Aurora

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Já faz mais de uma hora que minha madrasta, Juliana, está em trabalho de parto e confesso que estou imensamente nervosa. Papai está lá dentro, e eu e Dona Áurea, mãe da Juliana, estamos aqui nos corroendo de nervosismo. Já pesquisei no Google umas 100 vezes, e uma cesárea dura cerca de 30 minutos! Será que aconteceu alguma coisa?

— Fique calma, menina. O pequeno Arthur já está pra nascer. — Dona Áurea tenta me confortar, porém eu posso ver o medo em seus olhos e isso não é nada reconfortante.

A ideia de ter um irmão, sendo 16 anos mais velha, a princípio foi uma bosta. Não verbalizei meus pensamentos, mas o sentimento de substituição passou diversas vezes em minha cabecinha. Porém, papai e Juliana merecem. São casados há 10 anos e acho que eles já nutrem esse desejo há um bom tempo.

Eu vi o medo ao me contarem.

Papai sempre tomou muito cuidado comigo, em relação à minha saúde psicológica, principalmente. Fui abandonada por minha mãe com um ano. Ela simplesmente se mandou. E papai sempre acreditou que por isso eu seria traumatizada ou sei lá o que. Mas a verdade é que nunca fez falta. Nenhuma. Eu tive uma infância feliz, aceitei Juliana muito bem, nunca dei trabalho a nenhuma das babás e nunca estive na diretoria.

Manu fica me mandando diversas mensagens o tempo todo. Minha amiga está preocupada lá do colégio, eles devem estar tendo aula de história.

Minhas mãos suam frio, estou prestes a ter um colapso. O que é excessivamente vantajoso considerando que já estamos em um hospital.

Quando papai apareceu na sala de espera com uma roupa característica àquelas que as pessoas usam quando entram em uma sala de cirurgia, foi instantâneo que eu e Dona Áurea nos levantássemos.

— E aí? Como foi? — Dona Áurea foi mais rápida.

Uma enfermeira chegou nos guiando até uma sala onde o bebê estava. Sem dúvidas a alegria que senti ao ver aquela bolinha de fofura foi imensa. Ele era excessivamente branco, como eu, o que é uma pena considerando que não posso tomar sol.

Dona Áurea foi a primeira a segurá-lo e começou a chorar que nem uma louca. Não imaginei que ela fosse tão emotiva. Na minha vez eu também comecei a chorar que nem uma louca porque eu realmente sou uma louca.

2 semanas depois.

Arthur chega hoje em casa e finalmente vai sair daquele hospital para conhecer as ruas de São Paulo, e eu estou infinitamente ansiosa. Juliana, coitada, está em um negócio chamado puerpério. Aparentemente o período após o parto.

Papai vem me buscar no colégio para almoçarmos e em seguida buscarmos Juliana e Arthur no hospital. A ansiedade me corrói da pior forma possível, e ainda nem chegou o horário do intervalo! Não consigo pensar em nada relacionado a Durkheim no momento!

A questão é que quando cheguei no ensino médio, ano passado, fui separada de todos os meus amigos. Manu, André, Gabi e Joana, sinto falta de todos eles, e tenho até alguns amigos em minha turma mas não é a mesma coisa, simples assim. Manu e Joana ficaram na turma C, Gabi e André na B e eu na A. Foi uma chacina.

E como resultado, não somos mais tão amigos, é como se não tivéssemos passado o fundamental inteiro sendo um quinteto inseparável. Gabi fez outros amigos e ignora nossa existência. André, às vezes, dá um oi mas aí some. E Joana começou a namorar, ou seja, esqueceu dos amigos.

Somos só eu e Manu. E honestamente, adoro nossa amizade.

— Aurora do céu! — Manuela me chama ao me localizar no refeitório movimentado — Sexta. Eu. Você. HP do terceiro ano na casa do Henrique Bittencourt.

Desde à AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora