Capítulo Único

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Sasuke era meu melhor amigo desde a pré-escola

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Sasuke era meu melhor amigo desde a pré-escola. Ou melhor dizendo: não era meu melhor amigo até o primeiro ano do ensino médio. Eu nunca fui do tipo que consegue manter o mesmo círculo de amigos por muito tempo, as pessoas pareciam cansar de mim e me empurrar para outro grupo em dois ou três anos, mas Sasuke estava sempre lá, foi ficando enquanto os outros se afastavam. Era inevitável que, com o passar dos anos, a intimidade que eu tinha com ele ultrapassasse a intimidade que eu tinha com qualquer outra pessoa dos meus novos grupos de amigos.

Ele não era o melhor amigo dos meus sonhos que eu pediria se pudesse ter um feito sob encomenda: ele não gostava dos meus filmes e bandas favoritos, não cantava comigo em plenos pulmões pela rua, quase nunca ia junto cabular a aula e nunca gargalhava das minhas piadas ruins, como eram todas as outras pessoas com quem eu costumava andar. Mas por outro lado, ele sempre me mostrava e fazia eu me apaixonar por coisas totalmente fora do meu comum, que eu jamais teria conhecido ou dado uma chance por interesse próprio, me ajudava com as matérias que eu tinha dificuldade, mesmo que emendando com uma bronca ou outra pela minha irresponsabilidade, o senso de humor dele, ácido e discreto, era uma benção em momentos tediosos de decoro e... Bem, ele não ria das minhas gracinhas, mas dava um mínimo suspiro inaudível e rolava os olhos devagar até pousá-los em mim com um ar indulgente e malicioso, e então seus lábios se mexiam daquela forma quase impossível de perceber que só eu no mundo reconhecia como um sorriso. Por algum motivo delirante, aquela reação me extasiava mil vezes mais do que qualquer risada.

Então, não. Sasuke não era o melhor amigo que eu pediria se pudesse, mas era por isso que eu me sentia tão imensamente sortudo de tê-lo. Ele era muito além do que a minha imaginação avoada e bocó jamais cogitaria. Sasuke para mim era o imprevisível, o insurgente, como algo muito essencial que você passa a vida inteira procurando ao longe e falha em encontrar a não ser que alguém lhe dê uma sacudida e aponte-o dando sopa bem ali debaixo do seu nariz. Parecia que ele estava sempre me mostrando um universo novo e inusitado. Ou melhor dizendo, me ensinando a ver o meu universo por uma ótica inimaginável. Vai ver era por isso que falar com ele sobre qualquer coisa era tão fácil, tão natural. Eu sabia que poderia dizer a ele qualquer maluquice que se passasse na minha cabeça ou no meu coração: ele não estranharia se eu fugisse do senso comum, ele próprio era uma constante quebra do meu comum. E eu sabia que ele também me contava coisas que não confiava a mais ninguém. Não tanto quanto eu fazia, eu sempre fui uma torneira quebrada, bastava abrir uma frestinha e eu já desatava a despejar minha intimidade em detalhes infelizes sem filtro algum. Ele era reservado: contava o tema, talvez um ou dois pontos chave, mas nunca os pormenores a não ser que perguntado especificamente sobre eles. Por vezes nem assim.

Foi desta forma quando um dia, em minha casa, ele tomou um ar sério num longo momento de silêncio em que eu estava distraído tentando consertar o vídeo game. Ele chamou meu nome com um ar soturno, fez eu deixar o controle de lado, encará-lo, prometer segredo. "Eu preciso te contar uma coisa". Fiquei nervoso que cheguei a imaginar se ele tinha matado alguém e queria ajuda com o cadáver.

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⏰ Última atualização: Feb 26, 2018 ⏰

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