Liar

629 73 25
                                    

Sempre gostei de caras que passam a maior imagem de bad boy, mas na verade são gentis e até têm um "coração de manteiga". Yifan. Aquele homem roubou meu coração de tal maneira... andava sempre sozinho e de cara fechada. Mas eu vi. Eu vi o dia que ele ajudou aquela senhora cega a atravessar a rua. Quando ele pegou aquele cachorro ferido e levou para um abrigo não muito longe da universidade. Quando ele comprou um algodão doce e deu para um menino pobre. Eu vi.

Aquelas ações que podem ser insignificante e irrelevantes aos olhos de outras pessoas, aquelas pequenas ações fizeram Yifan me conquistar sem mesmo saber o meu nome. Mas eu não podia me contentar com isso. Eu queria ele pra mim. Queria ser a única a beijar sua boca. A única a trocar carícias e abraços com ele e a única que ele ama. Eu sei que é egoísmo, mas eu não podia segurar. Sempre fui um pouco egoísta, eu admito. E quando eu achei o homem da minha vida naquele lugar, ficou muito pior.

E então ele quase me matou. Com aquele sorriso. Não era um maldito sorriso, pelo contrário. Agradeço aos céus e todos os deuses que podem ou não existir, por ele ter sorrido. Nunca tinha visto um conjuntos de dentes ficarem tão bem em uma pessoa. Era inexplicável a sensação de olhar o seu sorriso. Me dava vergonha e eu queria abaixar a cabeça, mesmo sabendo que ele não estava me olhando. Mas ao mesmo tempo, eu queria olhar mais. Muito mais.

Como uma adolescente boba e apaixonada, deixei meus livros caírem. E justo o de Filosofia caiu em meu pé. Se juntasse todos os livros didáticos que tenho, não daria nem metade do de Filosofia. Gritei de dor e me abaixei, massageando o meu dedinho do pé. Resmunguei palavras desconexas em meio aos palavras baixinhos que soltava em direção ao livro.

Aquela mão grande apareceu como mágica diante de meus olhos e me permiti imaginar certas coisas que não eram muito puras. Levantei minha cabeça e encarei a face ainda séria de Wu Yifan, tal ser humano que quase havia me matado com apenas um sorriso segundos atrás. Eu não queria admitir, mas eu já estava apaixonada por ele há muito tempo, muito antes de perceber que seu sorriso era sinônimo da minha perca de sanidade.

Segurei em sua mão, mesmo que eu pudesse me levantar sozinha. Olhei em volta e percebi o corredor vazio, que explicou o fato de tal "boa ação" tão repentinamente. Ele não gostava de mostrar para os outros que era uma pessoa boa. Talvez fosse aquele mais repetido clichê, não só em histórias, sobre uma pessoa que se tornou fria por conta de uma desilusão ou traição no passado.

Eu também sofri muito por paixões. Acredito que até conhecer Yifan, eu não tive meu primeiro amor. Claro que eu gostava de alguns meninos aqui e ali, mas nada era muito sério. Nem um deles me fez chorar quando rejeitou minha confissão. Eu fiquei triste, sim, e meu orgulho foi ferido, mas eu nunca derramei sequer uma lágrima por qualquer garoto ou homem que fosse.

E desde aquele dia que ele apenas me ofereceu ajuda para levantar, tentei me aproximar dele. Aos poucos, senti que ele foi se abrindo mais. Quando digo aos pouco, foi bem aos poucos mesmo. Demorou-se dois anos até ele me dizer o motivo de ser tão quieto daquele jeito. E descobri que na verdade não tinha um motivo. Ele só era quieto mesmo. Só gostava de ficar na dele e as pessoas o interpretavam como uma pessoa "do mal".

Nos tornamos amigos e meu amor por ele aumentava cada dia mais e mais. Aquele sentimento tão incômodo, mas tão bom ao mesmo tempo que eu sentia quando ele sorria, estava me sufocando. Toda a coragem que juntei durante esses dois anos foram parar naquelas palavras. Palavras essas que mais pareciam um discurso e que não me lembro nem da metade. Mas com certeza, eu falei aquela frase. Aquele "eu te amo" que as pessoas gostam de ouvir. Apesar de sempre demonstrar meu carinho e afeto por ele, talvez ele pensasse que fosse normal, pois nunca teve como amigos pessoas "tão carinhosas" como eu.

E ele me disse que tal confissão foi muito repentina. Ele só podia ser cego! Foram dois anos me importando e cuidando dele. Dois anos cutucando aquele coração que ele insistia ser de pedra. E eu insisti. Eu lutei para ganhar seu amor por quase mais dois anos, mas parece que não foi suficiente. Quase dois nos se passaram outra vez e ele ainda não tinha me dado uma resposta concreta. Imaginei que, por ser uma boa amiga, ele não queria me magoar. Mas eu não queria sua pena, queria seu amor.

LiarOnde histórias criam vida. Descubra agora