90's

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Fevereiro, 1998

Era uma manhã ensolarada e Gustavo se perguntava porque as aulas teriam que voltar. Ele e sua irmã gêmea, Babi, estavam indo começar os estudos em uma escola nova. Ele sabia que a partir daquele ano, não seria apenas colorir e escrever em cima das letras tracejadas. Teriam provas, diversas matérias e vários novos coleguinhas de sala.

Mas ele também sabia que, com 5 anos, seus pais o deixariam brincar na rua, ir para casa dos amiguinhos, ser "gente grande". Gustavo não via a hora de poder andar de bicicleta na rua.

Ele sempre tinha que ficar com a Babi, mas a irmã não levava jeito nenhum para andar naquele veículo de duas rodas. E, para completar, ele não podia tirar sarro dela por ter medo de um brinquedo tão divertido.

Queria ter outras crianças com quem brincar. Talvez, naquele dia, ele faria amiguinhos.

Assim que saíram de casa, sendo levado a pé com a babá para a escola, ele viu uma menininha de cabelos pretos amarrados em chuquinhas e olhos puxados também com uma mochila nas costas e o uniforme azul marinho da escola.

- Babi, ela deve ser nossa colega.

- Vamos falar com ela Gu!

Os irmãos saíram correndo deixando a babá atordoada e gritando para eles irem devagar. Não era fácil cuidar de gêmeos, mas todos que cercavam os Vasconcelos sabiam que os irmãos eram ativos mas extremamente obedientes.

Ao se aproximarem da menina, Babi, como sempre, ficou com vergonha de cumprimentar. Guto revirou os olhos e tomou a iniciativa.

- Oi, eu sou o Guto! Você também está começando da Escola Nova? - Eles ainda não tinham aprendido o nome daquela que seria sua segunda casa pelos próximos 12 anos, então simplesmente a chamavam de Escola Nova.

- Oi Guto! Eu sou a Maria Eduarda. É meu primeiro dia também.

- Que bom. Esta aqui é minha irmã, Babi.

- Oi. - a menina de cabelos quase ruivos falou timidamente. - Os seus olhos são diferentes...

- É que meu pai tem ascendência coreana.

- Coreana? Onde fica isso? - Gustavo instigou continuando a andar ao lado de Eduarda quando Babi ia um pouco mais atrás com as duas babás que já conversavam sobre os ônibus para aquele bairro.

- Hm, não sei. A gente pode perguntar para a professora! - Eduarda logo exclamou.

- Boa ideia. - Gustavo ficou calado por alguns segundos antes de continuar. - Maria Eduarda é muito grande. Posso te chamar de Maria?

- Iuh, não! Odeio Maria. Mamãe me chama de Maria quando é para brigar comigo.

- Então vai ser Duda. Seu novo nome será Duda. - A menina de olhos puxados sorriu para o menino loiro ao seu lado.

De início, Babi não tinha gostado muito da menina nova. Ela teria que dividir a atenção do irmão com outra criança e ela não queria isso. Talvez essa coisa de ir para a escola não fosse tão legal assim.

Mas, em um sábado de manhã, várias crianças do bairro estavam brincando na rua e Babi foi comprar um sorvete. Ela não tinha pegado duas colheradas quando Duda pediu o sorvete.

- Não. Compra o seu.

- Mas eu quero esse! - Duda roubou o sorvete de Babi que, como sempre ia atrás do irmão para defendê-la, começou a chorar por Guto.

Ele estava brincando de gangorra com outros meninos quando a irmã chegou do lado.

- Aquela menina roubou meu sorvete! - falou cutucando o garoto.

- Que? Duda jamais faria isso! Vou falar com ela. - Guto se desculpou com o amiguinho e foi atrás de Duda que estava sentada na calçada da sua própria casa.

Guto sentou ao seu lado e começou a conversar com ela, mas, ao contrário do que Babi queria, ele não brigou com a menina.

- Este sorvete está bom? - Guto apontou para o potinho nas mãos com unhas rosas da menina.

- Está sim. Você aceita?

Guto pegou uma colherzinha e se serviu, dividindo o sorvete de flocos com a menina de chuquinha no cabelo. Babi parou de chorar quando viu que o irmão estava se tornando amiguinho da outra. Ela então se sentou do lado de Duda, e pediu uma colherada do sorvete.

Naquele dia, os três começaram uma amizade que iria durar muitos anos. Duda demoraria algum tempo antes de se aproximar de Babi, mas quando a idade chegasse, sem dúvidas elas seriam melhores amigas.

Mas Gustavo sempre esteve ali, desde aquele primeiro dia. Duda e Guto eram inseparáveis a ponto da professora precisar chamar atenção dos dois desde o dia 1. Às vezes, Babi tinha ciúmes de dividir a atenção do irmão com a garota nova, mas aquilo também iria passar quando ela visse que Duda e Gustavo tinham uma ligação que ia muito além dessa vida.

Os dois pareciam ter nascidos um para o outro. 

I was born to love youOnde histórias criam vida. Descubra agora