Capítulo 14

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Joseph On

O vestido que combinava perfeitamente com os sapatinhos de Cinderela estava completamente rasgado e sujo. Uma enorme mancha de sangue cobria uma zona do vestido que tapava suas coxas e senti que poderia cair uma bigorna em mim naquele momento, que eu não iria sentir. Fiquei apavorado. Não era pra ela estar chorando, não era para aquele vestido estar destruído e não era pra ela estar sangrando. Era pra ela estar sorrindo maravilhosa em sua fantasia de princesa e era pra ela estar encantada com a surpresa que preparei pra ela. Aquele era pra ser o seu baile. O nosso baile. Era pra ser eu o seu príncipe aquela noite e seria eu a dançar a valsa com ela.

Estava tudo errado. A noite já não parecia tão perfeita como antes, as pequenas luzes brancas já não pareciam encantar tanto o terraço como deveriam e minha fantasia de príncipe parecia não se encaixar naquele conto de fadas. Aquilo parecia mesmo o conto da Cinderela. Mas minha Cinderela deveria estar brilhando nesse momento, não deveria ter-se transformado antes da meia-noite. Está tudo errado. O medo não me largava. E junto dele, estavam a agonia e a raiva de quem pudesse ter feito aquilo. Olhei nos olhos de Demetria. Chorava que nem uma criança indefesa e a dor que ela sentia dentro do peito era visível em cada lágrima que escorria por seu rosto. Era minha pequena ali. Indefesa e com medo do mundo. Vi que seus olhos me olharam e vi seus lábios moverem-se num pedido de desculpas silencioso.

Arranjei forças pra dizer a Melanie que Demi já estava comigo enquanto sentia meus olhos começarem a arder. Eu ia chorar. Não aguentava ver aquele sangue em seu vestido. Não aguentava vê-la machucada. Me machucava também. Deixei o celular cair de qualquer jeito no chão e corri até ela. Em vez de abraçá-la, deixei-me cair de joelhos que nem um condenado e levantei o vestido rasgado desesperadamente. As lágrimas de desespero e agonia já escorriam por meu rosto e eu não iria tentar controlá-las. Aquele sangue não podia vir de dentro dela. Ela não podia perder nosso filho. Não meu filho.

Elevei o tecido até seu ventre e vi o sangue escorrendo por suas coxas. Vi o corte profundo em sua coxa esquerda e beijei a pele lisa ao lado do corte. Deixei que o tecido caísse e escondi meu rosto em sua barriga enquanto a apertava para mim. Ela não parava de chorar um momento sequer e senti suas mãos trémulas acariciando meu cabelo enquanto eu desabava a chorar que nem quando era pequeno. Nunca tive tanto medo de algo em toda a minha vida. Pela primeira vez, eu tive a certeza que as coisas não acontecem apenas aos outros e que podem acontecer a nós também. Aquele sangue podia ser a consequência da perda de um filho. Eu conseguiria supostar isso.

Demi chorava cada vez mais e eu tentei me acalmar para que pudesse ajudá-la. Beijei seu ventre diversas vezes e falei com meu filho. Eu sabia que ele ainda era pequeno de mais para escutar, mas sabia que de alguma forma ele conseguia sentir tudo o que se passava. Mesmo ele não me escutando, me acalmava falar com ele. Eu sempre contava pra ele os meus planos enquanto Demi dormia. Ele era meu cúmplice e sabia o quanto eu amava sua mãe. Demi começou a sussurrar pedidos de desculpas repetidas vezes e eu neguei enquanto me levantava e a abraçava bem apertado.

- Me desculpa. - sussurrou de novo. Ela soluçava alto em meu pescoço e eu apertava-a cada vez mais contra meu peito.

- Não peça. Vem meu amor. Vou cuidar de você. - peguei-a no colo e levei-a até ao sofá da parte coberta do terraço. Me sentei e deixei-a sentada em minhas pernas ouvindo-a soltar um gemido de dor.

- Me desculpa. - pediu de novo. Eu não entendia o porquê disso. - Eu deixei que ela estraga-se o vestido. Não podia deixá-la machucar nosso filho. Desculpa. Eu não podia. - disse desesperada.

Olhei seu rosto com atenção. Seus olhos vermelhos mostravam seu pânico. Do que ela tinha medo? O que fizeram com minha pequena? Limpei suas lágrimas, beijei sua testa e puxei-a pra deitar em meu ombro. O vestido era a menor das minhas preocupações nesse momento. Fiquei longos minutos ninando-a. Sussurrando palavras de conforto e afagando suas costas. Seus cabelos que deviam estar presos num penteado perfeito, estavam agora meio soltos. Soltei-os por completo e deixei que eles caíssem por suas costas. Ouvi-a gemer baixinho de dor e estranhei, mas deixei pra lá. Tirei seus sapatos e deixei-os no chão, ao nosso lado.

9 Meses Sem Sexo: Um ProblemaOnde histórias criam vida. Descubra agora