Nada é por acaso

4. Você me evitou, nem ao menos quis tentar

Sasuke viu a compreensão fazer a boca de Naruto se abrir num 'O' de surpresa e ele de repente ficar nervoso e um pouco envergonhado. O loiro abaixou o olhar e perguntou:

— Desde quando?

— Já tem um tempo. Eu tentei ignorar e 'tava até conseguindo mas ficou mais difícil depois... quer dizer... ultimamente.

Sasuke tentava ler na expressão de Naruto o que o outro sentia com suas palavras, mas ele mantinha a cabeça baixa. O silêncio entre eles se arrastava e quando Sasuke abriu a boca para quebrá-lo Naruto, ainda sem o olhar, disse, baixo, quase um sussurro.

— Desculpa Sasuke.

Sasuke arregalou os olhos, pois era exatamente a mesma coisa que ia dizer.

— Pelo que? Tá doido? Eu é que confundi tudo...

Eu é que sou o idiota que não consegui sentir só amizade por você e você que pede desculpas, a mente de Sasuke gritava, mas ele não conseguia pôr tudo em palavras.

— Eu fui um idiota, te beijei e...

— Você não sabia...

— ...se eu pudesse voltar no tempo jamais teria feito aquilo.

As palavras doeram e Sasuke sentiu sua já minúscula esperança afundar como um pedregulho no mar. Sem olhar pro loiro e do jeito mais firme que conseguiu, disse:

— Tudo bem Naruto. Eu já sabia que não tinha chance, também não precisa disso tudo, saquei que você se arrependeu. Só esquece o que acabei de falar.

Nessa hora Naruto o olhou assustado. Sasuke não estava sequer tentando esconder seus sentimentos nesse momento e viu Naruto arregalar os olhos e levar as mãos aos cabelos, puxando os fios curtos em sinal de frustração e com certo desespero, antes de falar:

— Merda, você tem razão, eu sou um burro mesmo! Desculpa Sasuke, eu não quis dizer isso, eu não me arrependi, é só que eu não quis brincar com seus sentimentos. Você sabe, sabe que eu não faço isso, não fico com alguém que goste de mim sem corresponder eu...

Naruto tagarelava tentando se explicar, ansioso. Sasuke via ele tentando decidir se devia ou não tocá-lo, estendendo e depois recolhendo as mãos. O que o loiro dizia tinha o efeito contraditório de fazer Sasuke se sentir melhor e pior ao mesmo tempo. Mas não pôde deixar de sorrir fraco pela quantidade de vezes que o outro repetia "desculpa, desculpa". Sasuke então segurou a mão de Naruto para que ele não voltasse a puxar os cabelos e disse, com sinceridade:

— Eu sei Naruto. Tá tudo bem.

O toque pareceu mudar a atmosfera instantaneamente. O olhar assustado de Naruto revezava entre o rosto de Sasuke e suas mãos unidas. Sasuke achava que seu coração ia saltar pela boca, pois apesar de tudo, Naruto não tinha se afastado de seu toque. Os segundos passaram parecendo horas enquanto estavam daquela maneira até o silêncio pesado ser quebrado pelo toque do celular do loiro.

O aparelho estava logo atrás de Sasuke, que largou as mãos de Naruto e o alcançou. Viu no visor a foto de Hinata e passou o aparelho para o amigo, tentando controlar um suspiro triste, sem sucesso.

— Eu vou desligar e a gente continua conversando...

— Não Naruto, pode atender, tá de boa.

O loiro se afastou, indo até a janela do quarto. Sasuke não sabia o que pensar enquanto ouvia Naruto conversar com Hinata. Ele falava calmamente, seu tom de voz estava leve, e apesar de dizer que não estava gostando da menina, Sasuke pôde perceber o carinho com o qual o loiro se dirigia a ela. Um lado seu estava arrependido de ter contado, mas agora não tinha mais volta. Outro ainda sentia a sensação das mãos de Naruto nas suas e se apegava ao fato de Naruto não ter recuado do toque. Parte de si estava aliviado por finalmente ter isso exposto, como se um peso tivesse saído de suas costas. Mas só pra uma nova angústia se instaurar, com a perspectiva de como as coisas seriam a partir de agora. Confusão. Sasuke poderia rir do quanto estava confuso. Perdido em seus pensamentos só se deu conta que Naruto já tinha desligado e estava parado de pé à sua frente quando o loiro pigarreou antes de falar: