Um rastro de luz atravessa a cortina, vindo direto em meu rosto, despertando-me de meu torpor. Olho a hora. 9:47. Sexta. Minha cabeça está latejando. A aula começa às 10h e eu não tenho a decência de acordar a tempo. Não que eu ligue para a faculdade, mas detestaria desapontar meu pai. Visto uma calça que encontrei jogada embaixo da "cadeira" e uma camiseta qualquer e vou escovar meus dentes.
-Droga, Elenn- eu bato na porta do banheiro-, eu estou atrasada. Você se importa de ir mais rápido?!
-Porra, Liz.
Ela sai do banheiro, seguida por um cara que eu talvez já tenha visto mas não me lembro.
Elenn é minha colega de quarto. Uma pessoinha bem legal, mas já perdi a conta de quantos caras vieram aqui desde sábado. Eu não me importo, mas não gosto de ser pega desprevenida, nem sei como agir exatamente.
Desculpa- eu digo-, prometo ser bem rápida.
***
- Bom dia, raio de sol- Bruno chega me abraçando pelas costas, o que me assusta, mas logo me recomponho.
-Bom dia, amor. É tão bom te ver. Dou-lhe um beijo de bom dia, tão suave e ele se aprofunda, mas não estou no clima.
-O que foi? Aconteceu alguma coisa?
A preocupação dele me comove, mas não sei o que estou sentindo, então só digo que estou de ressaca, o que não deixa de ser verdade. Eu gosto dele, mas não sei se o amo, sabe?!
-Tenho que ir. Te vejo depois?
-Com certeza que sim. Dou-lhe um beijo na bocheca e saio do refeitório.
Levo meu café pq não sou doida nem nada e paguei por ele.***
Estou tão entorpecida, que topo com uma garota, derrubando todos os meus livros.
-Tu é cega ou o quê?! Puta merda, hein!
-Me desculpe, eu estava distraída.
-Tá tá, agora com licença.
Recolho os livros dela e sem querer mesmo, levo mais tempo do que deveria recolhendo seus livros. Essa droga de ressaca. Eu vou para o lugar nos fundos, aquele que é meu e ninguém ousa sentar. Obrigada por isso, pai!
A srta. Moore chega, apresentando uma tal de brenda. Aff, que nome ridículo, como alguém se chama brenda?! A tal da "brenda" é, por acaso, a garota com quem eu topei no início da aula.Assisto todas as aulas possíveis e chego em casa por volta das 4 da tarde. Ainda não decidi qual curso quero fazer, por isso assisto o máximo de aulas complementares possíveis nesta faculdade, embora passe a maior parte do tempo lendo livros que me envergonhariam, se soubessem que eu os leio. Mas fazer o quê se o cara lá de cima me deu esse péssimo gosto para ler livros em público?!
-Vamos, Liz- diz Elenn, logo que eu chego-, o Dyllan vai dar uma festa na casa dele hoje, venha pra espairecer....
-Quem diabos é Dylan, Elenn?!
- O cara com quem eu estava hoje de manhã, aquele com o peitor...
-Ok, ok. Eu vou, só me deixa descansar um pouco. Eu estou exausta.
-Tá, mas eu te arrumo. Céus, como você tem um péssimo senso de moda.
- Muito obrigada pelas suas ofensas, Madame Trousseau!***
Tenho impressão que tem muito pó em meu rosto e esse batom é muito vermelho, me deixa parecendo uma puta, mas eu tinha que satisfazer a madame beleza, não é mesmo. Pelo menos meu vestido cobre o essencial.
Não reconheço ninguém, então vou atrás de algo pra beber, pq disso eu entendo. Deus abençoe quem criou o mojito, pq benzadeuz, eu adoro essa bebida.Por volta das 1 da manhã eu não aguento mais esse salto, e os tiro, indo aos trancos e barrancos, em direção ao banheiro pela milésima vez. Lá dentro, enquanto lavo as mãos, focada nisso, tentando inutilmente me convencer de minha sobriedade, uma garota senta na pia, desafiando todas as leis da gravidade.
-Oi- a garota diz-, Tudo bem?
-Ah, sim sim. Precisando de algo?
-Nah, só sentada aqui mesmo.
Eu rio, de nervoso(?), observando seus traços suaves, como ela se senta, recostada no espelho, com um cigarro entre os dentes e em como ela parece sexy com ele entr.... pera o quê?!?!?
- Interessada?- ela diz, com olhos curiosos.
- Me desculpe, eu não sou estav...
- Eu quis dizer um cigarro... aceita?!- ela diz, gargalhando em seguida.
- Não, obrigada.
Mostro meu copo, aparentemente vazio agora, ficando enrubecida... Eu me inclino para ver se o mojito acabou de cair ou algo do gênero e quando retorno ela está a centímetros de minha boca, seu hálito suavemente marcado pelo cigarro.
- Você parece bem interessante...
Eu sinto algo formigando em meus lábios. Que coisa estranha. Eu não estou sentindo isso de verdade..... ou estou? Foi um vislumbre de vergonha que eu vi em seus olhos?- Me desculpe- ela recua levemente- Você é daqui?
- Não, mas vivo aqui há tanto tempo que nem sei como é não ser.
- Kkkk- ela ri alto, como se eu tivesse acabado de contar-lhe uma piada.
-Oi?
-Você falou meio rápido, quero dizer, eu não entendi nada que você disse...
-Vim morar com meu pai, já que minha mãe decidiu não ser mais minha mãe. Digo mais pra mim do que para ela, mas ela não parece se importar.
- Me desculpe, estou tão bêbada. Meu nome é Aline.
- Eu sou Melissa, mas me chamam de Liz.
-Lizzie Liza- ela meio que cantarola- Adorei seu nome. É tão fofinho- diz ela com tanta empolgação que eu quase me convenço que este é meu nome.
-Eu rio- ela está realmente bem bêbada, mas é tão engraçada.
- Você tem como ir pra casa?!
- Essa é minha casa. Dyllan é meu meio-irmão. Aquele bastardo filho da puta. Como você chegou aqui?
-Minha amiga Ellie me trouxe. Ela tem ficado com ele.
- Ela e meio mundo. Me desculpe, diz ela no meio de uma gargalhada- Mas é verdade.
- Você quer ir lá pra fora? Eu posso te levar até seu quarto, se você precisar de ajuda, o que realmente você precisa(essa última parte eu falo mais baixinho).
-Obrigada. Meu quarto é lá em cima. Você é bem legal lizzie liza.
Eu a levo até seu quarto e cubro-a. Ela adormece profundamente e tão logo, que imagino se ela realmente estava falando comigo agora pouco.
Tento achar a Elenn, mas não sei em que buraco ela se meteu. Acabo em casa, mas nem sei como cheguei.
Droga de ressaca.