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XXI. Volta a Ser Homem

Ao ouvir tal coisas, a jovem disse:

— Tende coragem e parai de chorar, pois a cura de vossos males está muito próxima, em vossa morada. Eu era leprosa, mas após haver visto essa mulher e a criança que está com ela e que se chama Jesus, e após haver derramado sobre meu corpo a água com a qual a sua mãe o havia lavado, eu me curei. Eu sei que ele pode pôr um fim à vossa desgraça. Levantai-vos, aproximai-vos de Maria, conduzi-o aos vossos aposentos, revelai-lhe o segredo que acabais de me contar e suplicai-lhe piedade.

Ao ouvirem tais palavras proferidas pela jovem, elas se apressaram em ter com Maria. Levaram o multo até o quarto e lhe disseram, chorando:

— Maria, Nossa Senhora, tem compaixão de tuas servas, pois nossa família está desprovida de seu chefe e não temos um pai ou um irmão que nos proteja. Este mulo que aqui vês é nosso irmão. Algumas mulheres, com seus encantamentos, reduziram-no a este estado. Rogamos-te, pois, que tenhas piedade de nós.

Maria, comovida e chorando como as mulheres, ergueu o menino Jesus e colocou-o sobre o dorso do mulo, dizendo:

— Meu filho, cura este mulo através do teu grande poder e faze com que este homem recobre a razão, da qual foi privado.

Nem bem essas palavras haviam saído dos lábios de Maria e o mulo já havia retomado a forma humana, mostrando-se sob os traços de um belo rapaz. Não lhe restava nenhuma deformidade. Ele, sua mãe e suas irmãs adoraram Maria e, erguendo o menino acima de suas cabeças, beijaram-no, dizendo:

— Feliz de tua mãe, ó Jesus, Salvador do mundo! Felizes os olhos que gozam da felicidade da tua presença.

XXII. As Bodas

As duas irmãs disseram à mãe:

— Nosso irmão retomou a forma primitiva, graças à intervenção do Senhor Jesus e aos bons conselhos dessa jovem, que nos sugeriu recorrer a Maria e ao seu filho. Agora, já que nosso irmão não está casado, pensamos que seria conveniente que ele desposasse essa moça.

Após haverem feito este pedido a Maria e haver ela consentido, fizeram para as bodas preparativos esplêndidos. A dor transformou-se em alegria e o choro cedeu espaço ao riso. Elas só fizeram cantar e regozijar-se, enfeitadas com magníficas vestimentas e jóias preciosas. Ao mesmo tempo, entoavam cânticos de louvor a Deus, dizendo:

— Ó, Jesus, Filho de Deus, que transformaste nossa aflição em contentamento e nossas lamúrias em gritos de alegria!

José e Maria lá permaneceram por dez dias. Ao partirem, receberam demonstrações de veneração de parte de toda a família, que despediu-se deles chorando muito, principalmente a moça que se desfazia em lágrimas.

XXIII. Os Salteadores

Chegaram, em seguida, a um deserto. Como lhes haviam dito que era infestado de ladrões, prepararam-se para atravessá-lo durante a noite. Eis que, de repente, avistaram dois ladrões que dormiam e, perto deles, muitos outros ladrões, seus companheiros, que também estavam entregues ao sono. Esses dois ladrões chamavam-se Titus e Dumachus.

O primeiro disse ao outro:

— Eu te peço que deixes estes viajantes irem em paz, para que nossos companheiros não os vejam.

Tendo Dumachus recusado, Titus disse-lhe:

— Dou-te quarenta dracmas e fica com meu cinto como penhor.

Deu-lhe o cinto e, ao mesmo tempo, pediu que não desse alarme. Maria, vendo esse ladrão tão disposto a servi-los, disse-lhe:

— Que Deus te proteja com sua mão direita e que ele te conceda a remissão de teus pecados".

A INFÂNCIA DE JESUS SEGUNDO PEDROOnde histórias criam vida. Descubra agora