✴DOIS✴

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''Amanhã.
Amanhã.
Amanhã...''
Minha mente repetia isso sem parar e eu já estava ficando maluca.
O que isso queria dizer?
Uma ameaça?
Um aviso?
Eu não sei.
Passei os dedos sobre o bilhete analisando a letra, talvez o senhor do terno apenas esqueceu isso na mesa, ou estava escrevendo e derramou ketchup sem querer. Que estupidez! Cheirei. Não tinha cheiro de ketchup, nem de tinta fresca. Nada. Não tinha cheiro de nada, na verdade, acho que tinha sim, de uma coisa, sangue. Mas se fosse ou não, não me importava. Houve algum erro, uma coincidência, com certeza. Eu não deveria me preocupar.
Enquanto estava em pé ainda paralisada, seu Francisco já na porta me grita.
_Vamos?
Então observa que estou um pouco tensa e vem até mim tocando meu ombro por trás com leveza.
_Vamos?
Saio do meu estado de transe e me viro para ele sorrindo.
_Vamos... Claro. –Seguro o bilhete com a mão esquerda e o escondo no bolso da minha calça de correr sorrateiramente para que não perceba. – Aqui. – Estendo a mão direita dando o dinheiro para ele.
_Ah sim. Deve ser daquele senhor de terno listrado. – Estou olhando para o rosto dele, fixando meu olhar na sua pinta perto do queixo, mas com o pensamento o mais distante possível numa luta para não pensar no que poderia ter acabado de acontecer. Coincidência demais.
_Sim. -Respondo com dificuldade perdida nos meus pensamentos ainda.
_Lind?
_Oi, desculpa. – Desfoco toda imagem e me mexo, finalmente, num pulo puxando-o para sairmos da cafeteria.- Vamos, porque Luke vai me matar!
_Você é demais, garota. – Ele me segue resmungando mais algumas coisas que eu não consegui entender, meu déficit de atenção faz com que minha concentração no que está acontecendo às vezes não seja muito boa, mas quando me esforço para não ser muito distraída funciona. E dessa vez tentei me esforçar o máximo para não deixar nada passar, analisar tudo, mas também não tentar ficar preocupada sem motivo, porque era isso que estava acontecendo. E amanhã eu já teria estresse demais.
Seu Francisco fecha a cafeteria e entramos no carro. Antes de começar a dirigir ele percebe meu estado ainda tensa e pergunta analisando meu rosto.
_Tá tudo bem?
_Tá sim, só estou cansada mesmo. – Digo olhando em direção ao mar de Soufells que fica à uma rua dali.
_Nossa, parece que viu uma assombração com essa cara de assustada. -Ele diz balançando a cabeça.
Antes fosse, penso.
_Deve ser medo de chegar em casa e ter que lidar com uma bronca e uma ameaça de ficar sem dinheiro por um final de semana.- Digo, me esforçando para esboçar um sorriso no meu rosto para que ele não descofie de nada, se eu contasse sobre o papel, jogaria fora e diria simplesmente para seguir com a minha vida, o que eu realmente faria.
Em relação a Luke me deixar sem dinheiro... Ainda bem que eu sempre guardo para me prevenir. Meu irmão como é mais velho, age como se fosse meu pai às vezes, eu o entendo, mas têm vezes que Luke enche a paciência me proibindo de algumas coisas, mas que na maioria não faz diferença porque não o obedeço, vamos dizer que eu seja só um pouco rebelde, um pouco, juro. Acho que ele já até cansou de tentar me proibir de algo, a não ser que não me dê algum dinheiro que eu precise pra sair, comprar alguma coisa e acabar me chantageando com isso, visto que ele que manda na maior parte do nosso financeiro, além do que ele também trabalha na escola como professor de educação física e de vez em quando é segurança do Aquário da cidade, como nosso pai era em Mansas, um segurança muito bom de coração e quando não estava em seu expediente passava a maior parte do tempo conosco fazendo seu papel de pai, isso quando não estava em suas viagens secretas com mamãe que até hoje eu não sei o que iam fazer na maioria das vezes, eles falavam apenas que eram viagens de ‘’negócios’’. Eu sinto falta deles todos os dias, todos os dias. Dizem que o tempo cura a dor, para mim ele só aumenta, pois penso ‘’mais um dia que estou vivendo sem meus pais, sem meus guardiões, mais um dia.’’
Afastei esses pensamentos e voltei meu olhar em direção ao Seu Francisco que ainda me olhava do banco à minha esquerda de motorista. Todos esses pensamentos não durou mais de 3 segundos.
_Mas nossa, Lindsay Harbor não me assuste mais com essas caras por favor, tá tarde e eu vou ter pesadelos.
_Que caras? – Digo fazendo uma careta e começamos a rir.
_Credo, garota. Tome um banho e penteia esses cabelos esvoaçantes assim que chegar em casa, por favor. – Seu Francisco diz sorrindo me levando finalmente para casa.

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⏰ Última atualização: Feb 16, 2018 ⏰

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