Prólogo

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“Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não te entendem
Mas você não entende seus pais”
— Legião Urbana, “Pais e Filhos”

Helena olhou disfarçadamente para o celular por debaixo da mesa para ver um SMS de Lucas:

“Você vai?”

Ela digitou rapidamente uma resposta:

“Sim”

“Te encontro as dez então, no lugar de sempre.”

Helena guardou o celular dentro da mochila e espiou Lucas, que a olhava de volta. Sentiu seu coração bater mais forte e o rosto queimar, sua perna tremia por conta da ansiedade pela noite.

Respirou fundo e tentou dar alguma atenção ao professor de história e seu discurso entediante a respeito da ditadura militar no Brasil.

***

Helena chegou de mansinho na cozinha.

— Mãe — tentou falar com jeitinho —, você me deixa ir em uma festa na casa da Júlia hoje?

— Não — Margareth respondeu, sem nem se dar ao trabalho de desviar a atenção da louça que estava lavando.

— Mas, mãe...

— Eu disse não.

— Por que não? — Helena perguntou.

— Porque não.

— “Porque não” não é resposta — devolveu Helena, malcriada.

— E eu não lhe devo satisfação — Margareth falou com rudeza. — Quando eu tinha a sua idade, eu não falava assim com a sua avó.

Helena deu meia volta e saiu da cozinha irritada, entrou no seu quarto e bateu a porta com força antes de tranca-la. Jogou-se na cama irritada e começou a chorar por pura frustração.

***

Margareth espiava entre as persianas quando viu Helena pular a janela do quarto e sair sorrateiramente para a rua. Estava de vestido e All Star, mas ao menos tinha tido o bom senso de pegar um casaco. Sorriu consigo mesma com as lembranças da própria adolescência que invadiram sua mente.

Afinal, as coisas nunca mudam.

— Margô? — Will chamou da cama. — Não vem dormir?

— Estou indo — ela respondeu, e se afastou da janela.

Uma Noite em 1985Onde histórias criam vida. Descubra agora