A Vida e seu irmão

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Um dia eu estava andando em um bosque num dia nublado, e me esbarrei com a senhorita vida de mãos dadas com o Amor, seu irmão mais novo.
Vida estava sem cor, desanimada e não sorria mais. Seus cabelos bagunçados e olhos parados.
Amor, estava triste e cabisbaixo.
Então eles se sentaram um do lado do outro num banco, e ficaram ali parados, olhando para o chão.
Paro de andar e os observo.
Tomada pela curiosidade, pergunto a Vida:

-O que houve?- digo me aproximando.
Ela então olha nos meus olhos e em seguida ela abaixa a cabeça e não diz nada. O amor respondeu a pergunta:

-Os humanos...- Ele disse.

-O que houve?- Pergunto não entendendo a resposta anterior.

-Eles me odeiam- Vida levantou a voz.- E não acreditam no amor.

-Mas...por que eles fariam isso?- Pergunto mais uma vez, me sentindo incomodada por parecer estar interrogando os dois irmãos.

-Bom...eu...não sei como dizer...-Continua Vida, indecisa.

-Irmã- Diz Amor dirigindo-se à Vida, que o olha nos olhos do irmão com um sorriso trêmulo- Você também acha que eu sou um erro? que eu só trago coisas ruins aos outros? e é por minha causa que eles desistem de você??? E desistem até de mim?...- O Amor solta todas as palavras que pareciam estar guardadas há muito tempo. Falou aquelas palavras fortes mas com tanta inocência, que nem estava chorando.

- Não meu querido...Não é culpa sua, e nem minha. Os humanos acham que é minha culpa de coisas ruins acontecerem. Eles me odeiam e então acabam comigo. E Amor,  eles desistiram de você por que não sabem mais amar. Os humanos são orgulhosos Amor...- Vida se levanta do banco dando a sua mão para que Amor a segurasse e levantasse também.- E além do mais eles...

-Vocês não podem reverter isso?! - Interrompo. Vida olha para mim e ignora totalmente, dirigindo-se novamente ao irmão:

-Como dizia; Além do mais eles não sabem te valorizar Amor. Muito menos a mim. - Então ela olha pra mim e diz- E não há nada que possa reverter as atitudes deles. Eles fazem escolhas erradas e colocam a culpa em nós. - Disse ela me respondendo.

Um minuto de silêncio (que mais pareciam milênios) tomou conta do momento. Uma voz doce interveio:

-Você acha que um dia eles vão gostar da gente? - Amor me pergunta. Mesmo eu sabendo que a humanidade está a cada dia pior e mais hipócrita, eu disse:

-Mas é claro...eles precisam de vocês.
-Amor deu um sorriso de canto, como se ele precisasse ouvir aquelas mesmas palavras.

-Obrigado. - Ele agradece.

Amor subiu no banco e Vida o pegou no colo.
Eles se afastavam lentamente.
Vi o cabelo castanho e ondulado da Vida e sua camisola agora cinza pela última vez no bosque. E o aroma doce do amor nunca mais senti naquele lugar. O seu cabelo ruivo fazia contraste com a neblina que os engolia.
E o barulho que os pés descalços da Vida fazia quando ela andava havia diminuido.
Então sumiram no novoeiro.
(...)
Me encontrei parada no meio do bosque, refletindo sobre o momento passado.
Me perguntando qual seria o verdadeiro problema dos humanos, e porque descartam o que precisam.

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