de homens em batalhas.

Quando voltamos para o castelo Salim meu mordomo me acompanhou a sala de jantar o almoço já estava servido, meu prato e cinco guardas um em cada porta me aguardavam. Sempre fazia as refeições sozinho, não totalmente é claro, pois os guardas ficavam me olhando e Goris quando estava de bom humor se juntava a mim.

Toda aquela segurança, estava me deixando sufocado, mal terminei de comer e subi ao terraço do castelo, as paredes eram repletas de ornamentos, lá tinha uma mesa e um banco, na parte de cima tinha uma pequena escada, que dava ao parapeito do castelo com vista para o mar, era um dos poucos lugares que me deixavam sozinho.

Eu sempre pensei e dizia para mim mesmo que nunca pedi pra ser Rei, lá embaixo podia escutar as crianças da minha idade, filhos dos empregados do castelo, brincando no gramado, sendo que eu não poderia colocar os pés pra fora sem estar acompanhando, ou alguém me alertando que era perigoso.

Não aguentava mais, desci do terraço e dois guardas estavam atras de mim, eu parei e eles pararam, me virei e disse:

-Vou me deitar, estou cansado.

Ao entrar em meu quarto os dois guardas entraram junto. Eu já estava ficando irritado com aquilo, então acabei gritando com eles.

- Eu quero ficar sozinho!

-Meu Rei! Temos ordens para não deixá-lo sozinho.

- Eu não vou fugir quero que vocês fiquem do lado de fora! Agora! É uma ordem!

Eu estava com tanta raiva que pela primeira vez eles me obedeceram, não queria mais ficar dentro de uma caixa de vidro onde tudo era proibido, onde eu precisava sorrir e acenar, então resolvi que tinha que tomar uma decisão.

Coloquei umas roupas velhas que estavam dentro de um baú, fui até a lareira apagada e passei um pouco do carvão para sujar o rosto e deixar as roupas com a aparência mais velhas, cobri a cama com uns travesseiros para aparentar que estava dormindo. Como Goris estava em reunião somente sentiria minha falta até amanhã cedo.

Peguei minha capa preta com capuz, minha espada e umas moedas de ouro, entrei em uma das passagens secretas do meu quarto, o emaranhado de tuneis faria qualquer um se perder, quando mais novo eu brincava pelos tuneis então seria fácil encontrar um lugar sem que ninguém me notasse, mais pra frete eu peguei o caminho que chegava até a cozinha, quando estava saindo e fechando a porta do túnel alguém disse:

-Ai está você! Já jogou o lixo lá fora, como pensa em ser um guarda do castelo se não faz suas obrigações!

Para minha sorte a cozinheira não me reconheceu, deve ter me confundido com uma das crianças, peguei o lixo e levei para fora, precisei me esconder de uns guardas que estavam fazendo ronda e logo cheguei no celeiro.

Procurei meu cavalo, não tinha ninguém por perto, coloquei a montaria nele e saí pelos fundos.

No portão principal tinha alguns guardas, eles estavam distraídos com umas mulheres que passavam, aproveitei a distração e consegui saí junto com alguns comerciantes.

O caminho seria longo e já estava escurecendo, então resolvi achar um lugar para comprar comida, já podia sentir o ar de liberdade, com sorte estaria bem longe quando sentissem minha falta.

Relatos de um PríncipeOnde histórias criam vida. Descubra agora