O Encontro da Jamila e Magupelane

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CAPÍTULO I:

Ninguém nasceu para fracassar.

O fracasso é uma escolha de quem não almeja o sucesso.

É noite, as aves calam-se no emergir do grito soluçante das corujas ancoradas. O vento quase que não existe. Perde-se a respiração quando na procura de sossego encontra-se medo e nada mais que fraquezas trazidas pelas noites que carregam consigo melancolias de gente que mais sonha com a face de um prato de comida do que com a salvação do messias.

Nessas pequenas laudas de vida subsistia, numa minúscula zona suburbana de Chidenguele, uma humilde e pobre família, de onde descendera um cavalheiresco rapaz, Magupelane, que ao longo da sua mocidade vira a necessidade de sair da sua província a procura de novas sorrisos com cores de dólar para concertar o rumo da existência de sua família que gotejava carpidos em cada Lumiar do dia pelos episódios da sua derradeira vida quando viam o sol se esconder sem antes meter algo na sua boca. Em cada noite que o jantar lhes visitava, era uma razão para ajoelhar e rezar, ainda que não fossem crentes, mas aceitantes da religião nas horas de pânico e de fome.

No meio daquela moldura familiar com ares de desesperados da vida, Magupelane procurava fazer-se diferente, como se sozinho pudesse mudar o rumo da história, porque tinha em mente a vontade de mostrar que os homens não são, em seu todo, um vazo de ignorância, mas que eles pudessem transcender do seu mundo singular ao encontro do mundo do outro. Ainda cedo, mergulhava-se nos ares de um eterno ambicioso, com a ganância de vencer cada obstaculo, forjando uma nova página da sua vida.

Com chinelos amarrotados e furados de tanto pisar nas terras de Samora Machel e Eduardo Mondlane, Magupelane fantasiava surpreender o mundo com os seus planos que escondia na sua mente. Tantos planos que pareciam fugir quando nas noites o grito das corujas servia como o despertador da fome e da melancolia que ornamentavam sua mísera lenga-lenga.

Naquelas terras aráveis e memoráveis que viram heróis sucumbirem na espada no colono, Magupelane, menino de inúmeras vontades escondidas em seu peito inflamável pela fome, era visto com aqueles olhos do mundo como aquele jovem humilde, transparente, singular e um "messias" enviado para mostrar que se pode viver no sorriso sem que o gatilho da arma liberte a bala que se faz sentir nos esporros que figuram o nosso corpo. Mas nisso, havia quem se irritava por aquela "santidade" presa em uma única pessoa. Se Jesus teve maus seguidores – que um dia tirariam a sua vida – porque é que Magupelane não teria seus passos controlados por aqueles que não se afeiçoavam pela sua inconfundível estatura de menino bonito que orgulha os seus pais­?

No meio daquelas falas inquietas e quase que mortais dos alienígenas, que viviam ao seu redor, o que mais se questionava era a fonte de tanta inspiração que mesmo apesar de sua míngua, encontrava em cada olhar e em cada alma do outro uma razão para dizer que o mundo não é só feito de singularidades, pois Magupelane acreditava que a vida só se solidifica quando nos entregamos aos dramas dos outros e com eles fazemos os nossos passos.

Naquela altura, que fazia lembrar da crise mundial, a fome reinava em Chidenguele. Os pântanos estavam secos, as árvores negavam cuspir suas frutas para gente alegrar. As machambas pareciam inférteis que nem aceitavam deixar um milho sequer sorrir. Tudo estava perdido para quem não tinha poder de andar pelas grandes fortalezas da vida e comprar alegrias estomacais.

Quando tudo parecia ter terminado, cada dia servia para descobrir-se um novo desafio. Mas naquela altura, o homem da noite era aquele jovem de olhos castanhos – cor da areia que um dia lhe iria esconder. Magupelane enfeitiçava meninas e senhores das avenidas com aquele charme de simplicidade e singularidade. Os seus defeitos de homem incompleto pareciam não existir quando das trombas das vizinhanças era chamado de o "bom rapaz", como se por detrás de tanta aparente humildade não existisse um animal terreno pronto para se fazer sentir quando não encontrasse sossego e oportunidade para ser feliz.

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⏰ Última atualização: Mar 18, 2021 ⏰

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