DREAM - THE PAST IS GONE

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Não sabia a quanto tempo exatamente estava acordada, revirando na cama sem conseguir pregar os olhos, ansiosa demais para conseguir relaxar. Minha vida adulta começaria hoje, exatamente ao 12:00, quando eu pegasse aquele avião para Providence, Nova Inglaterra.

Quando resolvi que já estava cedo o suficiente para que meu pai estivesse acordado, vou tomar banho, onde aproveito para reorganizar minha agenda mentalmente e puta merda, eu realmente ganhei uma bolsa na Universidade Brown! Eu não consigo acreditar que todos esses anos me matando de estudar horas e horas por dia realmente tinham dado certo, eu devia estar num sonho. Um sonho muito bom.

Percebo que a água do chuveiro começou a ficar fria e o desligo saindo do banheiro já com uma calça jeans que tinha ganhado do meu pai de aniversário e uma camiseta verde musgo quando o ouço bater na porta. "Entra, pai, estou só colocando as botas." grito para ele pegando meus coturnos pretos e os calçando por cima das meias que tinha pego na gaveta.

Ele fica me olhando por algum tempo e acaba sorrindo, como se não fizesse noção do que estava fazendo, o que me faz sorrir também. "Já terminou de arrumar as malas, filha? Bom, nã-não precisa levar tudo, pode deixar roupas aqui, sabe disso, não sabe? Oxford ainda vai ser sua casa." Percebo que isso o deixa nervoso e termino de amarrar os cadarços.

"Eu sei, tem mais roupa aqui do que na mala." O observo de soslaio enquanto termino de pentear meus cabelos -Ele diz que se parecem com os da minha mãe. Cor de mel, de uma selvageria que é quase impossível doma-lo, mas enquanto minha mãe costumava usa-lo no ombro, o meu batia quase na cintura.- "Vou estar logo ali, pai. Vai ficar tudo bem, e além disso, o campus fica perto da fraternidade do Kai."

"Estou orgulhoso de você, sabe disso. Desde a primeira vez que te vi abrir esses olhinhos, iguais ao do seu avô, soube que seria como ele. Você sabe o que quer e luta por isso, sua mãe ficaria orgulhosa." Sei que ele está prendendo o choro, eu também estou. "Vamos, o café está pronto, ou então vai se atrasar para o vôo." Desço as escadas em silêncio ao seu lado, ele não é do tipo muito falante, mas sei que me apoia, sempre apoiou.

     "Você se superou no omelete, não saiu nem um pouquinho queimado, está ótimo." Sorrio depois de terminar o segundo prato e mesmo ele não sorrindo de volta, percebo que ficou satisfeito com o elogio. Sei que ele deve estar com medo por mim, tenho 19 anos e já estou indo morar sozinha em uma outra cidade, mas sei também que ter meu irmão lá o deixa mais tranquilo. Mas o que realmente me deixa com medo é que dessa vez não vai ter ninguém para ficar com ele, se ao menos ainda tivéssemos a mamãe...

     Escovo os dentes no banheiro de baixo e espero meu pai descer com as malas repassando mentalmente se tinha pego tudo o que precisaria, mas o que vem na minha cabeça são apenas 3 coisas: patins, filmadora e documentos. E com certeza eu tinha pego todas elas.

     Depois de quase perder o vôo embarco apressada e me dirijo a poltrona na janela, bem ao lado de um senhor de aparência amigável. Mas estava tão nervosa e animada que não conseguia me concentrar em nada por muito tempo, então apenas coloco os fones e espero até estarmos pousando. Graças a Deus, não aguentava mais ficar sentada sem poder fazer nada para diminuir o frio na barriga.

     Desembarco do avião e assim que pego minhas malas meu celular toca e a tela se acende mostrando o nome.

     "Kai Lavely, juro que se não estiver aqui eu te mato." Faço uma pausando refletindo. "Melhor, o papai te mata." Acho graça disso, eu já estava com saudade de discutir com meu irmão mais velho. -Não tão velho assim, apenas 4 anos de diferença, mas todo mundo pode jurar que é ele quem tem 19 anos.-

     "Elie, eu também estou cheio de saudade, mas aconteceu um emprevist..."

     "Sem essa, Kai." O corto no meio da frase, ele sempre inventava desculpas quando esquecia de algo e não queria assumir, era típico dele.