White - Prológo

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Era o tipo de conversa que os pais tinham com os filhos quando achavam que estavam preparados. Alguns já sabiam de tudo aos oito anos, outros só descobriam aos catorze, mas, em algum momento de suas vidas, todos já se sentaram na frente dos pais para ouvir falar de algo completamente novo, que eles só entenderiam depois de alguns horas de reflexão. E com John não havia sido diferente.

Lembrava-se claramente de ter que estender uma bandeira branca na atual briga com a irmã e se ajeitar no sofá, os olhos arregalados e ouvidos atentos á cada palavra dos pais. Primeiro, ele teve que entender o conceito de cores. Até onde ele sabia, tudo parecia a mesma coisa, com exceção de algumas mudanças de tons nos olhos, cabelos e roupas das pessoas, na luz do sol e nas sombras, mas ele simplesmente não conseguia imaginar o mundo de um jeito diferente. Depois, ele precisou descobrir o que eram almas gêmeas e como, exatamente, elas faziam pessoas enxergarem coisas que para ele nem sequer existiam. Demoraram algumas horas para que ele compreendesse de fato o que acabara de lhe ser dito: A visão que ele tinha do mundo era limitada. Ele, e muitas outras pessoas, agora enxergavam tudo em cores chamadas de preto e branco, mas, conforme eles se aproximassem das pessoas para quem estavam destinados – suas almas gêmeas – eles começariam a enxergar as cores pouco a pouco, até verem o mundo em sua total vibração de tons diferentes.

É claro que haviam exceções. Para começar, nem todas as almas gêmeas eram pares românticos. Podia ser um amigo, um inimigo – sim, isso é mais comum do que se imagina -, ou até um parente distante na família, o que resultava em relações platônicas ou fraternais, deixando as duas pessoas livres para namorar quem quisessem sem complicações. Porém o mais comum, e o mais desejado por todos, era conhecer alguém por quem você está destinado a se apaixonar e viver uma longa vida juntos. Algumas vezes, quando alguém conhecia sua alma gêmea e já tinha um parceiro romântico, era um conflito entre ficar com quem amava e não enxergar o mundo totalmente, ou viver com quem estava destinado e apreciar todas as cores completas e vívidas. Havia também aqueles que nunca chegavam a conhecer sua alma gêmea, ou porque morreu antes que a conhecesse, ou simplesmente porque estavam longe demais um do outro. Havia quem evitasse ter uma alma gêmea á todo custo, mas eventualmente acabava esbarrando em alguém na rua e de repente tendo a vista encandeada por mil cores á sua volta.

Mesmo sabendo de todas as falhas e possibilidades, John acreditava com toda a fibra de seu ser, com cada batida de seu coração, que sua alma gêmea estava por aí em algum lugar, e que um dia ele veria por si mesmo o mundo com qual ele sonhara desde o dia em que soubera de sua existência, e ele poderia responder a questão que se fazia no espelho todos os dias; qual era a cor de seus olhos?


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