Um dos maiores problemas dos jovens entre os 15 aos 17 anos é que eles não conseguem ver nenhum tipo de bebida alcoólica sem sentir uma vontade errônea de ficar bêbado. A festa, como prometido, estava cheia, cheia demais. Tinha gente mais velha ali sem duvidas. Henrique Bittencourt sempre foi muito conhecido no Santa Eulália por ser herdeiro de um dos grupos mais ricos de São Paulo. O que me leva a acreditar que 90% das pessoas que estão aqui, só estão para ganhar status.
A casa do garoto é enorme, só que nós, meros mortais, só temos acesso á mini casa externa que liga à piscina quilométrica. A maioria das garotas veste shorts, o que eu provavelmente faria se estivesse indo a uma festa de alguém que conhecesse, mas não me senti confortável para estar de shorts aqui. Então coloquei uma blusa estilo cigana preta e uma calça branca de cintura alta com sapatilhas azul bebê.
Manu com certeza já saiu a caça, enquanto eu estou em um sofá bem isolado, com meus fones no máximo revendo o episódio sete da primeira temporada de Gossip Girl, essa série é maravilhosa. As pessoas passam, me olham e ignoram. Outras estão protagonizando um amasso tão louco que nem percebem o pontinho ruivo.
Levo um susto ao sentir um peso a mais no sofá. Continuo vendo minha série normalmente, mas aí o estranho puxa meu fone.
— Desculpa interromper, mas como anfitrião, gostaria de saber porque não está se divertindo.
E ao meu lado estava o digníssimo, o encharcador de pepecas, segundo Manu, o dono do rolê (literalmente), o alpino da caixa de chocolate, a Marisa do Monte de todas as meninas: Henrique Bittencourt. Olha, o menino é muito atraente, confesso. Os cabelos pretos meio ondulados na altura do pescoço são muito bonitos, em conjunto com os olhos verdes, o corpo magro nem tão magro, porém não gordo e meio fortinho. Ele malha sem duvidas.
Eu até gostaria de ser grossa, até porque estava em uma cena muito legal de Gossip quando ele resolveu abrir a boca. Entretanto analisando toda a situação decorrente, eu estava na casa do menino com uma amiga e iria voltar de Uber, e eu nem sei se o 3G vai estar pegando quando Manu decidir voltar. Então, ri como uma princesa e na maior cara de pau, perguntei:
— Qual é a senha do wi-fi? — pisquei os olhos quatro vezes tentando em vão parecer fofa.
— Eu não vou te dar a senha do wi-fi, coração. — Henrique respondeu.
Tudo bem, minha paciência acabou, eu já ia responder, mas fomos interrompidos por uns gritos de "BRIGA BRIGA". Fiquei chocada por um momento.
— O ruim de ser anfitrião é ter que ir resolver essas coisas. — ele disse estupefato.
— Olha não sei você, mas eu adoro um barraco.
Ele acabou rindo da minha sinceridade e se levantou parecendo cansado. Aí eu pude observá-lo melhor, ele era realmente bonito.
Normalmente nessas festas é comum tocar o majestoso Funk putaria. A maioria dessas músicas tem letras agressivamente obscenas. Mas aparentemente o famoso Henrique Bittencourt não curte muito, então o entretenimento auditivo era um eletrônico muito louco.
Avistei Manu andando aparentemente furiosa em minha direção. Se esparramou ao meu lado do sofá e exclamou:
— Puta merda! Eu quero um funk pra rebolar a minha raba! Já tá muito sem graça assim! Ninguém tá gostando, senhor! — Reclamou e encostou no assento, cruzando os braços.
Olhei ao redor. Tinha gente se pegando, gente tirando a roupa, gente balançando freneticamente, gente conversando, gente vomitando. As pessoas pareciam estar gostando bastante.
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Desde à Aurora
Genç KurguAurora nunca precisou furar o dedo para dormir. Aos 16 anos, no auge da adolescência, se considera uma alma velha, refugiando-se nos livros e de vez em quando saindo com sua amiga para algumas festas. Entretanto, com o nascimento de seu meio irmão e...