I remember being young and so brave
I knew what I needed
I was spending all my nights and days
Laid back day dreaming
Look at me I'm a big girl now
Beyoncé – Grown Woman
Se dois meses atrás alguém me dissesse que eu estaria num avião voltando para Maryland, eu diria que essa pessoa deveria parar de beber e se internar. Essa não era nem uma possibilidade na minha vida, essa ideia não era cogitada nem nos meus desejos mais estranhos. A verdade é que eu não contava com dois problemas que surgiriam na minha vida semanas depois:
O primeiro e mais grave: o problema de saúde repentino do meu pai. Quando um senhor de 67 anos sofre um infarto, todos ao seu redor ficam em estado alerta, caso algum problema mais grave venha a acontecer.
O segundo e mais vergonhoso: a traição do meu "namorido"/sócio. Meu mundo desabou na minha cabeça, quando eu entrei no nosso restaurante e o vi embolado com a nova sous-chef, muito bem recomendada, que eu havia acabado de contratar. Quando admiti uma jovem de 25 anos, não imaginei que estaria trazendo o perigo para dentro do meu próprio território. Porque me trair dentro do meu restaurante é ainda pior do que fosse na minha cama. Também não imaginei que ela levaria o "sous" tão a sério e iria parar bem debaixo do meu Leornard. Talvez os sete anos de diferença entre eu e a nova 'senhora Manson' falassem mais alto que os dez anos que relacionamento amoroso e profissional que tínhamos.
Agora eu estou aqui, me despedindo de tudo o que construí em Nova York nos últimos treze anos e voltando para a minha cidade natal, a bela, pacata e esquecida Frederick. Só que eu precisava esconder a minha frustração de voltar para casa, pois meu pai está se culpando por isso desde o dia que avisei que estaria me mudando de volta. Tudo bem que ele tem uma "parcela de culpa", mas não é o único motivo. O Provença é um restaurante respeitado em Nova York, eu e Leornard já havíamos aparecido dezenas de vezes em revistas de culinária, programas de tv e recebido diversas críticas excelentes dos nossos serviços e, principalmente, da nossa comida. Só que o acontecido se tornou público e eu não sou mulher de engolir o orgulho e aceitar uma traição só para manter as aparências. Então o problema de saúde do meu pai caiu "como uma luva" para acelerar meu processo de mudança. Recomeçar em Nova York seria difícil, já em Frederick parece que será bem mais fácil. Ou não. As coisas não tem sido fáceis pra mim de qualquer forma.
Depois de um pouco mais de duas horas de voo, busquei minha bagagem e me encaminhei para o setor de desembarque. Tentei encontrar meu irmão em algum lugar, mas não tive muito sucesso. Fiquei calculando quando tempo e dinheiro gastaria se pegasse um táxi de Baltimore até Frederick. O percurso dura cerca de uma hora, talvez um pouco mais. Resolvi que esperar meu irmão atrasado chegar, seria melhor para o meu bolso recém-separado.
Quando você abre um negócio com alguém e tem direito a metade dele, as coisas se tornam bem complexas quando você resolve vender. Assim que descobri a traição do Leornard, eu sabia que não poderia conviver no mesmo lugar que ele, pois era claro que eu não teria mais pleno respeito dos meus próprios empregados. Afinal, todos foram testemunhas do que eu presenciei naquela cozinha. Então a minha primeira providência foi procurar um advogado que pudesse me ajudar a vender meus 40% do restaurante. Minha ideia inicial era vender para o próprio Leornard, assim ele poderia afundar sozinho, sem levar ninguém, a não ser a pequena sous, pro buraco com ele. Mas após a primeira oferta que ele me fez, eu sabia que ele estava querendo me enrolar. Aparentemente, depois de dez anos, só me trair não era o bastante para ele, "roubar" parte do dinheiro que me pertencia parecia bom o bastante. Talvez tudo isso que ele aprontou no curto espaço de três semanas tenha sido o fato primordial para tirar qualquer sentimento bom que eu ainda poderia nutrir por ele. Para um homem de mais de quarenta anos, Leornard se mostrou mais irresponsável e menos maduro do que um rapaz de dezessete anos. Eu já sou uma mulher crescida, poderia lidar muito bem com uma separação, não morreria por isso. Mas depois de tudo, eu não queria morrer, queria matar. Matá-lo, para ser mais exata. Então depois de abrir meus olhos, minha advogada, a senhora Jackson, me aconselhou a dividir o percentual que me era cabível e vender separadamente. Assim Leornard teria mais dificuldade de comandar tudo com mão de ferro, já que ele não seria sócio majoritário tendo 40% das ações. Caso os compradores se juntassem numa decisão, as coisas poderiam ficar bem complicadas. Os 20% restantes cabiam a uma conhecida nossa, que nos ajudou com um montante quando resolvemos abrir o negócio. Porém, quando já havia decidido dividir os lotes e vender separadamente, recebi a visita de Molly, a nossa financiadora inicial, dona dos 20%. Ela veio me confortar pela traição e conversar sobre meus planos quanto ao restaurante, já que havia chegado aos ouvidos dela que eu estava vendendo minha parte. Então eu expliquei a ela o que planejava fazer, mas a sua resposta foi a melhor possível:
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Grown Woman
Short Story"- Como as pessoas reagiriam em saber que eu estou envolvida com um rapaz que tem idade para ser meu sobrinho? - perguntei, sem pensar, percebendo que havia falado demais logo depois. - Então se você já está envolvida. - ele comentou, puxando meu co...