AMOR DE UM TRAFICANTE

CAPÍTULO 01

Manuela

Cíntia: Manuela, pora favor sai do quarto! Vai pra rua!

Nem me dou o trabalho de responder, minha mãe já sabe que não sou uma pessoa que vive com um sorriso no rosto e em meio a amigos e tal, sei lá o que eu tenho, e não acho que eu seja uma menina antisocial, eu Manuela sou apenas uma adolescente de 14 que adora ler, escrever e escutar música E tudo isso sabe como? Sozinha, bem sozinha

Mas não sei o que minha mãe acha de tão estranho nisso, ela queria o que? Que eu fosse igual as meninas aqui da favela que com a minha idade já estão sendo mãe ou apanhando de bandidos? Deus é mais viu. E falando em favela, ainda não me acostumei com minha nova forma de vida. Vim morar na favela Cidade de Deus, aquela do filme e tal.

Aí cês me perguntam, tem morte mesmo? Sim tem. Tem disputa pelo tráfico mesmo? Sim tem. Só ainda não vi Ze pequeno, mas Luis o tal chefe é bem parecido. Mas dizem que logo muda de chefe. Só vi ele uma vez quando estava saindo do mercado com minha mãe. Odeio esse lugar, mês que vem começa as aulas e quero só ver eu estudando com essas putianes do morro. As meninas aqui vivem me olhando torto o pouco que saio de casa, e já semana passada uma menina veio pra cima de mim por que o tal do ficante dela tava me olhando, ela disse que eu quem tava me mostrando pra ele. Vê se pode?
E

la perguntou se eu queria ficar sem meus lindo cabelos ruivos, já pensou povo? Quase caguei ali mesmo.

Minha mãe alugou uma casa aqui no morro com a ajuda da amiga dela a Rosa, nos moravamos em uma casa a linda pertinho da barra, minha mãe vem de uma família de posses já meu pai é um pé arrapado, aliás o pé arrapado que mais amo no mundo, e com certeza será o único viu. Minha mãe tem só uma irmã, a bruxa da minha tia depois da morte dos meus avós deu um jeito de roubar a herança, e com isso ficamos sem casa.
E

ntão aqui estamos já que meu papi lindo estava sem trabalho, agora ele tá trabalhando e espero que essa minha estadia na favela seja bem curta.

Rosa tem um filho o Vinícius, aqui chamam ele de VN. Ele é bonito, simpático, não é como os meninos que geralmente tem por aqui, bagaceiros, ele é quieto educado.
E

le dá umas olhadas indicando que quer coisa a mais que amizade mas não quero nada com ninguém, nunca beijei na boca e vou continuar assim por um bom tempo. Sexo? Nem a pau, e casamento só depois deu completar a faculdade, quero ser médica, quero não, eu vou ser. Futura cardiologista se Deus me permitir.
Meus objetivos são grandes, e neles não inclui homem, muito menos um homem de favela.

Escrevo mais algumas poesias, isso me relaxa e acalma. Mas sou tirada da minha terapia digamos assim com meu telefone tocando, olho e no visor aparece o nome da Lari, minha amiga de infância do antigo Colégio.

Ligação on

Manuela: Fala minha preta

Larissa: Ai minha tchuca que saudade!

Manuela: Também to? Vamos marcar um cinema essa semana?

Larissa: Lógico! Cê de manhã cedo com tua mãe e passa o dia aqui

Manuela: Fecho!

Larissa: Mas vem cá, e o VN? - pergunta maliciosa desde que conheceu o Vinícius tá caidinha por ele

Manuela: Tá aí, grande e forte

Converso com minha amiga pelo celular um bom tempo, e depois que desligo decido ir tomar um banho.
E

ntro no chuveiro e lavo bem meus cabelos, hidrato meu corpo, fico no banho por volta de uma hora. E Dona Cíntia o tempo todo gritando pra eu sair dela, aí credo uma diva precisa do seu momento de beleza né?

Quando termino de me arrumar minha mãe chega no quarto e já aproveito pra dar a escova na mão dela e deixar ela com a missão de pentear meus cabelos, é sempre ela quem faz isso ou meu pai mas ele não tem paciência não.

Cíntia: Nós vamos na praça com a Rosa

Manuela: Não obrigada

Cíntia: Manuela, você vai. Chega de ficar em casa, vai arrumar amizade

Já ouvi essa frase umas mil vezes, só essa semana

Manuela: Aí meu pai! - digo colocando a mão no rosto

Manuela: Manhê, vai rolar minha festa de aniversário né?

Ela me olha pelo espelho e volta a pentear meus cabelos, só que pelo jeito que ela puxa acho que ela tá é arrancando tudo logo.

Cíntia: Então, vamos fazer mas só uma coisinha chama uns amiguinhos e deu. A vida agora é outra filha, não ganho mais a mesada que ganhava, tem que pagar aluguel, só eu tava trabalhando é puxado Manu

Manuela: Eu sei. E o ano que vem? E meus 15 mãe? - pelo amor, meus 15 anos povo, tem que ter aquela festa né

Cíntia: Se tudo der certo pra nós

Manuela: Vai dar, vai dar sim - digo com os dedos cruzados, eu quero muito tem que dar.

Cíntia: Pronto, a macega tá penteada agora vamos

Manuela: Sério?!

Pergunto com cara triste, pensando que ela ia me livrar de sair na rua e quase apanhar

Cíntia: Bora Manu vamos

Ela me abraça, aquele abraço que não resisto. E também nesse caso não tenho escolha mesmo então bora pra praça. Só espero sair de lá viva né