Carta destinada a minha mãe - Capítulo Único

67 14 16
                                    

                       26 de junho de 2010

Lorna Turner Johnson
Avenida Dália, 906
Portville

Assunto: O dia em que o destino colaborou com você.

"Eu nunca pensei muito em como seria minha morte, se por ventura do destino seria por causa de uma doença letal, um acidente trágico ou até mesmo uma bala perdida. Mas eu não resolvi esperar muito pelo  destino, não aguentava, parece que esse dia nunca ia chegar, então eu decidi fazer tudo por conta própria, ou esse realmente era o meu destino? Nunca iremos saber.

Serendipidade. É uma das palavras chaves aqui. Não acredito em muita coisa, nunca acreditei em deus e não será agora que vou acreditar, acho que quando isso aqui acaba não há mais nada. Escuridão.

Mas há uma coisa em que acredito, no livre arbítrio.

A vida é minha, não me julgue apenas aceite. Essa foi a minha escolha.

Tudo o que que a sociedade faz é julgar, apenas isso, ninguém quer mais saber como você está, ou os seus motivos para fazer tal coisa, eles so apontam o dedo. Parem ok, parem de fazer isso. Por que algumas pessoas não precisam da sua opinião, so precisam do seu apoio, e eu era uma delas. Ninguém nunca chega e pergunta o porquê fulano está daquele jeito, pelo o que ele está passando, quais os seus motivos sabe, as pessoas não ligam! Só querem saber delas, a felicidade delas em primeiro lugar o resto que se dane. Por falta de alguém que me apoiasse eu apoiava os outros, não queriam que eles passassem pelo que eu estou passando, sei a agonia que é, sei o quanto é doloroso então eu ajudava na medida do possível sempre perguntando como estavam e sempre lembrando que eu estava ali para qualquer coisa. É disso que estou falando, do amor. Amem mais, se importem mais e estarão livrando alguém da morte.

Ninguém nunca vê, até que seja tarde.

Malditos. Imundos. Nojentos.

Não quero mais viver em um mundo com pessoas assim, que julgam por moda, um mundo onde os pais estupram seus filhos, mães que amam mais uns do que outros, e também mães que sabem a situação dos filhos e não fazem nada para ajuda-lós.

Eu não queria me matar, nunca quis. Sei que tenho uma brilhante vida pela frente, ainda muito o que viver e lugares escondidos para explorar mas do que adianta? Se nada disso vai aliviar a minha dor.

Droga, eu queria tanto ficar aqui. Porque ninguém nunca me ajudou?

Sei que essa minha decisão foi totalmente desqualificada e imoral, ninguém tem o direito de tirar a própria vida assim, todavia sempre existirá uma razão para isso, algumas pessoas irão entender outras nem tanto. E seja lá qual motivo for, nenhum é tão válido para tamanho ato, tenho dito. Eu sou uma corvarde.

Já tentei outras vezes o suicídio e sei qual a sensação, por isso estou com medo, apavorada para ser mais exata. Aquele frio na barriga involuntário. É horrível.

Pensar em suicídio é uma coisa, planejar e ir ao ponto é outra.

Os meus motivos para isso são: o meu pai, seu querido e primeiro amor, me estupra a quase dois anos, eu sei que você sabia por que no mesmo ano em que ele começou a me usar você passou a ter nojo de mim, nojo da minha presença, juro que tentei ser mais forte e não me deixar abalar por isso já que ele sairia ganhando, mas ai é que ta ele ganhou, parabéns Johns você conseguiu acabar com a minha sanidade. Mesmo sabendo você não ligava mãe, eu queria a sua ajuda mais do que tudo mas era dificil a vergonha era maior, nunca consegui dizer com palavras mas os meus gestos diziam tudo, pena que você nunca os notou ou fingiu muito bem não notar. Quantas vezes eu tive de aparecer com manchas roxas na pele? Quantas vezes eu fiquei chorando por noites e noites sozinha no meu quarto? Por que eu so usava blusa de mangas compridas? Quantas vezes eu te olhei por súplica? Quantas? Nem eu sei mais. Só sei que você nunca ligou. Você poderia ter pelo menos consideração em perguntar se estava tudo bem, mas não, você não o fez.

Eu cheguei a apelar para drogas, mas não funcionou, queria ver o estrago que elas iriam fazer com o meu corpo, se elas davam início a um apodrecimento, mas quem serviu de estopim para isso não foram elas, e sim o meu pai.

Outro motivo é que, lembre o número de filhos que você tem não é apenas um, são dois, dois filhos mãe. O Billy não tem nenhuma culpa disso, ele é pequeno precisa de cuidados, mas e eu? Não preciso também? Não é querendo ser uma egoísta mimada, mas eu so queria simples ações nao iriam custar nada como um "bom dia, filha", "como você foi na prova que ontem passou a madrugada estudando?", ou ate mesmo "durma bem" sabe, atos tão simples, que eu vejo as mães das minhas amigas fazerem, as vezes eu fico me perguntando como é ter uma mãe atenciosa, protetora ou amorosa, eu vejo que a senhora é assim, o Billy tem sorte. Espero que quando você tiver outro filho para me substituir seja melhor com ele ou para ele, o ame por que ele vai te amar, assim como eu um dia te amei imensamente.

Bullying, é... O bullying é o meu outro motivo, nunca entendi muito bem o porquê que as pessoas me odiavam, eu tentava passar o meu melhor, fazer de tudo para agradar, mas acho que nunca foi o suficiente. Aqueles que diziam ser meus amigos foram os primeiros a me abandonar quando souberam do meu estupro, dizendo eles que me adoravam mas tinha medo do que iam pensar se soubessem da minha situação e me visem andando com eles. Tudo um bando de hipócritas, hipócritas mimados.

Mas enfim, eu me matei porque eu não aguentava mais existir. Eu já estava morta, o que mais eu serviria nesse mundo? Totalmente sem sentimentos, sem uma essência. Quem diabos quer se aproximar de alguém assim? Nada mais de bom existia dentro de mim, nada. Só uma escuridão, um tipo de larva que come tudo o que há de bom sem deixar rastro algum de felicidade e amor. Meu interior era como um céu escuro, sem nenhuma estrela ali existente, como um lago na escuridão da noite ou até mesmo o vácuo.

É dificil acordar na manhã seguinte e saber que tudo irá se repitir, tudo de ruim. Como uma maldição.

Depressão. Outra palavra chave. Depressão é algo sério, quando você percebe ela ja te engoliu e levou os seus restos para o fundo do poço, o erro da sociedade é achar que esse problema é um drama adolescente, e com esse pensamento a cada dia morre mais um. Sem ajuda, é quase impossível sobreviver. Então eu vós peço sejam tolerantes.

Quando forem lembrar de como eu era, lembrem da Brid de 2 anos atrás, aquela Bridjet amorosa e extrovertida, não dessa infeliz e deprimente que fingia ser verdadeira, essa era um mar de mentiras".

Adeus,
Bridjet Turner Johnson

Minha carta fúnebreOnde histórias criam vida. Descubra agora