Primeiro Capítulo

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Cara, como eu odeio o dia dos namorados.

Não apenas porque eu sou uma adolescente solitária e que não tem ninguém para comprar uma caixa de bombons ou para pagar um jantar à luz de velas em um restaurante onde uma sobremesa é mais cara que o carro do meu pai.

Não apenas por isso.

Mas é porque é exatamente nessa época que o Sr. Takafumi decidi culpar os norte-americanos pela bomba nuclear que idiotas jogaram no Japão anos atrás, e nos escraviza sem parecer um chefe do mal.

Assim que cheguei no trabalho, depois da escola, fui direto me trocar e já escutei Isac e Patrick sussurrarem: as encomendas de biscoito da sorte chegaram. Quase tive vontade de pegar minha bicicleta e sair correndo no mesmo instante para um lugar bem longe daquele japonês maluco.

Uma semana antes, Sr. Takafumi pediu para que todos os funcionários escrevessem frases de amor para serem colocadas dentro dos biscoitos da sorte. Metade do pessoal, foi atrás de letras de músicas pop melosas e outros aproveitaram para fazer piadas. Isac escreveu um poema e disse que seria dedicado à sua namorada Caroline.

"Gostosa, gostosinha. Eu quero fazer algo mais que molhar sua"... OK. Você considera isso romântico? – perguntei parando de ler na metade do poema.

Isac bufou.

– O que importa é que ela vai gostar. E você, Frank, o que achou?

Passei o poema pra ele.

– Sensual. – falou soltando aquele sorriso que apenas ele sabe dar com aqueles dentes perfeitos que quase me fazem ter vontade de...

OK. Agora sou eu que estou meio Isac.

– Você escreveu alguma coisa, Frank? – Isac perguntou.

Fingi que arrumava os potes de molho de pimenta.

– Escrevi sim. Mas deixarei vocês dois na curiosidade até o dia dos namorados. – falou.

Eu juro. Juro que ele piscou para mim naquele mesmo instante.

Vale ressaltar algumas coisas:

Eu sou a melhor amiga de Frank

e

eu gosto dele

no sentido de: quero beijá-lo.

Como quase toda amizade de escola:  tudo começou quando ele se mudou para a mesma sala que eu. Isso soa tão infantil e idiota, mas foi exatamente assim.

Frank usava aparelho, tinha um cabelo estilo tigela (o que era vergonhoso na época) e suas espinhas tinham quase vida própria. E eu, era gorda. Do tipo, que usava sutiã um pouco maior por conta da largura das minhas costas. Meu cabelo nunca colaborou, então, eu o amarrava em um rabo-de-cavalo com aquelas tiras coloridas. 

Ou seja, tínhamos tudo para sermos os alvos das piadas. Quando vi ele entrando no ônibus, eu logo decidi: esse babaca vai apanhar comigo daqui para todo sempre.

E foi assim

Durante dois anos.

Festas de aniversário juntos. Nas férias de verão íamos acampar no chalé dos avós dele. Páscoa. Dia das bruxas. E até dia dos namorados.

Frank se tornou a melhor parte do meu dia. Fazíamos tudo juntos.

E eu me apaixonei.

Mesmo o chiclete grudando no aparelho dele, eu o achava lindo.

As Piores Tentativas ao TentarOnde histórias criam vida. Descubra agora