Lar

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Essa one nasceu inspirada nesse vídeo acima.

(Aliás, gostaria de agradecer a essa pessoa linda dona do canal desse vídeo que tem o incrível dom de dar vida em imagens, da fazer o coração se regozijar com aquilo que é imaginado. Ela que deu cor e imagem pro trailer de Sexta Harmonia. Ela que faz tantas e tantas capas de fanfic. Essa história nasceu porque a gente se esbarrou, tu foi a responsável. Tem a sensibilidade e amor através do olhar simples e ao mesmo tempo grandioso. Gratidão por termos nos topado e desse encontro nascer essa one aqui. Estou só amores por ela. E por tu também, Cat. Todo amor do mundo, tá? C merece ele e mais um pouco. Espero continuar a partilhar dessa luz que tu tem. <3)

Era um dia ensolarado de verão quando as crianças chegaram pra passar o fim de semana com a avó. Não era comum que ficassem o fim de semana inteiro sem a mãe, mas ela precisava viajar as pressas e os meninos aproveitaram pra demorar a estadia na asa da vozinha. Maria Clara e João Vitor. Eram dóceis e gentis na maioria das vezes, João Vitor mais velho e alto, vez ou outra gritava com a caçula se posicionando como "quem manda" quando a mãe não estava. Maria Clara dois anos mais nova e bem mais mimada também se perdia em choro quando o irmão desatava a gritar com ela. Maria Clara tinha perdido os dois dentinhos da frente no final de semana anterior quando caiu de bicicleta. O cabelinho fino escorrido até altura do pescoço, escuros como o da avó foi um dia. As sobrancelhas grossas e negras se emendando a pequena escuridão de seus olhos. As mãos finas e pontudas. Ana Clara estava parada a porta olhando cada detalhe do corpo da menina sentindo bem estar por ter visto de perto aquela criança prematura sobreviver mesmo quando tudo indicava que não havia esperança.

Agora aqueles bracinhos esqueléticos disputavam com João o domínio da posse de um carrinho velho. João franzia a testa buscando intimidar Clara, a menina não se amedrontava de nenhuma maneira, deixando- o ainda mais irritado. Ana Clara ainda está absorta demais pra intervir entre os irmãos. Preferia ficar ali calada enquanto o poder era disputado.

-VÓ

A menina apela pra voz manhosa que sempre costuma usar seguido de um choro pausado pra interação entre o "O" estendido e o barulho com a garganta forçando um choro.

-Eu fiz bolo de cenoura pra vocês.

Ana Clara se desvia sorrateiramente daquilo que podia vir a ser uma enorme dor de cabeça com brigas e cara emburrada dos dois, e a jogada funciona de maneira mágica. As mãos são rápidas ao largar o brinquedo no meio da sala. Depressa correm em direção à cozinha gritando "EBAAA EBAAA EBAAA". O bolo de cenoura sempre foi aquela comida que nunca recebia recusas. Principalmente dos netos que nunca diziam não a qualquer tipo de doce.

-Lavaram as mãos?

Ana levantou o olhar quando viu que já devoravam os pedaços que tinha cortado e deixado em cima da mesa. Eles se entreolharam com certo espanto, havia sido pegos em flagrante, fizeram que sim balançando a cabeça freneticamente e voltaram a comer. Parecia que o mundo acabaria se não comessem tão rápido.

-Eu vou descansar um pouco. Qualquer coisa me chame, tá? Cuide da sua irmã, João.

-Sim senhora

E o cabeludo rapaz enfiou a mão dentro de boca chupando os dedos com a cobertura de chocolate. Ana Clara foi até o quarto sentando em sua cadeira de balanço ao lado da janela. A vista cobria uma imensa paisagem verde. As árvores distante sempre sendo jogadas de um lado para o outro pelo forte vento da serra. Vez ou outra via seu cachorro correndo atrás de alguma coisa que seus olhos não sabiam discernir. A grama começava ficar alta demais, já fazia dias que deveria ter ligado pro seu sobrinho chamar Seu Joseph, mas a memória falhava e sempre se culpava quando sentava na imensa cadeira. Ali tirava os melhores cochilos que conseguia durante seus dias. Talvez fosse o vento gostoso que entrava pela janela, a cama só piorava a dor nas costas. Antes de adormecer viu seu rosto a refletir pelo vidro da janela, os cabelos que outrora se fundiam a noite agora só podiam se fundir as nuvens, os anos enxugaram tudo que um dia fora. O sol sempre se punha do lado oposto da janela, mas ainda não era hora. Faltava ainda uma hora e meia, mas a sombra da casa já alcançava o pequeno jardim além da varanda.

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