Na maior parte do tempo eu me pegava pensando, não era um assunto que me deixava desconfortável, mas de um tempo para cá eu me perguntava se as minhas escolhas são sempre as certas, se talvez eu tivesse tomado outra decisão em um momento importante da minha vida, eu não estaria aqui agora pensando no porque ainda não encontrei um novo amor, ou porque eu sempre afasto as pessoas de mim sem ao menos saber o porquê.
Olhando ao redor do meu quarto eu não pude deixar de observar uma foto que está pregada na parede. Eu estava tão feliz, aquele momento tinha sido tão especial que agora eu poderia jurar que foi o pior.
Levantei do meu lugar confortável, que era minha cama, e fui na direção da foto. Nela eu estava olhando para a pessoa que um dia foi importante para mim e que agora é só um desconhecido. Estávamos irradiando felicidade. Eu estava olhando para ele, talvez pensando em como era feliz estar ao seu lado, e ele me olhava, poderia jurar que ele pensava o mesmo. Éramos tão apaixonados e isso acabou tão fácil.
Aquele dia estávamos indo para a chácara de seus pais, foi tão bom quando meus pais nos desejaram felicidade e um ótimo final de semana. Fomos no carro que ele havia ganhado em um concurso de melhor escritor, tinha sido a pouco tempo o concurso que estávamos eufóricos para viajar no novo carro dele. Pegamos a estrada de madrugada para não ter de passar no engarrafamento que teria na tarde daquele dia. Havia música tocando com volume baixo no carro, e risadas ecoando naquele pequeno automóvel. Ele me olhava com ternura, parecia ser o melhor dia da vida dele, seria o meu também, mas isso mudou e agora é o pior de nossas vidas.
O barulho de telefone tocando tirou nossa atenção da estrada, eu disse para não atender ou talvez me dar o telefone que eu falava, mas ele se negou, mais tarde eu soube o porquê, ele estava preparando uma festa para mim, queria oficializar nosso amor e isso seria um pedido de casamento, mas tudo foi por água abaixo.
Quando ele tirou a outra mão do volante para pegar o papel que continha o endereço da chácara e indicar para onde nossos amigos deveriam ir, houve o acidente. Foi tudo tão rápido que quando vi, já estávamos batendo em um caminhão. Ele havia tirado a mão por segundos, porque aquilo foi nos acontecer?
Caindo no real, reparo que meus olhos estavam descendo lágrimas, era de dor, sofrimento, e de lembrança. Eu sempre evitava pensar, mas veio átona sem nem mesmo reparar, que não pude evitar.
Lembrar do momento em que eu supostamente poderia perdê-lo para sempre ainda me dói, porque a verdade é que eu o perdi, não para a morte, mas por algum outro motivo que eu luto todos os dias para saber qual é. Desejo a todo momento poder voltar no tempo, no dia em que nos conhecemos, só para reviver de novo, só para eu ver a felicidade de perto, somente outra vez.
Saber que ele me deixou sem se importar quebrou meu coração, eu poderia lutar ao lado dele, eu seria mais forte e amaria ver o sorriso dele quando eu conseguir dar o primeiro passo. Todos os dias desde aquele acidente eu lutei por nós, para poder ter meus movimentos de volta e ir em busca dele.
Eu me enganei, porque eu pensei que fosse capaz de vê-lo novamente, minha luta por um lado foi em vão, eu não o encontrei e talvez nunca o encontre.
O barulho ensurdecedor do despertador invade o ambiente me alertando do tempo que estive fora de mim. Olho para o despertador e vejo que está na hora de ir para o trabalho. Preciso aliviar minha cabeça e isso só aconteceria no pequeno ambiente que me traz sensações agradáveis.
Trabalhar em uma cafeteria tem um lado positivo, á pessoas meigas e tão boas de lidar que eu poderia passar o dia ali sem me importar com as horas.
Entrando pela porta de vidro avisto o homem que faz meu dia feliz ali, o Sr. Humphy. Ele se senta na cadeira próximo da porta e pega o cardápio, como faz todos os dias.
"Olá, boa tarde." digo ao me aproximar. Ele me olha sorrindo e balança a cabeça como sinal de negação. "Ah, me desculpe, eu esqueci."
Era meu dever atender os clientes com a mesma frase, até que um dia, eu reclamando com o Sr. Humphy que já não aguentava falar a mesma coisa sempre, ele então me pediu para atendê-lo diferente, e desde então eu o faço. Mas com a cabeça avoada por conta da breve lembrança mais cedo, eu falei o de sempre.
Voltei alguns passos e refiz meu caminho até ele.
"Olá Sr. Humphy, que alegria vê-lo. Como está?" digo dando pequenas risadas. É mágico ter um momento com o Sr. Humphy, ele é um homem vivido, que passou por várias experiências na vida, até mesmo no exército, e mesmo depois de tantas lutas ele mantém o sorriso no rosto e na alma.
"Estou bem minha garota, e a senhorita?" ele pergunta me analisando. Faz uma careta esquisita ao reparar meu semblante, que eu finjo um sorriso falso para ele não notar a dor através do meu olhar.
"Igual ao senhor, pronta para encarar qualquer coisa." sorrio e ele me acompanha.
Ele olha para o cardápio por um breve momento e me aponta o pedido cinco, café e um pedaço de bolo, era sempre isso. O que eu achava incrível era que ele não negava o cardápio, queria sempre olhar para ver o que tinha, mesmo eu dizendo que não havia nada novo, ele então me olhava sério e falava: não confie sempre no que lhe dizem, pode não ser verdade.
No começo achei ofensivo o que ele dizia, mas com o tempo notei que ele estava certo. Até porque eu não lia o cardápio sempre, talvez pudessem ter acrescentado algo novo e eu não ter notado, assim como em nossas vidas, podemos estar sempre mudando, e acrescentando pequenas coisas.
Lhe entrego o pedido e volto a atender outros clientes. Naquela cafeteria ouvia-se de tudo. Pessoas felizes por ter acabado de conseguir um emprego melhor, mulheres que descobriam estar esperando um bebê e compartilhava ali com o marido a novidade, amigos conversando sobre futebol ou outras coisas em comum, e até mães contando que estavam felizes ao saber que seus filhos iriam se casar.
Era turbilhões de sentimentos naquele pequeno local, que eu adoraria um dia poder sentar em uma daquelas cadeiras e alguém ouvir minha conversa e ficar feliz por mim, assim como eu fico.
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Me apaixonei, e agora?
RomanceVocê já se sentiu presa em um passado, talvez por não ter respostas sobre ele e por isso se sentir desse modo e sem forças para seguir em frente? Margo uma garota delicada e romântica vive se perguntando do passado, ela fingi ter superado, mas todos...