Pg 9

29 4 0
                                    

Entre o real e o mágico existe uma espécie de fluidez intemporal que se rege
pelo inconsciente coletivo. O realismo mágico descrito por Jung, é regido por uma fonte que nos é mundo familiar e transcende a um mundo de contrastes entre os opostos. Isto é, toda a magia se nutre dos conteúdos do consciente
coletivo, da nossa "memória ancestral".
É através desta memória que ocorre a inversão do tempo.
A tradição celta possuía uma percepção admirável da maneira como o tempo eterno está entrelaçado com o nosso tempo humano. Existe uma história de
Oisín, que era um dos Fianna, um grupo de guerreiros celtas, que sentiu uma grande vontade de aventurar-se a chamada Tír na n-óg, a Terra da Eterna
Juventude, onde vivia o povo encantado.
Chegando ao seu destino, durante muito tempo viveu feliz com sua mulher Niamh Cinn Oir, conhecida como Niamh dos cabelos dourados.
O tempo pareceu voar, por ser um tempo de grande felicidade. Mas um dia, a saudade
de sua vida antiga passou a atormentá-lo. Tinha agora, curiosidade de saber como estavam os Fianna e o que estaria ocorrendo na Irlanda.
O povo encantado o desaconselhou, porque sabiam, que sendo ele um antigo
habitante do tempo mortal linear, ele correria o risco de se perder ali para sempre. Apesar disso, ele resolveu voltar.
Deram-lhe um belo cavalo branco e disseram-lhe para que nunca o desmontasse.
Se o fizesse, estaria perdido. Ele montou e seguiu até a Irlanda,
mas chegando lá soube que os Fianna já tinham desaparecido. Ele consolou- se visitando as antigas áreas de caça e os locais onde junto com seus companheiros, haviam banqueteado, cantado, narrado velhas histórias e realizado grandes festas de bravura.
Neste ínterim, o cristianismo já tinha chegado a Irlanda.
Enquanto passeava rememorando seu passado, avistou um grupo de homens
que não conseguiam erguer uma grande pedra para construir uma igreja.
Sendo um guerreiro, ele possuía uma força extraordinária e, então, desejou ajudá-los, mas não se atrevia a desmontar do cavalo. Ele observou-os de longe
e depois se aproximou. Não conseguia mais resistir.
Tirou o pé do estribo e enfiou-o por debaixo da pedra, a fim de erguê-la, mas assim que o fez, a cilha
rompeu-se, a sela virou, e Oisín chocou-se com o solo. No exato momento em
que tocou a terra da Irlanda, tornou-se um velho débil e enrugado.
Esta é uma excelente história para mostrar a coexistência dos dois níveis do tempo. Se se ultrapassasse o limiar que as fadas observaram entre estes dois níveis de tempo, terminava-se enredado no tempo mortal linear. O destino do homem neste tempo é a morte. Já no tempo eterno é a presença ininterrupta.
Todos os contos de fadas celtas sugerem uma região da alma que é habitada pelo eterno. Existe uma região eterna em nosso íntimo, onde não estamos
sujeitos às devastações do tempo atual.

Elementais Da NaturezaOnde histórias criam vida. Descubra agora