Eu ainda estou aqui

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Eu estou bem perto do meu fim.

E eu me sinto bem, sim, eu estou bem em relação a isso.

Eu sinto como se a hora da minha libertação estivesse chegando, cada vez mais próxima, e isso é bom.

Meu subconsciente já planejou tudo.
Eu estou bem. Relativamente bem.

Câncer.

Dizem que quando você está nos últimos dias de um câncer terminal, você tem um último dia bom, o último dia bom antes do seu fim.

Eu estou no meu dia bom.

Eu tenho remédios na minha mochila, muitos remédios.

Eu pretendo acabar com eles hoje.

Mas o telefone tocou, e eu já tenho idéia de quem seja.

Ela me traiu.

Ela vai contar tudo para os meus pais, ela vai fazer ele me revistar novamente. Não sei porque confiei nela, eu sempre acabo contando tudo, ela me induz a isso, ela me manipula.

Ela não devia ter feito isso.

Gritaria.

É só o que escuto, muitas vozes misturadas, estou tonta e parece que o oxigênio sumiu.

Olá, ansiedade.

Estragaram meu plano, meu dia bom acabou e a melancolia voltou. Adeus liberdade.

Estou fadada a viver, mesmo sendo a ultima coisa que eu quero.

Eu odeio minha vida, odeio ser doente.

225 palavras até aqui.

Eu não aguento mais.
Mas isso é só o começo.
O começo do meu fim.

Mas eu ainda estou aqui, infelizmente, ainda estou aqui.

Eu só queria acabar com essa droga de vida.

Ninguém vê que, me manter aqui, não me faz bem? Eles só me obrigam a continuar existindo, porquê não aguentariam arrastar o fardo de ter uma filha suicida.

Todos iam saber que minha família não é perfeita, que eu sou errada, que eu não aguentava mais viver com aquelas pessoas.

Por isso permaneço.

Não, não é por isso.

Mas amanhã é outro dia, infelizmente, ou felizmente, é um dia de novas chances.

E novas tentativas.

Isso não é um livro.Where stories live. Discover now